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quinta-feira, maio 22, 2008



Esperando Gabriel

Daqui a pouco mais de um mês, comecinho de inverno, vai nascer meu neto Gabriel. Seria meu terceiro neto, se a menina Inessa não nascesse de um aborto espontâneo naquele quinto mês, para tristeza de Fernando e sua noiva Fernanda. Ficou-nos a mágoa inteira, tanto pela criança que não sobreviveu quanto por atitudes anti-humanas da direção de então da Santa Casa de Goiânia (muito apropriadamente, a palavra misericórdia não aparece no nome).

Neste último decanato de maio, em plena zona tropical brasileira, um arremedo de outono deixa sua marca. Neste Brasil de campanhas e escândalos políticos, os anos pares são eleitorais, e os excessos aparecem... Multam-se pessoas que expuseram-se em cartazes de rua sob a alegação de que podem vir a ser candidatos à Câmara; e se não o forem? A sociedade sabe que alguns trabalhadores expõem seus rostos a título de propaganda profissional. A multa deve ser aplicada quando se configurar a candidatura; ou melhor, deve o TRE rejeitar a candidatura de quem se divulgou antes como pretenso candidato, ou corre o risco (o TRE) de cair no ridículo.

Enquanto isso, na sacada da minha morada os vasos com flor-de-maio enfeitam-se em botões. A azaléia perdeu as flores, as folhas absorvem a seiva com sede de sobrevida. Nas ruas em torno, o transtorno do trânsito que a repartição pára-militar de um coronel aposentado transformou em caótico, para desespero da vizinhança. Não para mim: vivi a vida em torno de comunicação, vendo e lendo e ouvindo e criando textos; por dever de ofício, aprecio as ações e sei que nenhum momento é melhor que este, o das obras, para justificar a despesa com a construção de um viaduto. Os congestionamentos tomavam menos de dez minutos a qualquer motorista (os motociclistas não param nos congestionamentos), mas é preciso justificar a obra; se antes não havia o caos, que se crie agora o caos. E “alea jacta est”.

E ainda enquanto tudo isso, curto a expectativa da vinda de Gabriel. Ele será, pois, o meu terceiro... Não: o segundo neto. Melhor não recordar Inessa que, se for da vontade da espiritualidade, ainda virá. Entre Luiz Henrique e ele, vão-se doze anos. Pena que meu filho Léo e sua Ethel vivam tão distante e não se disponham a voltar à terra pátria. Acho que vou demorar a conhecer essa criança...

Mas é este um tempo de transição no Brasil dos trópicos. Ethel, brasiliense, e Léo, goianiense, hão de recordar bem como fica o tempo, nesta época. O ar seco se resfria à noite e aquece-se sob o sol, causando-nos problemas ditos respiratórios; como laringite, resfriado e até mesmo gripes, sem contar com as alergias várias. Mas a flor-de-maio floresce... nas ruas, as quaresmeiras mostram menos encanto, mas resistem (estranhamente, estão floridas desde janeiro do ano passado! Será essa mais uma manifestação das transformações climáticas?). As buganvílias também fazem sua festa de muitas cores e há a espera pelo róseo feliz das paineiras barrigudas.

Neste Brasil, meus queridos Ethel e Léo, as pessoas festejam os campeonatos de futebol e as demais práticas esportivas. Pululam as festas da nossa gente alegre e feliz, o pânico do desemprego vai desaparecendo e até mesmo os mais velhos começam a encontrar suas ocupações. Ainda existem os ranzinzas que detestam feriados e dizem que isso “esfria a economia”. Egoístas: estes reclamam da perda de suas próprias vendas (ou da dor da solidão que os afligem, pois não são felizes em família) e esquecem-se de que viajar por turismo aquece a economia dos pontos turísticos. E que é possível, sim, ser feliz em família. Principalmente se em suas famílias houver crianças.

E nas noites, Léo e Ethel, agora sem nuvens, o céu do planalto sequer fica preto... É de um tom meio azulado, muito escuro, além do azul-marinho... Um azul de fundo de mar, as estrelas fazendo as vezes de peixinhos dourados no lento balé das horas que as faz percorrem o céu de leste a oeste. Esta semana, a Lua Cheia brincou de baleia e nos trouxe alegria.

Afinal, o que vocês ainda fazem aí? Venham de volta! Gabriel há de ser ainda mais feliz se nascer nesta Pátria Goiás Planalto Central.

10 comentários:

BlogR disse...

Dileto amigo! Considerando a experiência expressa de minha mãe, ouso-lhe dizer que você tem três netos, independente do retorno proto precoce (vixe!!) da sua neta. Karma de quem? Sei lá. Minha mãe pariu quatro, mas hoje, aqui na Terra, somos três. Entretanto, quando lhe perguntam quantos filhos têm (no presente), ela, sem titubear e com extrema alegria a lhe iluminar o semblante, responde: quatro. E ponto final.
Um beijo na alma e um ótimo descanso.
Carla Monteiro.

Mara Narciso disse...

Com essa linda chamada, seu filho, nora e neto não resistirão. Muito em breve cá estarão para festejá-lo, avô-poeta. De quebra nos conta sobre as flores, o trânsito e momentos de dor, numa mistura típica dos seus ótimos períodos de inspiração. Já quero ver logo o rosto de Gabriel. E que tenha muita saúde!

Anônimo disse...

Maria José Lindgren Alves




Parabéns pelo neto. Ótima crônica. Aí vai meu blog de
estréia. É simples, mas estou contente.
Maria Lindgren

mariajose.lindgren.blogspot.com

Anônimo disse...

Oi poeta, parabéns pela crônica e pela chegada do Gabriel. Que ele venha como anjo realmente para aalegrar a vida de todos vocês

Alda Inácio disse...

Meu amigo Luiz de Aquino estes netos são as coisa mais lndas das nossas vidas. Parabens por mais um e veja que no mês de março nasceu minha última neta de 7 meses aí em Goiânia. Imgina você, que desepro eu passei aqui do outro lado domundo sem poder dar um apoio para minha filha!
A Jordaninha nasceu com 1 quilo e 10 gramas e ficou no hospital até a semana passada quando alcançou 1 quilo e 600 gramas e pôde ir para a casa.
Deixo aqui o meu abraço sempre cheio de saudade de Goiânia.
Bjs
Alda

Anônimo disse...

Seja bem vindo, Gabriel!Vai fazer páreo com Luiz Henrique?
Parabéns vovô! pode babar, é um direito seu.

Madalena Barranco disse...

Querido Luiz,

Que alegria saber que seu neto está a caminho! Sua crônica é uma carta de esperança sob um céu límpido e enluarado, ao mesmo tempo em que é uma doce homenagem à Inessa.

Beijos extensivos aos futuros pais.

Leonardo Aquino disse...

Amado, pai! Nao me traz palavras, para tamanha emocao e agradecimento da linda cronica. Entao, muito obrigado de nos trez!Talvez, sim, estaremos unidos mais depressa do que pensamos. Pai, filho, nora e neto, unidos com a graca de Deus!

Marluzis disse...

Luiz, com essa maravilhosa crônica, você trará de volta Léo, Ethel e muitos outros brasileiros que habitam fora do Brasil e amargam a dor da saudade.

Entre várias outras coisas, o Gabriel chegará também num período de muitas festas aqui no nosso Brasil. Interessante você situá-lo na história e nos acontecimentos, no período de seu nascimento, isso fará com que ele entenda melhor o mundo a sua volta e o fortalecerá.

Independentemente do hemisfério que ele vai nascer, que venha para o nosso planeta com muita garra e muita saúde e conheça logo esse avô amoroso que tanto o aguarda. Parabéns!

Unknown disse...

Luiz, muito lindo!
O Gabriel já vai chegar todo orgulhoso do avô, pode apostar!
Abraços grande,

Irani