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terça-feira, maio 04, 2010

Um poema de memória e saudade




A igreja de Nossa Senhora do Desterro, edificada entre 1848 e 1850, por ordem de Luiz Gonzaga de Menezes. Como a vila não prosperava, trocaram a padroeira, que passou a ser Nossa Senhora das Dores...



* * *




Antiga manhã, aquela


À porta da minha casa
um homem cantava modinhas
e era feliz.


Minha mãe torrava café,
meu irmão andava cambaleante,
usava botinas e meias
e tinha ao pescoço uma chupeta
de borracha vermelha
que emitia um assobio – e nada mais
usava meu pequeno irmão.


Era manhã de sol, manhã antiga
naquele ermo ao sul de Goiás.



Era alegre a cantiga
de Antônio Cego, o preto
que cantava à porta.


Antônio cego era um homem feliz.


* * *

Caldas Novas, 1950.


* * *





O casarão dos Gonzaga,
descendentes do fundador.






* * *

O poema acima, concebi-o em lembrança de um dos inesquecíveis vultos da minha infância em
Caldas Novas. Não consegui foto de Antônio Cego, e só mesmo os maiores de 60 anos lembram-se dele. Ilustro, pois, este poeminha com fotos da minha Caldas Novas antes do surto turístico. L.deA.

12 comentários:

célia musilli disse...

Belo poema da velha Goiás. Dá pra sentir o cheiro do café...rs. Um beijo!!

Roseli disse...

Luiz de Aquino,

A memória é algo vivo, que, ao ser contada, o passado e o presente vão se embaralhando no presente. A memória vai sendo revirada e emerge do passado e, nessa imersão, o que vem à tona é o que é relevante para o narrador...

Abraços

Roseli Araújo

Unknown disse...

como sempre querido poeta, seus poemas são cheios de emoção, e esta particularmente saudos.....!
Parabéns1

Unknown disse...

Que belo cenário, homem cantando modinhas..........É uma pena que nossos filhos não possam viver isso!!

Mariana Galizi disse...

Que linda poesia tua, Luiz.
Devemos graças à memória, que nos faz presente as imagens bonitas da nossa vida, demos mais graças ainda à poética tua, capaz de nos detalhar de forma leve e bela estas imagens e acaba por levar-nos à estas paisagens.
Ler-te cedo é um presente.

Maria Helena Chein disse...

Luiz,

poucos minutos passados das exatas 6:00h. Manhã com uma brisa leve, senti-a
ao abrir a janela. Café quentinho, pão esquentado no forno, eu saboreando o momento
e me lembrando da noite de ontem, com amigos e muitos dos meus amados familiares
(entrega do troféu Santuário da Arte/Tribunal de Justiça) e me lembrando também
da menina magrela, lá em Anicuns, se deliciando com o pão saído do forno,
tínhamos padaria.
Então, me deparei com seu poema e tudo se misturou harmonicamente em mim.
Senti sua saudade, vi suas lembranças de menino na ternura da família e que não
se esquece do cantador cego, não se esquece da igreja, não se esquece (jamais)
de Caldas Novas. Belas recordações ilustrando sua história, querido Lu. Bucólico poema.

Beijos.

Maria Helena

Marília Núbile disse...

Memórias, saudades, quem não as tem? Realmente Caldas Novas hoje não é mais de ninguém, mas continua linda, sempre a espera de seus filhos amados. Em tempo; a matriz é Srª Das Dores.
Um abraço.
Marília Núbile.

Unknown disse...

Pois é, poeta....Pena que a Caldas Novas de hoje esteja sempre fervilhante...de predadores. Som automotivo propagando aos quatro ventos essa coisa esquisita que chamam música...gente aos batalhões atrás de lojas de souvenirs...cachaça demais...poucos, muito poucos os que olham ao redor e veem a beleza do dia, das árvores, do céu. Preferem ficar de molho em água quente- a poder de caldeira- enchendo o caco de comida e cerveja. Uma pena.

Unknown disse...

Como é bom ser feliz com grandes lembranças simples.Nos seus poemas eu vivo, eu me encontro.Um beijo.

Unknown disse...

Oh amigo
como sempre cheio de inspiração
vou tentar compartilhar no FB.
Abraços
Virginia

Marluzis disse...

Querido, Luiz, as suas lembranças são as nossas, cheias de cheiros e sons.

As informações eram recolhidas com pressa por todos os sentidos. Música era alegria aos ouvidos, logo se um cego cantava é porque era feliz.

Inspirador!

Unknown disse...

Parabens meu caro amigo Luiz de Aquino,seus poemas são tão simples e tão real, e tão rico que dá para
reviver a realidade em cada verso e ate o canto dos passaros, o cheiro campo e do café torrado no fogão de lenha que só a mamãe sabia fazer, não é verdade???
parabens.... belas cronicas, belos versos, belos poemas ... parabens

Hélia P. J.