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quinta-feira, setembro 02, 2010

Academias e acadêmicos


Academias e acadêmicos



Agosto, 2010. Um mês de marcas fortes, como os ventos e, nos rincões sem boa cobertura de vegetação, os redemoinhos que erguem aos céus um cone giratório com muita, muita poeira e dejetos, tal como se vê. Mas as avós do meu tempo infante contavam coisas de horror, como o Saci que viajava nos redemoinhos e induzia crianças às peraltices (ou traquinagens; as avós tinham um vocabulário engraçado...). O Saci costumava, com isso, levar as crianças a situações embaraçosas. Era preciso ter muito cuidado, o melhor a se fazer, quando desses ventos giratórios que manchavam o céu de tons avermelhados, era proteger-se em casa.

As plantas de cerrado estão pálidas, como que tristes. Algumas enviam muito ao fundo as raízes, buscam água para preservar o verde das folhas, mas a poeira teima em tingi-las de ocre. Amarelo de ipê, tons de cores várias de primaveras ponteiam na paisagem. Mas nada de chuva, ainda! O ar, dizem na tevê, contém apenas entre 10% e 15% de umidade.

Peles ressecadas, narinas e olhos ardentes. Mas é sábado e é manhã, pego a estrada. Acompanho o poeta Gabriel nascente, o desembargador e acadêmico Ney Teles de Paula, o jornalista e também membro da Academia Goiana de Letras Hélio Rocha. Em Piracanjuba, os membros da Academia Piracanjubense de Letras e Artes preparam uma recepção carinhosa para o imortal Domício Proença Filho, da Academia Brasileira de Letras. Domício chegou na véspera, veio com a esposa, a professora Rejane Godoy; falou a juristas, no Tribunal de Justiça, e demonstrou, com competência, o indispensável elo entre a literatura e o texto das leis e do ofício das leis.

O imortal Domício foi ciceroneado pelo presidente do Tribunal de Justiça, o desembargador Paulo Teles. É agradável, para as pessoas das letras, os novos fatos que marcam o nosso Tribunal: eventos literários, exposições de arte e de fotografia, muitas novidades nos campos da informática e do aperfeiçoamento funcional e profissional, novos e expressivos itens de melhoria pessoal dos servidores – essas coisas que se resumem em “qualidade de vida”. O líder de tudo isso é o presidente Paulo Teles, que entusiasma os colaboradores e proporciona, aos magistrados da mais alta corte, com reflexões valiosas em todo o Poder Judiciário, o bem-estar a que fazem jus.

Na terra de Léo Lynce, João Acioli e Ney Teles, a presidente da Academia local, Gláucia Maria da Cunha e Silva Souza, tendo ao lado a presidente da Academia Feminina de Letras e Artes de Piracanjuba  (AFLAP),Sandra Maria Pereira de Araújo, chamou a professora Neidia Maria da Costa, da Escola Serra Negra, na zona rural do município, e os alunos Marcela dos Santos Machado (de oito anos) e Márcio Vinícius Gonçalves Ribeiro (treze anos) para uma apresentação. A menina declamou um belo poema e o garoto contou um “causo” do saudoso Geraldinho de Bela Vista, ambos com excelente desempenho.


Hélio Rocha, Des. Ney Teles, L.deA., Domício Proença Filho, 
Gláucia Maria, Des. Paulo Teles e Gabriel Nascente


Ex-prefeito e presidente da sociedade dos orquidófilos, Wilson Borges, benemérito da APLA, destacou-se entre os conterrâneos, os acadêmicos Pedro de Paula Borges, Marlene Iris Pontes, José Divino Alves, Laeste Antonio de Souza, Valdir Brasil dos Santos e Ney Teles de Paula, além de Marilene Ferreira Alves, Maria de Fátima da Silva Marçal e Zuléia Maria da Silva (da Academia Feminina). Foi Wilson o líder político que, atendendo aos apelos dos intelectuais da cidade, concedeu à Academia a sede definitiva, possibilitando, desde então, o seu crescimento, o seu constante papel no processo de aprimoramento da vida intelectual de Piracanjuba. Um exemplo a ser seguido, é certo!

Na véspera, tal como informei neste espaço na semana passada, também a Academia de Letras e Artes de Caldas Novas promoveu um momento festivo. Um grande evento para registrar o vigésimo aniversário, com homenagens especiais a dois dos decanos da entidade: Israel de Aquino Alves (meu pai) e Maria Isabel de Albuquerque Lima.

Também os membros-fundadores da entidade, hoje em número restrito, foram agraciados com uma placa. A escritora e acadêmica Marília Núbile, de atuante participação no esforço de restauração da ALACAN, disse-me ter sido, sem dúvida, uma das mais belas festas já realizadas em Caldas Novas. O evento teve o apoio da Câmara Municipal, mas de minha parte devo dizer que, do Poder Executivo, somente Antônio Sanches, prefeito à época da fundação, foi o único a enxergar algum valor na iniciativa, ao contrário do que se vê em Piracanjuba.

Impor-se no cenário de Caldas Novas é um desafio para o presidente atual, o acadêmico Francisco Albery Mariano, e os idealistas Marília Núbile Barros e Alejandro Mejia. Nós, os remanescentes das primeiras iniciativas, sentimo-nos derrotados pelos que, convidados mas desprovidos do espírito das artes, decidiram por usar um nome e uma marca apenas para compor currículos.


* * *


Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. Escreve aos domingos neste espaço. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com. Blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.

10 comentários:

Maria Helena Chein disse...

Luiz, (muitas estrelas para você)

sempre que vou ler suas crônicas, tenho a certeza de que vou ficar
informada de fatos, acontecimentos, além do prazer da leitura.
Seu estilo, correção gramatical, a maneira gostosa de se interpôr
entre o texto e o leitor me agradam muito. Ah, a foto ficou ótima!
Beijos.

Maria Helena

Leda(ê) Selma disse...

Gostei de tudo e, do texto, muito. Um retrato de eventos importantes e construtivos, em que pessoas são valorizadas em homenagens de reconhecimento. Seu pai deve ter ficado feliz. Ele é acadêmico, Luiz? Beijocas. Lêda

Madalena Barranco disse...

Luiz, querido, que foto sorridente!

Ler suas notícias é vivenciar o retrato daquele momento. Mas eu gostei mesmo quando você colocou as belas letras acima dos títulos. É isso, meu querido amigo... Pois, o que prevalece à Luz é somente aquilo que possui interruptor nas palavras escritas.

Beijos, com carinho.

Anônimo disse...

È sempre muito bom ler tudo que vc escreve.Parabéns! A foto ficou muito alegre, sorridente!... Ireci Maria.

Marília Núbile disse...

Luiz de Aquino,muito encanto como sempre,mas um bom alerta para a verdadeira importância das Academias de Letras e Artes.
Ser acadêmico é acima de tudo saber vencer os desafios em uma sociedade de "poetas vivos".Nossa ALACAN vive "tempo novo"em busca do resgate dos objetivos propostos por seus idealizadores.A comemoração de seus 20 anos foi realmente um momento ípar na vida cultural, social e política de Caldas Novas. Espero que todos os membros ausentes retornem a nossa Casa para juntos com o presidente Albery Mariano deixarmos nossas pegadas na história de Caldas Novas.
Um Abraço, Marília.

Lila Boni disse...

É muito bom estar aqui novamente te lendo!!!
Parabéns e mil beijos !!!!!!

sandra fayad disse...

Gostei de ler esse texto, onde você se queixa da secura e nos dá boas notícias sobre as Letras Goianas. Eis aí um Estado do qual nos orgulhamos dos valores culturais. Em Brasília, meu olhar goiano,que é também candango, vê assim nosso cerrado em agosto: DOMINGANDO...NA W3
Sandra Fayad

Domingo!
Primavera de mais de mês,
Calor que desanima,
Secura que racha a tez.
É domingo solitário,
Que enfumaça meus pés
No asfalto da W3.
Sol que frita os miolos,
Têmporas enxaquecadas,
Olhos espelhados, confusos,
Aguados de suor,
Nas faixas bem pintadas
De amarelo.
De branco, nuvens me olham
Sem ameaça:
Não vão se sujar de graxa,
Tão cedo.
Olho uma, outra e outra mais.
Que horror!
Nenhuma passa ou caminha.
Parecem dormir e sonhar
Com estrelas que não quero.
Agora quero é ver desabar
Cachoeiras celestiais
Que domingo é este?
Já é demais!

Madalena Barranco disse...

Olá, Luiz querido,

Que alegria saber de seu título de cidadão! Parabéns, pois você o merece com todas as honrarias. Ainda mais, você, que sempre escreve memórias e artigos pelo bem de Goiânia.
Beijos, com carinho, Madalena.

Alejandro Mejia disse...

Luiz de Aquino,
Mais uma vez parabéns pelas suas belas linhas. Muito grato pela lembrança do meu nome, essa generosidade só poderia vir de um coração de artista do seu quilate. Abraços,
Alejandro Mejia

alejandro mejia disse...

Grande Luiz de Aquino!
Parabéns pela crônica!
Obrigado pela gentileza da lembrança do meu nome,
só poderia vir de um coração de artista do seu quilate.
Abraços,
Alejandro Mejia