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domingo, dezembro 05, 2010

Fé na vida e na Pessoa


Fé na vida e na Pessoa
       




Divirto-me com alguns cálculos que aplico como futuristas. Explico exemplificando: se, num jogo de futebol de noventa minutos, o time A marcou dois gols até os dez minutos do primeiro tempo, projeto um resultado de 9x0 até o final do primeiro tempo e, logicamente, 18x0 ao término. Ao meu lado, um “pensador” corrige-me, afirma que muitos fatores acontecerão no decorrer da partida e o resultado poderá ser totalmente adverso, como a reação do time B, que transformará aquele resultado num 2x5...
                                              
Um terceiro, ouvindo nossa conversa, interfere:

– Futebol não tem lógica.

Tem, sim, e é como qualquer atividade humana. O “pensador” é quem está certo, apesar de sua casmurrice. Tudo o que vivemos depende não apenas das projeções matemáticas, mas de incontáveis fatores que podem surgir a cada instante.



Instante? O que é o instante? Tem medida, o instante? Pode ser alguns dias, umas tantas horas, um minuto ou o tempo de um flash.


Uma aula dura cerca de cinquenta minutos. Uma consulta médica, entre dez e cento e vinte minutos – depende da qualificação do paciente, se um pobretão que tem cobertura do SUS ou um poderoso com a carteira bem forrada de cédulas e saldos. Uma viagem... Aí são muitos os fatores a interceder em sua duração, e o fillósofo da arquibancada jamais compreenderá o “logos”.

Ilógico, para mim, é a inversão de valores. Leio na Internet uma mensagem assustadora, uma análise dos avanços tecnológicos. O autor associa os avanços cibernéticos, associados à velocidade da informação, e demonstra que tudo o que se aprende no primeiro ano será revogado antes que se atinja o quarto ano, e que o volume de informações obtidas (vou chutar) durante quarenta anos de vida vivida torna-se inferior ao que se pode acumular em poucos meses – e vai por aí afora...






Lógico é que surgirão fatores que conterão essas mudanças drásticas e trarão de volta o valor do ser humano. Mas...

Os pais não têm tempo para os filhos. Deixam para a escola toda a responsabilidade pela formação da prole. Os pais atuais estão ensinando grosserias aos filhos, passam-lhes valores negativos e formam pessoas desvinculadas de tudo o que se espera de um cidadão – e são esses mesmos pais que cobram dos governos equipamentos de cidadania, como equipamentos urbanos, saúde, educação e segurança. Muitas vezes sâo pais fumantes, alcoolicos, drogados ou portadores de outros males e fraquezas, mas fortes o bastante para influir negativamente no contexto social, ensinar violência e desrespeito.

Visitei, esta semana, o laboratório de informática de uma escola pública; gostei de ver dezenas de computadores, alguns ainda em modelos antigos (em informática, é antigo tudo o que existe há dois anos; ou menos). A professora encarregada daquele setor explicou-me o quanto é difícil preservar:


                 

    – Um aluno removia teclas e jogava-as nos colegas. Repreendi-o e ele me respodeu que isso é público, logo não tem dono.

Ensinamento que veio de casa, é óbvio. Como o da menina de sete anos que jogou uma pedra na colega; a professora interpelou-a, em tom de censura. A criança, fazendo carinha de inocente e surpresa, indagou:

– O que foi, tia?

– Você jogou uma pedra na sua colega!

E a pequena, cinicamente, desafiou-a:

– Prova!


* * *


Luiz de Aquino é membro da Academia Goiana de Letras. 
E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.

6 comentários:

Pedro Du Bois disse...

Pertinente a abordagem do tema. O quanto de "progresso", efetivamente, encontramos em cada omissão. A fabricação de ilógicas premissas na condensação do homem ao nada. Abraços, Pedro.

Poeta Lêda Selma disse...

Luiz, texto interessante, bem ilustrado, um cojunto e tanto. Você só esqueceu de dizer, no âmbito do futebol, que serei campeã brasileira hoje -FLUZÃO - e 4ª feira, Sul-americana - VERDÃO -. Só nisso seu texto pecou. Rá, rá, rá!!! Parabéns pela crônica, Luiz! Beijão. Lêda Selma

Mara Narciso disse...

Nossa, que tristeza! Além de lamentar, temos de ler e divulgar essas ideias, essas suas reflexões. Os pais falham, por acaso ou deliberadamente. Vi uma mãe ensinando racismo ao filho. Não resisti e a alertei. Ela prometeu modificar o comportamento. Exemplos são lições para a vida toda. Temos de ter cuidado com os nosso atos, tanto para nós, quanto para os outros.

Heliany Wyrta disse...

Parabéns pela crônica, Luiz!
Precisamos urgentemente reencontrar o caminho para a nossa essência!
Como diria um poeta gaúcho:
"uma dia super,
uma noite super,
uma vida superficial!"
É isso que vivemos atualmente,
vivendo superficialmente
não sabemos quem somos
por onde andamos
o que queremos!
Não nos valorizamos,
como saberemos valorizar o outro, nosso semelhante?
Onde está guardado a ética, a moral, o respeito, a ternura, o amor?
Tesouros inestimáveis
e esquecidos em alguma ilha deserta dentro de nós, engolida pelos "avanços" da vida moderna hedionda e materialista.
Necessidade urgente do resgaste de nós mesmos!

Cris disse...

Os filhos são retratos "identificadores" de seus pais. Digo, "identificadores" e não imitadores, pois os pais hoje estão deixando margem para pouco, a ser imitado. Então, está havendo uma identificação que é fruto da convivência diária, mesmo que rara, ou breve. Que pais são esses? Produzir filhos e jogá-los no mundo,para que este o eduque é ser pai?
A cada dia que passa, me sinto decepcionada com a indiferença de certos pais. Eles nem percebem que o pouco que ficam com seus filhos é o exemplo que os mesmos seguirão. E, nesses poucos momentos, discutem, se agridem, cobram...e não dizem: Eu te amo, meu filho. Ou, isso é errado, meu filho. Ou, ainda, não faça assim meu filho. Faça desta maneira, porque....isso é amar e educar conscientemente? Não sei,se conversar resolve. Contudo, fui educada pela minha mãe com muita conversa.Conversar, se fazer compreender, oferecer ao filho uns minutos de seu precioso tempo.Pode não ser a solução mas, pelo menos ao dizer para um filho que o ama, ele passará a ouví-lo pelo amor, que sente. Mesmo que não chegue talvez a respeitá-lo ou entendê-lo. Pergunte ao seu filho, se ele tem tempo para você? Ele sempre terá. E você pai? Vocês estão tentanto ter tempo para seus filhos?
(Cristina-Lyceu)

Lindalva Costa disse...

Luiz,

Gostei de sua crônica. Acho que a maioria das pessoas deveriam visitar as escolas como você tem visitado, pois precisam ver de perto a realidade da educação no Brasil. Isso que você viu é pouco diante do que está acontecendo nas escolas. Alunos começaram a matar professores também. Viu o aluno que matou um professor em uma universidade só porque se sentia perseguido por ele? Em Brasília no final do ano passado mataram um diretor (escola do município) porque estava fazendo palestras contra drogas na escola. Outro apanhou de uma aluna porque pediu silêncio várias vezes e ela se sentiu incomodada. Cada coisa que a gente ouve de alguns alunos que dá medo mesmo. Emprego de professor hoje é emprego de risco, você vai trabalhar, e não sabe se volta. E não pense que isso acontece somente em escola pública, até poucos anos atrás eu pensava que sim, mas hoje vejo que é geral. Professores que estão em sala de aula hoje são verdadeiros guerreiros. Às vezes não conseguimos abrir a boca para fazer a chamada, pois antes de chegar ao nome de alguns, eles já gritaram presente bem alto e com deboche. Isso para que a classe toda possa zombar do professor. E se por acaso você os coloca para fora, o pai vem furioso e defende o filho, e coloca o professor como o pior dos seres humanos. Ah, agora os alunos estão fazendo o possível para colocar o professor nervoso somente para filmá-lo no celular. Isso para levar o professor na justiça, segundo eles, a lei os protege por ser menores. Professor não tem direito nem de pedir silêncio para dar sua aula.Uffaaa!!! Deus me livre!!! Estou ficando com pavor de sala de aula e muito preocupada, de verdade. Se não tomarem providências, não sei o que vai ser desses jovens no futuro. É de dar medo.

Um abraço!
Lindalva.