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segunda-feira, outubro 12, 2009

Inteligência ou silicone

Inteligência ou silicone


Luiz de Aquino


O noticiário, em vários veículos eletrônicos e impressos da mídia brasileira, dão-nos conta de que o Brasil, hoje, é o segundo país do mundo em cirurgias plásticas, perdendo apenas, e obviamente, para os Estados Unidos. Existem páginas na Internet que difundem com otimismo a prática e buscam estimular as pessoas a aumentarem seios e bundas, modificar narizes e pálpebras e outros procedimentos no gênero.

E dá certo! Já são mais de setecentas mil cirurgias ao ano. Silicone se vende em dez suaves prestações no cartão de crédito e o sonho de uma cara ou pernas bonitas justificam o sacrifício na conta do supermercado. Ou a eliminação de itens “dispensáveis”, como os custos com a educação.

Pois é! Nada de escola, porque livros custam caro. Nada de leitura, porque jornais e revistas custam caro. Nada de aprender, porque aprender é chato. Então, vamos fazer um consórcio, ou uma conta de poupança, vender o carro 2003 e comprar um 1997 e pagar a cirurgia. Riscos cirúrgicos? Ah, que bobagem! O doutor Caron foi cassado, condenado etc. e os outros não são como ele.

Nariz adunco é do pai ou da mãe; o “meu”, este ficará fino, arrebitado... Pena que não se faz isso diretamente no DNA. Olhos? A gente muda a cor com lente de contato. Peitos caídos ou pequenos? Silicone neles. Bunda murcha? Silicone de novo. Pernas finas? Silicone. Sulcos na face? Botox. Feito isso, a madame (ou o garanhão, porque tem muito macho cuidando de se transformar também, com cirurgia plástica e depilação a lêiser) se sente estrela! Mas sequer pode sorrir. E, se sorri, fica apenas o som, a expressão facial é a mesma com que a tal (ou o tal) saiu da cirurgia. Na tevê existem muitas (os) a confirmar o que digo.

Enquanto isso, a qualidade da pessoa continua a mesma. O miolo, o conteúdo, o conjunto de informações e processamento é o mesmo de antes, dos tempos do peito caído, do nariz enorme, das pernas finas e da bunda minguada.

Não é radicalismo, gente! Sei que há casos em que é indispensável a cirurgia que transforma o visual, mas o modismo e a elevadíssima incidência é o que me preocupa. Se as pessoas pensassem, cuidariam do próprio interior. É muito melhor estudar, aprender, atualizar-se, envolver-se com novas e velhas gerações, enfim, aprender. O enriquecimento interior possibilita o embelezamento externo. E, melhor, sem perda das referências genéticas. Um feio vai continuar feio após a cirurgia, e somente o sujeito se vê mais bonito (ele/ela e os puxa-sacos que elogiam o novo visual apenas para agradar o amigo ou parente que gastou tanto por nada). Todos estamos familiarizados com o belo e o feio, e acabamos juntando muitas informações sobre as pessoas para qualificá-las de feios ou bonitos. Uma pessoa que bem sabe usar a própria inteligência, essa parecerá sempre bela, sem dúvida.

Mas, infelizmente, acha-se, hoje, muito mais importante que se pareça bonito do que efetivamente mostrar-se belo. As pessoas que dão prioridade às mudanças apenas aparentes sempre serão feios e feias. E, infelizes com a própria existência, depois escolherão migrar-se para outras terras e, já que nada deu certo, praticar seu esporte favorito: falar mal do Brasil.

Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.

E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.



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14 comentários:

Mara Narciso disse...

Entre inteligência e silicone, melhor ficar com os dois. A busca irracional pela beleza ou pela juventude perdida vai dar errado, mas por outro lado deixar tudo cair sem nada fazer para reduzir a velocidade do tempo não me parece boa coisa, em vista do mundo profissional concorrido. Poucos mulheres aceitam não pintar os cabelos, então, algumas atitudes, mesmo que inóquas, precisam ser tentadas. Plástica vicia feito crack, e assim, como conseguir parar?

Fausto Rodrigues Valle disse...

Aquino, gostei muito de sua crônica, também penso assim... Em tempo: De visual novo, quase não o reconheci na foto. Andou "organizando" o ritmo alimentar? Abraço. Fausto

Sônia Lúcia de Carvalho disse...

Luiz, Inteligência ou silicone está muito bom, parabens!

Sônia Lúcia

Anônimo disse...

Luiz, pouco tenho a acrescentar na ideia, concordo contigo. Creio que a humanidade se recusa a envelhecer, amadurecer é preciso. Entre o tingir os cabelos a não conseguir passar as emoções pelo olhar... prefiro rir enrugada nas tropeçadas da vida, com cabelo bem preto, rs, mas com marcas que carregam a minha história. Lutei, ri e chorei demais por elas, talvez hoje minhas marcas não sejam tão visíveis quanto serão daqui vinte anos, mas me orgulho de sorrir e ver meus olhos se comprimindo, acompanhando o que acontece lá dentro, bem fundo no coração.

Luciene Silva disse...

A Essência do ser, esta onde os olhos não vêem.
Conheço tantas mulheres lindas, maravilhosas e tristes.
Tantas feias, felizes, que varias vezes questionei o poeta: será que beleza é fundamental?
Para mim, fundamental é SER FELIZ.

Cirurgias,butox, tinturas, silicone, e lipo, são opções.
E educação é essencial.
Não abriria mão desta deliciosa sensibilidade dos meus seios, por uma aparência mais durinha e arrebitada.
Muito menos, colocar minha vida em risco por uma bunda siliconizada.

Nada contra as que o fazem, porem... Eu leio, eu estudo e entre me arriscar e ser feliz, eu já SOU FELIZ.

Afinal, o velho deitado já disse: Mulheres se arrumam para outras mulheres.

E o que outra mulher pensa de mim, não importa.

Importo-me, em sussurrar belas palavras ao pé do ouvido do meu amor, deixá-lo zonzo com meus carinhos, afinal, no bom mesmo...estaremos de olhos fechados...rsrsrs

Parabéns gostei muito de sua crônica, que bom seria, se as mulheres aprendessem, e os homens aceitassem, que o importante é ser feliz.
Luciene Silva

Anônimo disse...

O texto é no minimo polêmico. Concordo em parte com sua opinião, porém há de convir que uma imagem mal cuidada, mal, relaxada, não é agradável. Os cabelos brancos podem ser tingidos, o rosto pode ser cuidado ( com ou sem plástica ..rs), afinal a vaidade é inerente ao homem! Quando temos o divisor d’águas, sabemos dosar, e a vaidade não intervém na iteligencia, dou preferencia aos dois, pois cuidar de si é uma forma inteligente de se envelhecer.
(Acho que você "catucou" onça (mulheres) com vara curtas...rs)

Isto disse...

Gostei da abordagem, poeta.
O assunto da supervalorização do
corpo, e também da imagem, é tão corriqueira e tão mal solucionada.

Zinah disse...

Oi Luiz, fiquei encantada com seu "cantinho", vê-se que vc escreve com a alma e como uma pessoa que ama este lugarzinho maravilhoso, Pirenópolis. Tenha ceretza que virei aqui sempre, pois é uma forma de matar "saudade"....te admirei pelo seu perfil e te admirarei cada vez mais pelo que vc escreve.... um gd bjo de quem será para sempre sua eterna admiradora. Zinah

Aparecida Ferreira disse...

Boa tarde Luiz, bem pensado e bem escrito o seu comentário. Se as pessoas lessem pelo menos os seus textos poderiam até entenderem que o melhor resultado é estar bem consigo mesmas e não se apossarem de opiniões alhias para gerar lucrus as clínicas e quem sabe criar um outro problema maior prá si mesmo. Bjus. Cida

zinah disse...

Luiz,concordo plenamente com vc, pois o valor da pessoa não está no físico se bonito,se feio, se gordo ou magro, a pessoa é o que é pela inteligência, quantos livros esta pessoa lê no ano, se é capaz de ler um texto e interpretá-lo.... o maior problema hoje é que a mídia faz apologia a coisas vãs e esquece das que são eternas, Digo isso porque sou professora formada em Letras, e deparo com um grave problema: os alunos têm preguiça de ler e interpretar, mas se perguntar a qualquer adolescente se está satisfeita com o corpo a resposta é não, pretendo mudar, fazer cirurgia, implante, qualquer coisa que satisfaça sua vaidade...no entanto, a cabeça continuará fútil num corpo esbelto...

Mara Narciso disse...

Luiz,

Eu também tomo posse de suas ideias, escrevo coisas e não as devolvo. Dia desses falei de troca de livros entre os próprios autores numa feira, e noutro dia vi que você pegou a minha agenda de 30 horas, deu uma ajeitada e usou na crônica.

Passei a ler diariamente a esquina de Tião Martins no Hoje em Dia. Ele comenta primordialmente os e-mails que recebe e fala muito das mulheres em sua grande luta diária: criticar os homens. De vez em quando os homens também têm vez, mas ele gosta mais de dar espaço para as mulheres abandonadas. Ele também fala de si, mas reclama que não dá para falar apenas do próprio umbigo. Ainda mencionou deselegantemente que o umbigo dele não é tão atraente e que mesmo sendo muito lavado não gera um interesse permanente. Então ele visita algum tema difícil das mulheres. Foi um pouco como começou a sua crônica de hoje.

Anexo ao tema do silicone, na Veja, uma reportagem sobre mulheres fortes e poderosas, exalta aquelas que decidiram não pintar os cabelos. Enviei o seguinte e-mail:

De: Mara Narciso
Enviada em: terça-feira, 13 de outubro de 2009 21:21
Para: 'veja@abril.com.br'
Assunto: Elas não passam em branco


Ao Diretor de Redação de Veja,

Quem pensa que plástica rejuvenescedora é um gesto extremo, deveria ver que atitude mesmo tem quem não pinta os cabelos e enfrenta o mundo de madeixas limpas. A conotação de velhice que entregou os pontos é forte demais, assim nos causa admiração ver a brancura dessas recentes revolucionárias.
Mara Narciso
Montes Claros – MG
E-mail: yanmar@terra.com.br

Como eu digo, sou muito opinativa. Tudo que leio quero palpitar.

Bem, é isso!

Boa noite!

Abraço, Mara

Luiz de Aquino disse...

Gostei muito de todas essas reações.
Obviamente, não descarto cirurgias plásticas, tanto as restauradoras (quase que totalmente inevitáveis) quanto as reparadoras (afinal, se cortamos os cabelos e as mulheres se pintam, se pomos brincos e tatuagens, porque não corrigir as "bolsas" sob os olhos?). Meu propósito, aqui, é participar desse esforço de conscientização, pois há pessoas deixando de se alimentar para comprar silicone.
Bem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Obrigado, amigos!!

Sônia Marise Teixeira disse...

Esquisita e exagerada essa preocupação com o exterior, levada às últimas consequências,Sou a favor de pequenas intervenções, desde que não muito invasivas, sobretudo se trouxerem um bom resultado. Bolsas sob os olhos, pálpebras pesadonas ou caidas, por exemplo. Corrigidas, remoçam o visual de forma considerável, sem alterar as feiçoes, os traços, em si. Cara esticada, olhos rasgados à Elza Soares, rosto de Fofão, cheio de substâncias injetadas, bocarras de peixe, peitões redondos, essas coisas, são deformantes e ridículos. Não se deve querer 30 anos sempre, mas ser o melhor possível dentre as demais pessoas da mesma idade. Um pouco de trato no visual sem deixar de lado o cultivo do intelecto seria uma boa receita. Não vale também ser monofocal: só leitura, virtudes espirituais, arte, cultura etc etc, sem um certo verniz que nos dê um ar bem cuidado e agradável aos olhos. Quem se preocupa só com beleza interior é decorador como também quem tem que ter só boa imagem é a televisaõ rs rs rs...Hoje tô a favor do contra!
bj

Wanda disse...

Concordo com você, Luiz.
Em tudo o equilíbrio, não é?
Meninas jovens, com tudo no lugar, estão fazendo cirurgia plástica.
Triste.

Beijo.