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segunda-feira, abril 09, 2012

A solidão do senador:


Sozinho na chapada

Alguns leitores consideram-me saudosista por registrar fatos do passado ou evocar valores esquecidos. Fala-se muito em fidelidade – o que considero uma postura canina – e até mesmo a Deus alguns atribuem essa postura, quando a nós, criaturas d’Ele, é que cabe essa condição. Mas gosto mesmo é de lealdade, que vem a ser a essência fundamental da amizade e do respeito.

Incomoda-me, e muito, ver o senador Demóstenes Torres no inferno em que se meteu, seduzido pela amizade – talvez – ou pela ganância (possivelmente). Se lhe falta competência para criar dinheiro, é possível que tenha posto seu poder político à disposição do amigo empresário e contraventor.

Tenho o conforto de quem nada deve ao senador. Tinha-o na conta de um paladino, uma figura nova e inovadora no cenário político brasileiro, e estou certo de que assim também o viam milhões e milhões de brasileiros, de qualquer unidade federativa e simpatizantes – e mesmo militantes – de todos os partidos.

Há pouco mais de um mês o senador se encontra em estado de desgraça política e social. O homem de tantos poderes, humano que é, tinha ambições e faltavam-lhe condições pessoais para atingi-las – como, por exemplo, superar o governador Marconi Perillo. Certamente, viu em Carlinhos Cachoeira a pinguela que lhe possibilitaria ultrapassar a correnteza que lhe daria poder para crescer mais...

Mas o que seria crescer mais? Dois mandatos de senador, o prestígio que atingia todos os rincões – e as camadas sociais e econômicas – de todo o país e uma carreira política de dimensões fabulosas! Mas o homem, o ser insaciável, queria mais. O que mais? O governo de Goiás, a presidência da República? Ulisses Guimarães fez história, e não foi além de deputado federal; tivemos senadores cujos nomes escaparam das memórias em 24 horas após o término de seus mandatos – e governadores, também!

Esse foi – ou é – o grave pecado de Demóstenes: a falta de limites na vaidade. Ele não precisava se submeter a ninguém, bastava satisfazer-se de si mesmo.

Resumindo: o homem que cresceu por seus méritos e pôde, ao seu modo, servir a Goiás e ao Brasil, que pregou lisura e ética, foi exposto de modo mesquinho a toda a opinião pública como uma pessoa comum, capaz de se fazer representante da dignidade enquanto cometia deslizes como fazer-se de despachante do contraventor, buscando legitimar práticas ilegais.

O lado mais triste, porém, é constatar que ele, agora, está sozinho. É possível que, neste momento, não conte com o apoio leal senão da mulher e dos filhos. Dos correligionários e dos amigos, está evidente, ele não recebe nenhuma atitude honesta de lealdade.

* * *

8 comentários:

Poeta Alonso Rodrigues Pimentel disse...

Quando somos influentes muitos querem ser nossos amigos. Temos que ter cuidado com nossas amizades. Porque uma amizade falsa (ou interesseira) nos leva para o buraco. E muitos têm caído no buraco, principalmente políticos.

Nara disse...

Penso exatamente como você. Lamentável, amigo... muito lamentável!

Lêda Selma - Escritora disse...

Nenhuma novidade, Luiz, afinal, os ratos são os primeiros a abandonarem o navio, e os falsos amigos, os primeiros a virarem as costas aos
'destronados'. Esse modelo de solidão é o mais comum quando o 'poderoso' inicia sua derrocada. Com o Demóstenes não seria diferente, pois amigos ele tinha poucos, mas oportunistas e bajuladores ih!... incontáveis. E esses já o abandonaram. Beijão. Lêda

Pedro Du Bois disse...

O pior, Aquino, é que o ínclito senador sempre foi assim (como agora explicitado), fez-se de paladino como engodo. Não houve a ambição política desmedida, mas apenas o "negócio". Parafraseando alguém, que agora obviamente não recordo o nome, talvez o (falso)moralismo seja o último refúgio dos canalhas. O que me empobreceu e me aterroriza foram os 43 apartes senatoriais de apoio ao mesmo, quando do seu primeiro (e último) discurso de argumentações "moraliticóides". Isso, sim. Abraços e graças pelas suas palavras. Pedro.

Maria Helena Chein disse...

Luiz,
sinto-me triste ao ver o caos de Demóstenes Torres. Era o modelo de excelência política e agora
implodiu-se. O homem de extrema lisura, e coragem a toda prova, encontra-se em imensa solidão. Que pena!
Gostei muito de sua crônica, meu querido.

Mara Narciso disse...

Comentário inteligente, independente e isento, Luiz. Acertou na mão. Achei sua postura ética, respeitosa e eficaz. Foi generoso nos elogios, e justo nas críticas. É feio chutar cachorro morto. Parabéns pelo equilíbrio.

Ana Maria Taveira disse...

Luiz de Aquino,

Foi a melhor e mais justa análise do caso Demóstenes, a sua, de hoje, no Diário da Manhã. Comungo seu ponto de vista: a César o que é de César. O senador que muito fez por Goiás e pelo Brasil o fez por seus méritos. Ora, eis que encantou-se pelos ovos de ouro e mais ainda por ter influência definitiva na fonte poedeira que o incitava ao incontrolável prazer de “ir além dos poderes humanos, querendo sempre mais. Esse foi ou é o grande pecado de Demóstenes: a falta de limites à vaidade”segundo você.
Você, quando fala como ex-professor, seja com o olhar atento à nossa língua, seja em observações sagazes e talentosas do comportamento humano, torna-se mesmo imbatível.
A amiga de ofício,

Ana Maria Taveira
(Escritora - membro da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás)

Fátima Paraguassú disse...

Nestas condições não existe amigos. Há bajuladores em busca de algum ganho. Amizade? É a que mantemos, nós, meros (i)mortais.