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sexta-feira, dezembro 10, 2010

Modo de fazer


Modo de fazer

Crônica lida na noite de 09/12/2010,
em que a Academia Goiana de Letras concedeu-me o Troféu Goyaze
s.


Na tarde de hoje, ao abrir o meu correio eletrônico, encontrei mais uma carta carinhosamente encaminhada pelo meu amigo dos tempos de menino, tempo longe, lugar também. Refiro-me ao coronel Paulo Pedro Pinto, da Força Aérea, com quem compartilho lembranças de Marechal Hermes, o bairro mais bonito do subúrbio carioca, pelo seu traçado harmônico e seus solenes sobrados quase centenários. Num desses sobrados eu vivi parte da infância e a adolescência…


Marechal Hermes, em fotos:
A estaçãoSobrados


Epa! Divaguei, perdoem-me! O ponto central é o conteúdo da mensagem de Paulo Pedro. Ele sempre me presenteia com belíssimas imagens de aeronaves e navios, veículos esportivos e ágeis, enfim, com novidades tecnológicas em geral, com notável predominância de aviões antigos ou novos, peças históricas ou futuristas. Desta vez, o presente foi uma apresentação do maestro holandês André Rieu e sua orquestra: http://www.youtube.com/watch?v=eky88KYlC4Q.

André Rieu


Nada de novo, talvez; afinal, o músico holandês já é tão conhecido em todo o mundo que, aos poucos, ele nos parece familiar, tal como era, para nós, Ray Conniff. Com expressão feliz e falando em inglês que me pareceu perfeito, a figura impoluta do artista disse que terminaria aquela tarde de modo sério... E anunciou a Quinta Sinfonia de Beethoven (Lucas, meu filho, traduziu para mim).


Zequinha de Abreu



Ato contínuo, surgiram as notas inicias da famosa peça. Súbito, ele (ao violino) e a orquestra transmudam para La Bamba. Claro, claro... Para alguém sexagenário, a vontade é cair na dança! Mas La Bamba marcou-se apenas por uns poucos acordes, tal como aconteceu com a Quinta Sinfonia; aí surgiu nada menos que nosso tão aconchegante Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu. Nesse momento, senti-me vestido a rigor, sentado disciplinadamente numa poltrona daquele teatro, e eu não sei que teatro era aquele, nem qual era a cidade onde acontecia o concerto. Um arrepio percorreu toda a minha pele, os olhos ficaram mais úmidos.


Antônio Olinto na AGl, 2007



A esta altura, ninguém mais, da platéia, estava sentado. A música foi tocada em seu inteiro teor, e após a última nota, sem perda do ritmo e da harmonia, uma das mulheres da orquestra, bela e atraente, destacou-se sacolejando um chocalho e soprando um apito de samba. Era a deixa para a entrada de nada menos que Aquarela do Brasil, do saudoso Ari Barroso! Imediatamente, lembrei-me de Antonio Olinto, o imortal da Academia Brasileira que, no dizer de Leda Selma, estrelizou-se há pouco mais de um ano.


Ary Barroso
Ari e Olinto eram conterrâneos, filhos de Ubá, Zona da Mata, Minas Gerais. O pai de Antonio Olinto tinha um cinema na pequenina Ubá, era o tempo do cinema-mudo; Ari era o moço que tocava piano no cinema para enfeitar as cenas sem som das fitas. E foi justamente Antonio Olinto, em sua última visita a Goiânia, quem contou, numa das maravilhosas conversas, que muita gente pela Europa afora, incluindo-se aí músicos maravilhosos, pensam que Aquarela do Brasil é o nosso Hino Nacional.


Bem! Eu só queria contar de como um filme como esse, uma apresentação do maestro André Rieu, atrelando canções brasileiras a nada menos que a Quinta Sinfonia de Beethoven, dizendo que era “um modo sério de terminar a tarde”...



Calçada do Grande Hotel, em dia de chorinho



Era como se eu estivesse na Calçada do Grande Hotel, ouvindo Karine cantar, acompanhada de Nonato, Danilo, Pato e outros bons instrumentistas. E isto se dá na véspera do aniversário de 100 anos de Noel Rosa!


Noel Rosa



Como se vê, sou brasileiríssimo, nativista, orgulhoso do País, da Nação e do nosso modo de vida, conjunto de coisas que entendo por Pátria. E o meu orgulho brasileiro se faz da soma de vivências minhas, participando ou absorvendo; e por participar e absorver, sei que crio algo também.






Dessa criação, dos meus textos publicados, resulta este mimo que recebo agora, o que me faz feliz. E mais feliz me sinto porque este mimo vem dos meus pares, meus confrades da Academia Goiana de Letras. Em respostas ao convite que distribuí pela Internet, tenho algumas dezenas de cumprimentos de amigos de todo o Brasil, cumprimentos esses que entendo serem para a AGL.

Escrever a mão... 
  ...ou à máquina. 



Agora, posso terminar. Queria lhes mostrar como escrevo. Estas emoções que contei aqui são os meus ingredientes. O modo de fazer é muito simples... Um teclado, um tempo para escrever e um jeito muito meu de sentir poesia. E aí, e então, nasce a prosa.




E a inscrição no pedestal








* * *



Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goina de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

11 comentários:

Mara Narciso disse...

Nada de discurso. Uma conversa entre amigos, naquele seu tradicional jeito leve de falar do dia a dia, mas com um toque de importância que transforma um fato corriqueiro em algo maior. O tom coloquial não tira a importâbncia da homenagem, ao contrário, a amplia. Aposto que ninguém se cansou da sua fala e todos lhe prestaram atenção.

Wanda disse...

Adorei o vídeo... já repassei pros meus queridos...
Parabéns por tudo, Luiz querido.. vc merece com certeza pelo muito que faz por Goiânia.
Adoro esse menino que mora dentro de você e é bom saber que ele está sempre aí. Continue presenteando-nos com seus belos escritos.
Beijo!

Elci Teixeira disse...

Parabéns mais uma vez pelo merecido Troféu!
Você é uma luz e por onde passa, deixa sempre seu brilho de verdade, de sabedoria, de paz, de alegria e de amor entre as criaturas.
Um beijo...

Elci

Jô Sampaio disse...

Sua crônica é um trabalho metalinguístico, tem como fecho o seu fazer-poético, cujo ingrediente principal são os sentimentos.
Gostaria de saber dos mínimos detalhes da "festa". Conte-me.

Cgurgel disse...

uma conversa entre amigos, assim, sem querer que o passar do tempo, passe. acolhedor blog. bom dia poeta!!

Fátima Paraguassú disse...

Não pude presenciar esse momento, mas, sei o que sente.
Só posso dizer-lha parabéns. Quem sabe um dia eu chego lá.

Marília Núbile disse...

Mais uma merecida homenagem! Parabéns!
Belissímo texto, gosto quando você escreve assim!!!!
Um forte abraço, Marília Núbile.

Heliany Wyrta disse...

Os cumprimentos são para ti, Luiz!
A forma como você escreve
encanta e fascina.
O prêmio é uma consequência natural.
Mas você é muito mais do que esse prêmio.
Penso até, que é o prêmio que precisa de ti para dignificar-se.
Você é grande sem ele!

Anônimo disse...

Luiz de Aquino!
Parabéns pela premiação! É mais uma constatação do valor de sua prosa poética e de sua poesia da paixão. Grande abraço!
Alejandro Mejia
Caldas Novas

J. Martines Carrasco disse...

Caro poeta, Luiz de Aquino,
pela foto, parece de bom talhe
e significativo o troféu a que você fez jus.
Que muitos outros, e honrarias, lhe venham,
confirmando seu estilo e arte.
Saúde, um bom Ano Novo, boa sorte sempre.
J. Martines Carrasco

Papepi disse...

Amigo Poeta
Ainda não havia lido a sua crônica "Modo de Fazer", pois estava em Porto Alegre, para a formatura de uma sobrinha. Realmente o vídeo da apresentação do maestro André Rieu e orquestra é fenomenal, principalmente, para brasileiríssimos como nós dois. Quanto a referência ao nosso bairro, Marechal Hermes, fiquei muito emocionado e, com a exposição das fotos, voltei, saudosamente ao passado.
Parabéns pelo prêmio! Você e sua pena merecem muito mais.
Um forte abraço
Paulo Pedro Pinto