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sábado, fevereiro 13, 2010

Escolhas em tempo de Momo

Escolhas em tempo de Momo

Luiz de Aquino


A vida e seus mistérios… Gosto de saber coisas do relógio biológico, isso que rege nosso tempo diário e que os tecnocratas poderosíssimos desrespeitam, impondo-nos esse tal de horário de verão sob a máscara da redução de consumo de energia elétrica. Felizmente, daqui a poucas horas estaremos livres disso. Mas relógio biológico, dizem, dá-nos também condicionamentos para períodos mais longos que o da rotação da Terra. Acostumamo-nos com a rotina semanal das folgas de sábado e domingo, bem como de outros hábitos medidos no mesmo intervalo de tempo (dizem que até mesmo animais domésticos identificam esse lapso em virtude da mudança de hábito nos finais de semana).

Mas vou um pouco além... Vejo, nestas horas em que muitos pontos do País já estão contaminados pela folia de Momo, que o relógio biológico nos condiciona também ao Natal, ao Ano-Novo e à madorna de janeiro e fevereiro, liberando-nos para a tomada dos compromissos do novo ano somente após a Quarta-Feira de Cinzas. Sofremos calados as atrocidades que o horário artificial nos impõe, encerrando as tarefas do dia com o sol ainda intenso; trabalhadores e estudantes saem de casa ainda com as lâmpadas dos postes acesas e o sol vai nascer quando a primeira aula vai a meio.


Momo. Carnaval. Frevo, maracatu, samba e outros ritmos sacodem-nos os corpos e alegram-nos as almas, de Parintins ao Chuí, das mais longínquas fronteiras amazônicas ao Cabo Branco da Paraíba. A Rede Globo mostrou alegres desafios de ritmos e danças carnavalescos, coisas muito típicas do Rio e de São Paulo, tendo por contraponto belíssimos costumes musicais da Bahia, de Pernambuco, do Maranhão e do Amazonas.


Carnaval em Goiânia é retiro. Aqui, o samba carnavalesco fica por conta de teimosos e admiráveis blocos e escolas de samba que, há décadas, insistem para que não morra, entre nós, o carnaval de tradição. Enquanto isso, as cidades goianas dos circuitos das águas (termais e dos lagos hidrelétricos) acolhem a alegria jovial de goianienses e candangos, enquanto Pirenópolis (outra cidade da escolha de brasilienses) busca resgatar o carnaval de suas famílias originais.



A cidade de Goiás, sempre amada antiga capital, investe, ultimamente, no resgate de suasmarchinhas e blocos. Imagino, também, que os corsos logo,logo tomarão conta da cidade, onde faltam, no meu modo de ver a cidade, prosaicas charretes e outros carros de tração animal a dar mais cor histórica à marcante Vila Boa.



Não sei (distraí-me e não vi se está programado) se haverá aquela mostra de música instrumental que trazia a Goiânia nomes de peso da boa MPB, de clássicos e do que entendemos ser a “música contemporânea”, momentos em que desfrutávamos do talento e da criatividade de geniais compositores e instrumentistas. Mas sei que o rock vai rolar, e Goiânia é riquíssima de rock, tal como o é de MPB (haja vista a terceira edição do Goiânia Canto de Ouro, que envolve, ao longo de doze semanas desde o comecinho do ano, algumas dezenas de excelentes músicos, sob a direção dos geniais Carlos Brandão e Luiz Chaffin).


Em suma, para os que evitam a folia existem, pois, o rock e outras efemérides nestes quatro dias de feriado. A Igreja Católica, várias denominações evangélicas e grupos kardecistas promovem congressos e retiros. As rodovias, sabemos todos, estão congestionadas e devem ser percorridas com respeito às leis e à vida (a própria, a de próximos e a de terceiros).

De minha parte, cuidarei bem de descansar, escrever, ler e dedicar-me a mim um pouco mais do que é de rotineiro. Mas deixo a todos os leitores, aos amigos, parentes e mesmo aos desafetos os meus votos de bom descanso, boa folia, bons amores (com dedicação e segurança), boa vida, enfim!

E que, além de Deus, também Momo nos proteja.


Luiz de Aquino - poetaluizdeaquino@gmail.com - é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.

17 comentários:

Mara Narciso disse...

Há maneiras e jeitos diversos de passar todas essas datas e esses feriados. Também abomino o horário de verão, e não entendo, pela mínima economia e imenso incômodo, como insistem em manter essa tortura. Acho que não acaba hoje não, e sim no próximo sábado. E farei o mesmo programa proposto por você.
Feliz feriado!

Unknown disse...

Luiz, veja o texto que resultou ao seguir seu conselho para, nesse masmorrento feriado de Carnaval, descansar e escrever:

O sonho
Era uma noite calma de verão. Uma brisa suave esvoaçava meu vestido.
Nós havíamos deixado a festa lá embaixo e fomos para o convés.
A lua, mansa e quieta, formava uma esteira prateada no mar e vinha iluminar nosso rosto.
Eu podia enxergar claramente seus olhos. Olhos grandes e expressivos que me fixavam firmes, fazendo-me sentir emoções fortes.
Foi então que você me tomou pelos braços e me disse coisas que eu jamais escutara antes.
Nesse momento, o sonho acabou.
Seria pretender muito tornar esse sonho realidade?

Sonia Marise disse...

Oi, poeta!
Li a crônica do carnaval. Bacana. Também ficarei por aqui, descansando. E a foto do blog , aquela do bendito é o fruto?
abração.

Leda(ê) Selma disse...

Bem descontraída sua crônica, Luiz, gostei! Um texto leve, porém, com aquele toque denunciativo e utilitário. Beijocas. Lêda

Unknown disse...

Luiz, já que acatei sua sugestão para aproveitar o feriado escrevendo, veja o que saiu, quando pensei que poderia desfrutar gastando um dinheirinho, também.

Banco e coração
Ao longo da vida duas preocupações me acompanham: ter um dinheirinho no banco e alguém no coração.
Escorada nesse binômio, vou gastando essa vidinha boa de ser vivida.
É bem verdade que já consegui abrir uma conta. De pequena importância. De tão pouca que o banco se viu na contingência de me mandar uma cartinha dizendo que ela estava encerrada. No dizer do gerente, o meu dim-dim nem dava pra cobrir os gastos operacionais.
É bestagem minha acreditar que dinheiro depositado no banco aumenta, cresce, se multiplica igualzinho à felicidade.
É disparate meu fazer associação entre banco e coração, vez que cada um tem função específica: o banco guarda dinheiro e o coração só saudades.

Lílian Maial disse...

Legal, Aquino!
Descubro que Carnaval tem a ver com faixa etária e o que se deseja da vida. É... Há alguns anos eu estaria dormindo de dia, para apeoveitar os bailes e desfiles das madrugadas momescas. Há algum tempo fiz um poema de cinzas musicável, veja:

CINZAS
®Lílian Maial


Era tudo fantasia,
Um festival de alegorias,
Sorrisos que um artista coloriu,
E a mais perfeita solidão a doer.

De repente, o espaço se fechou,
Como num passe de mágica,
Outro cenário surgiu,
A me acenar lá estava você.

Era tão doce a lembrança,
Mas tão real a tristeza,
O seu lugar tinha que ser aqui.

Era tão linda a promessa,
E tão frustrante o final,
Era outro o bloco a desfilar meu Carnaval.

Por breve fração de tempo,
Eu fui feliz novamente,
Nós dois num sonho inocente,
como até hoje nem lembro.

Minha cabeça em seu ombro,
A paz e o amor lado a lado,
Os nossos filhos crescendo,
E o nosso olhar consternado.

Era tão doce a lembrança,
Mas tão real a tristeza,
O seu lugar tinha que ser aqui.

Era tão linda a promessa,
E tão frustrante o final,
Era outro o bloco a desfilar meu Carnaval.

**********

Beijocas purpurinadas,
Maial

Luiz de Aquino disse...

Belíssimo, linda Lílian!
Aliás, por que comento seu poema, hem? Nunca vi nada de seu que não me enchesse o peito de alegria e a mente de aprendizado!

Beijos, poetisa!

Luiz de Aquino disse...

Meninas Mara, Iracema, Leda Selma,Sônia Marise (atenção, amigos! Mara não é poetisa, mas autora em prosa, médica e jornalista; as demais são poetisas e contistas maravilhosas, além de articulistas e cronistas de mãos cheias!).

Encanta-me isso de receber seus comentários. Não imaginei que meu mero devaneio carnavalesco rendesse tais pérolas!
Beijos, meninas!

Isabel Rosete (de Lisboa, Portugal) disse...

Isabel Rosete


Muito obrigada meu amigo por mais esta óptima parttilha. Já divulguei na secção de Poesia do grupo "Artes & Culturas".

Jacqueline Santana disse...

Oi Luiz! Já foi o tempo que, em minha sonhadora mente, passava a noite inteira assistindo desfiles das escolas de samba, pois adoraria vê-las de pertinho! Bailes de carnaval não os frequentei o suficiente e com tal liberdade das demais pessoas, mas as cores dos bailes, a alegria contagiante do povo só me envia a pensamentos bons, mas com um certo cuidado pois as loucuras desses momentos também nos aguardam nos noticiários policiais!!! É uma época de alegria e de cuidado. Eu nasci numa segunda feira de carnaval e meu tio (já falecido Raimundo) sempre brincava comigo (e eu ficava braaava) me chamando de carnavalina... ai ai ai! Idos tempos infantis! Mas agora, com o feriadão, aproveito mesmo é pra comer uma boa comidinha (feita por nós. Fiz ontem arroz Maria Isabel e antes Carlos fez uma bacalhoada...), beber um bom vinho, curtir bons filmes e dormirrr! Ai, também odeio horário de verão!
Ah Luiz, e a última foto? Quem são as belas? Adorei, esta mesmo bendito é o fruto....rsrsr
Saudades!

Maria José Lindgren Alves disse...

Caro Luiz,
Tomara que o Carnaval por suas bandas volte a ter jeito de antigo, bem antigo, com corso e tudo. Minha mãe sentava-se na Avenida Rio branco com minha avó, que malconheci, e curtia os moços que lhe sorriam dos carros. Beleza pura!
Um abraço carnavalesco de quem passa o Carnaval em casa e, no máximo, vai a um cinema. Ah! Meus tempos!!!!!

Maria

Luiz de Aquino disse...

Sim, Maria! Aos poucos, o Brasil retorna ao que era carnaval de verdade. Estive ontem em Pirenópolis e vi que, na Rua Direita, onde a comunidade nativa reservou seu espaço de carnaval, crianças e velhos são dois extremos que se tocam, fechando o anel do tempo, e as marchinhas de todos os tempos são tocadas, cantadas e dançadas com alegria.
Na manhã de hoje, vi na tevê que até mesmo no Pelourinho, na Bahia que a cada ano inventa uma nova dança (o tal de rebolêicham já enche as medidas!), o tom de Momo foi de marchinhas...

Cleide Crisóstomo disse...

Nunca pulei carnaval, mas sempre gostei de apreciá-lo. Havia uma certa pureza nas brincadeiras tão divertidas.No Rio só lembramos quando passamos próximos a Sapucaí. É uma verdadeira indústria. s facções marginais proibiram as conhecidas máscaras que eram motivos de farras infantis. Nos sobrou o nada fazer, e para tais momentos nada como um bom livro, um pilequinho de malzibier e um banho gelado da mina do meu quintal daqui de BH!!!!!!!!!

Maria Luiza de Carvalho disse...

"Escolhas em tempo de Momo" gGostei tanto que coloquei no meu site sem a sua autorização).

Você já sabe que meus leitores são fãs do seu trabalho.


Bem, estou aproveitando estes dias para adiantarmos o nosso sarau, revisar os últimos poemas e curtir um pouco de samba ,marchinhas e bossa nova .

Acredito que você como eu gostaria de estar lá na Lapa (Rio) pelo menos um pouquinho.

Ah! O Sarau,aqui mencionado será lá no Cappuccino Paris dia 03/03/2010.

Não percam!

Em tempo:"As várias Marias” agradecem ao mestre o apoio no projeto do sarau e também a gentileza da publicação da foto.


Afetivamente,

Malu

www.malumetamorfose.com

Luiz de Aquino disse...

Obrigado, Maria Luiza (Malu) de Carvalho!

Bem, você já fez o convite, nosso sarau será no dia 3... Quanto à foto a que ela se refere, é que a ilustra (ao final) esta crônica, com o poeta posando de bendito-é-o-fruto entre as "Várias Marias".

Ou seja: Várias Marias e eu...

Mariana Galizi disse...

Fujo do carnaval, mas a ideia que me fez ter da época por aí muito me interessou.

beijo


De marchinhas pouco vivi
não a acompanhei no tempo
marchava só e a contento
fui de carnavais a me transvestir...
de Colombina, de porta-bandeira
a espera ouvir, o teu surdo, o teu pandeiro
o teu apito a me chamar...
para nos amarmos na avenida
pena, despertei... só o lamento

Unknown disse...

Luiz,
Visitei seu blog, li suas crônicas, vi suas fotos. Excelente trabalho! Parabéns, viu?
Concordo com você: eu também abomino o horário de verão.
Abraços! Luiza