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domingo, março 16, 2008

Pelos 28 anos do Diário da Manhã (Goiânia)...


Eu, em 1979, entrevistando Aldo Arantes
para o "Cinco de Março"

Parece que foi ontem


A frase é pobre, gasta e duvidosa. Tornou-se uma “força de expressão”, em lugar de equivaler ao que realmente se quer dizer: parecer, mesmo, que aconteceu ontem o que se recorda agora, 28 anos depois.

O “Cinco de Março” era um semanário que, por vinte anos, sacudiu e incomodou as consciências políticas que preferiam os pactos da madrugada e das portas fechadas em lugar da explanação transparente de seus atos. A redação ficava na Avenida 24 de Outubro, em Campinas (o bairro que era cidade antes da construção de Goiânia). Funcionava no que, em Goiás, chamamos de barracão, mas era uma construção ampla que abrigava não só a redação como, também, a impressora.

Barracão, como sabemos, é o apelido que damos a uma construção nos fundos do terreno; no caso do “Cinco de Março”, o extenso trecho entre o portão de entrada e a construção era ocupado como estacionamento. Mas, em janeiro daquele 1980, deu-se início a uma nova obra que ocupou toda a parte disponível do imóvel: era a redação do “Diário da Manhã”. Simultaneamente, formava-se o corpo de jornalistas do novo diário, e várias edições experimentais eram feitas como se o jornal, efetivamente, fosse às bancas no dia seguinte.

Eu era da editoria chefiada por Marco Antônio Silva Lemos no “Cinco de Março”, onde, no segundo semestre de 1979, assinei matéria de páginas centrais (duas páginas, sim!) sobre as invasões imobiliárias. Foi a primeira vez que apareceu a expressão “invasões milionárias” para os imóveis da Rua 115.

Fui com Marco Antônio Silva Lemos para o DM. Estreamos em 12 de março e, nessa data, já constituíamos a mais expressiva equipe de jornalistas jamais constituída por aqui. Eram nomes locais de muito peso profissional, que se somaram a vários colegas de renome nacional. Entre os assinantes de colunas de crônicas e artigos, só para ilustrar, tínhamos Jânio de Freitas e Carlos Drummond de Andrade. E nós, os mais jovens, pouco experientes ou mesmo ainda focas, ganhamos a oportunidade de nos sentir colegas de gente tão famosa.

Carlos Alberto Sáfadi, Jairo Rodrigues, Raimundo Filho, Luiz Augusto da Paz, Wilmar Alves, Jorge Braga, Valterli Guedes, Servito Menezes, Lorimá (Mazinho), Paulo (Phaulo) Gonçalves, Shirley Camilo, Hélio Rocha... A fina flor do jornalismo local, a quem se juntaram, a convite do Batista, Marco Antônio Coelho, Aloísio Bionde, Washington Novais... Claro que omito muitos nomes, não há espaço para todos. Consuelo Nasser e Eliezer Penna continuaram no “Cinco de Março”, que permaneceu até agosto.

Jornal novo, nome forte, volumoso e cheio de coisas para se ler. Tinha Oscar Dias e João Bennio, também. Até aquela época, pelo menos, jornalismo era profissão de pessoas com vocação para o texto, para os fatos e, sem dúvida, pelas emoções. O Diário da Manhã ofereceu-nos sempre todos esses ingredientes. Nossas matérias ganhavam repercussão nacional e tínhamos orgulho de cuidar, com esmero, da qualidade dos textos e da fidelidade aos fatos, além de divulgar as mais sérias análises pelos que constituíam a nata da equipe.

Emoções, desafios, conquistas, vitórias; uma ou outra batalha perdida, o processo constante de renovação, o aprendizado prático para centenas de jornalistas neófitos nestes 28 anos... Ah, sim! Sem dúvida, vivemos a história do jornalismo neste Planalto Central, história esta iniciada, coincidentemente, num 5 de março, em 1830, na vetusta Meia-Ponte que é hoje Pirenópolis.

Quem sabe Batista Custódio (foto) reencarna o comendador Joaquim Alves de Oliveira, criador da “Matutina Meiapontense”? Ou, se é fato que repetimos vidas (e experiências), o padre Luiz Gonzaga de Carmargo Fleuri, seu redator-chefe. Eu não terminaria essas divagações, mas o espaço é tácito.

Finalizo em regozijo por fazer parte daquela equipe pioneira. E por continuar nos quadros do DM.

4 comentários:

Madalena Barranco disse...

Olá querido Luiz, obrigada por dividir essa história tão bonita, onde descubro que sentir nostalgia junto com suas palavras faz bem ao presente, que sorri para o passado de um cinco de março especial. Que honra conhecer figuras tão ilustres como o Carlos Drummond! Beijos e uma ótima semana.

Anônimo disse...

Oí Luiz de Aquino, que belo presente nos foi dado por você
ao contar-nos com suas palavras inteligentes e bem colocadas o passado do semanário "Cinco de Março" e o nascimento bem sucedido do "Diário da Manhã".Você nos dá a conhecer que o DM se fez grande porque nasceu tendo em seus quadros uma galeria de ilustres colaboradores (locais e nacionais),
jornalistas,crônistas, repórteres e fotógrafos.Bem poeta, se repetimos várias vidas eu também não sei, mas de uma coisa estou certa, você, com sua palavras nos fez viver ou reviver, novamente, com uma certa e gostosa nostalgia alguns acontecimentos; e despertando também saudades de muitas pessoas
ilustres e competentes que estavam "adormecidas"em nossas mentes e corações.

"Finalizo em regozijo por fazer parte daquela equipe pioneira. E por continuar nos quadros do DM"

Luiz, o seu regojizo é também nosso
por termos você escrevendo no DM por tanto tempo para a nossa leitura, novos conhecimentos e grande deleite.

Parabéns a você!!!
Parabéns ao Diário da Manhã pelos seus 28, parabéns por seu corpo jornalístico e por manter diariamente os leitores goianos e os de outros estados tão bem informados.

Leida Gomes

Anônimo disse...

Posso imaginar a sensação desafiadora de criar um novo jornal, o Diário da Manhã.Tudo começa por se determinar a linha editorial, como negociar isso, ver o cerne da diagramação, a cara que terá o novo veículo, os recursos técnicos, os repórteres, e ainda dar recursos para construir uma edição diariamente.

Quando você diz "Até aquela época, pelo menos, jornalismo era profissão de pessoas com vocação para o texto, para os fatos e, sem dúvida, pelas emoções", concluimos que hoje os jornalistas formados não têm essa vocação. A profissionalização faz-se necessária em vista da grande concorrência, e exietência de muitas mídias. É um assunto que não se acaba. Há muito se discute se para escrever uma notícia é preciso ter o diploma de Jornalismo. Alguns dos meus colegas, consagrados chefes de sucursais importantes, e com livros publicados, estão cursando a academia, mesmo tendo outras faculdades anteriores, para dar o exemplo aos mais novos. Mas esse é assunto para outro dia. Bom contar como foi o começo de tudo no DM.

Mara Narciso

Anônimo disse...

Caro Luiz é muito bom ter memórias que nos deixam saudade.. Um bj e Feliz Páscoa.