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domingo, fevereiro 07, 2010

“Sabe com quem está falando?”

“Sabe com quem está falando?”


Luiz de Aquino


Um caminhão enorme, transportando abacaxi, ao fazer o retorno na BR-153, em Aparecida de Goiânia, nas proximidades do Postão Aparecida, lançou ao chão grande quantidade de caixas. Passei por lá e vi uns vinte carros parados, seus condutores e passageiros saqueando a carga acidentada. Pisei mais fundo, e informei a Polícia Rodoviária Federal. O policial detalhou que já tomavam providencias.

Os saqueadores continuavam saqueando, descaradamente, enquanto trabalhadores moviam a carga do caminhão acidentado para um outro. Resumindo: saquear a carga na ausência do responsável seria furto. Fazê-lo ostensivamente deve ser roubo (os motoristas e ajudantes dos caminhões não tinham como reagir à turba).

No mesmo dia, descobri mais um crime, este contra o consumidor. Lembrei-me do homem do açougue ou da vendinha, que pressionava a balança com um dedo, transformando novecentos gramas em um quilo. E do balconista de armarinho que media noventa centímetros de tecido como se fosse um metro. O que eu soube esta semana foi-me mostrado pelo meu sobrinho Carlos Borges: vendedores de pequi usam uma lata de óleo (geralmente, 900 g) e dizem entregar “um litro” de pequi.

Ora, gente! Pequi, tal como laranja e banana, devia ser vendido por peso, e não por litro, medida de referência para líquidos.

Mas o furto (ou roubo, depende do modo como é praticado) é ainda mais cínico: dentro do “litro” que parece ser a medida do vendedor safado, há uma lata, embalagem de chocolate em pó, espiralada, que transforma aquele “litro” de pequi em algo parecido com a metade do que se diz vender.


Cadê o delegado Edemundo? Ele e sua equipe da Delegacia de Defesa do Consumidor têm realizado um trabalho de realce, haja vista a apreensão de milhares de peças de roupas pirateadas em Jaraguá, entre outros. Certamente alguma autoridade determinará critérios para a venda de pequi. E esse critério, obviamente, seguirá o que se usa para todos os alimentos sólidos, do pão ao caviar, passando por legumes, cereais, frutas etc.


Depois, essa gente que falsifica o que produz, rouba no peso e saqueia cargas, essa gente que presta serviços liberais de má qualidade (e, em boa parte das vezes, recebe antecipadamente), esses professores que fingem ensinar enquanto os alunos fingem aprender, esses policiais que recebem propina e montam milícias... Enfim, os maus trabalhadores que – dizem – são cerca de 5% de qualquer comunidade, posam de honestos para cobrar postura dos políticos.

Gente! Políticos são pessoas comuns em quem confiamos o bastante para lhes dar nossos votos. E pessoas erram. E pessoas comuns podem saquear, roubar no peso, mentir conhecimento e ludibriar pessoas. E aí, se lhes dermos poder, o bicho pega!


E para não isentar alguns importantes funcionários públicos, observem como um militar com estrelas nos ombros, um policial civil ou federal, um fiscal de qualquer coisa age quando abordado para mostrar documentos... por exemplo, a documentação do automóvel. Existem autoridades que sonegam o pagamento até do licenciamento de seus carros luxuosos por quatro, cinco anos... Só atualizam na hora de vender.

Paro por aqui. Não preciso comentar nada.





Luiz de Aquino – poetaluizdeaquino@gmail.com - é escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

6 comentários:

Mara Narciso disse...

Luiz,

Concordo com a sua visão, e também me esbravejo contra pessoas que deveriam ser do bem, e agem como criminosos, o que fato estão sendo quando roubam, intimidando os donos. O fato de estarem em conjunto já ameaça os que juntam a carga, e isso é uma forma de violência, o que carateriza o roubo. São pessoas que não precisam saquear para comer, o que por si só já justifica a sua indignação. Sobre a venda de pequi, aqui em Montes Claros o fruto sempre foi vendido em dúzia contada, e em tamanho. Até a semana passada, os maiores, do tamanho de uma maçã gala pequena, estava de quatro reais a dúzia, e os pequenos de dois reais. Vender produtos em latas de 900 ml era comum por aqui, quando se vendia farinha ou jabuticaba, embora o peso tenha sido já há anos o meio mais aceito para a comercialização.

Mara Narciso

Luciene Silva disse...

Você sabe que prefiro, quando escreve, sobre sonhos, desejos, poemas e poesias, mas fico sempre alerta aos seus canhões, para não permitir que eles massacrem suas flores., Flores estas que o fazem, na minha leiga opinião, um dos melhores escribas do nosso país...E como “admiradora”, venho de prima, elogiar a crônica de hoje...gostei, como gosto de tudo que faz, pois faz bem feito, ate quando sobe nas “tamankas”rsrsr. Ou “sai do serio”, ou “roda a baiana”.
Só pra te lembrar, melhor que criar polemica, é beijar na boca!

Jacqueline Santana disse...

Ai ai ai Luiz! E eu que adoooro pequi!! Já cansei de brigar e de me indignar quando vejo! Mas penso que quanto mais pessoas como você, com seu verbo e com a vontade de falar e proliferar a reflexão, melhor. Precisamos de nos posicionar. Aos poucos a mudança chega... espero que estejamos por aqui! (Bem, essa última frase deixo para os sonhos,já não sou tão otimista rsrsrs)

Sinésio Dioliveira disse...

Mestre, a mutreta é geral. Interessante o conselho dado pela leitora Luciene no último parágrafo de seu comentário. Agora é preciso ficar atento se o beijo na boca é mesmo de língua. Se não for, é enganação como o pequi vendido por aqui.

Luciene Silva disse...

Realmente, Luiz, o Sinésio esta certo... Beijo tem que ter excitação, desejo, química, biologia e um bocado de matemática, onde soma as mãos, dividem-se os desejos, e multiplica-se a vontade, caso contrario, é apenas o que nossos filhos chamam de SELINHO, que é nada mais que dois lábios se encontrando já dizendo adeus.


beijo e cheiro

Luciene silva.

Unknown disse...

Luiz, seu texto merece comentários segmentados.Irei ater-me apenas ao pequi. Ao comprar pequi, levo "meu litro" para servir como medida. Meu companheiro e filho acham que estou fazendo papel ridículo, mas eu não acho.

PS: Separei um artigo sobre condimentos vendidos em pacotes de 10 gramas (ou menos). Acredita que um quilo de orégano chega ao absurdo de mais de R$ 300,00? Vejo necessidade de iniciar uma campanha contra essa roubalheira, imediatamente.