Pedro, a Pedra e a cidade.
(Especial para ojornal Tribuna do Planalto; publicada na Edição de 20/10/07 - http://www.tribunadoplanalto.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=4378&mode=thread&order=0&thold=0)
Pedro Ludovico foi posto no poder, em Goiás, em 24 de outubro de 1930, e o informe de sua nomeação, pelo vitorioso Getúlio Vargas, logo após “amarrar os cavalos no Obelisco”, veio
A tomada do poder, nas pedras da vetusta Vila Boa, não foi plácida como um mar de baía, não... Houve resistência. O novo governante notou que a cidade não oferecia condições de melhoria nem de expansão. Era preciso uma nova capital.
“Fiat”: faça-se. E se fez. E o começo se deu exatos três anos após: em 24/10/1933, a Pedra Fundamental de Goiânia. Desde então, tudo se repete: a cidade imaginada para conter cinqüenta mil pessoas extrapolou os primeiros limites. A antiga Campinas tornou-se bairro e, entre os dois pólos, desenvolveu-se uma trilha de avenidas e ruas... Esses bairros esticaram-se para os quatro pontos cardeais. Migrantes de todo o país trouxeram suas culturas de comidas e falas. E veio Brasília, desde
Vamos ler nos jornais, e ouvir das rádios e tevês, a indefectível afirmativa: “planejada para cinqüenta mil habitantes...”. Vamos ver imagens de verde e de flores em cores, depoimentos otimistas de moradores nativos e adventícios, todos cheios de alegria e esperanças (inevitável: aniversário é tempo de alegria e otimismo, uai!). Mas haverá também os chatos a exigirem mais providências, mais ações de governo. Não basta o asfalto, é preciso esgoto de chuva e sanitário; não bastam salas de aulas, carecemos de bons professores, bem remunerados; não bastam sinais luminosos de alta tecnologia, é preciso que sejam respeitados. E não bastam multas de trânsito, queremos disciplina.
Penso nisso e caminho por aí. Ora de carro, ora a pé... Percorro vias e namoro fachadas. Gosto de ver o toque em “art decó”, mas gostaria mesmo que a cidade imitasse São Paulo e removesse cartazes e placas que ocultam a arquitetura. E que se plantassem mais árvores, novas árvores, de modo que nenhuma outra monguba caia sobre os automóveis nem que as cores dos jardins públicos não se limitassem ao verde das folhagens.
Subo a Rua Sete, no Setor Oeste; ultrapasso o contorno da Praça Tamandaré, a rua se curva ao traçado do projetista e atravessa a República do Líbano... Mas não é mais a Rua Sete e, sim, a Rua Cinco, em curva simétrica; e a Rua Cinco desce paralela à Rua Sete, até seu limite na mesma Avenida Alfredo de Castro onde começou a Sete...
Escrevi num poema, há alguns anos: “Aqui as paralelas se encontram: / Goiânia é cheia de infinitos”. E aqui, as praças não caem na tradução simplista do Inglês “square”, pois as nossas praças são, como a parisiense “Place d'Etoile”, circulares, e em profusão no Parque Amazônia, onde quase sempre me perco por achá-las muito iguais. Nas calçadas, churrasqueiras recendem o espetinho saboroso; nos bares, murmúrios de luz e alegria, um “parabéns” infalivelmente desafinado; nalgum palco de botequim, um cantor canta bossas e um poeta derrama versos de revolta, ou de amor (que ainda se ama por aqui).
Olho ao alto. Agradeço e peço licença... Licença aos céus para continuar vivendo; ou sendo. Dizem que é pecado, mas o que é o não-pecar, se padres e pastores conseguem ser menos cristãos que os monges do Dalai Lama? Aqui e alhures, porque minha cidade é mais que algum lugar: é Goiânia, uma síntese brasileira. De dores e de cores; de vícios e amores; de pecados...
E de flores, uai!
2 comentários:
Tenho muita vontade de conhecer Goiânia, caro Luiz.
Você só fez crescer meu desejo com esta crônica.
Um abraço
Maria Lindgren
Gostei,Luiz!
Vim para cá pequenininha ( não vale perguntar em que ano, pra não ter de fazer conta...) Mas, como você, amo esta cidade , onde a vida trata bem a gente...
Abraço
Mariza
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