À espera da vitória
Fala-se
tanto, nas últimas décadas, sobre uma crise mundial nos fundos de previdência
social. Os argumentos centram-se em temas a serem contestados – ou combatidos –
como a aposentadoria precoce. Sou de uma geração que conseguia aposentar-se na
casa dos 50 anos, desde que o contribuinte provasse recolhimentos ao longo de
35 anos. E era comum, então, a pessoa começar a trabalhar, com carteira
assinada, muito cedo.
Digamos
que tal aposentadoria se desse aos 55 anos. Poucas pessoas ultrapassavam a
marca dos 75 anos, ou seja, previa-se uma sobrevida em torno de vinte anos, e o
cidadão contribuíra por 35 anos ou mais. Mas na última quadra do século passado
a média da idade no Brasil estava crescendo, quer dizer, o Brasil estava
envelhecendo. Aliás, o mundo estava envelhecendo e muitos países impediam
aposentadorias a menores de 60 ou mesmo 70 anos. Havia, já, um famoso “rombo na
previdência”, e a culpa era dos velhinhos.
Engraçado...
Desde os tempos de Getúlio Vargas os fundos previdenciários eram desviados –
ora para custear a campanha na II Guerra, com a produção de aço para a
indústria bélica, depois para sustentar a construção de Brasília e das
primeiras grandes hidrelétricas, depois para encher o país com as tais “obras
faraônicas” do tempo dos generais e isso veio até o governo de Fernando
Henrique, com o tal Fundo de Emergência.
Pelo
menos, essas informações eram divulgadas por economistas – os “doutores da vez”
naquele tempo de surgimento do Plano Real e os anos que se lhe sucederam.
Orgias financeiras, cometidas pela cúpula dos governos, é prática corriqueira;
quem não se lembra do socorro aos bancos? FHC o instituiu, Lula o assegurou.
Ah,
como é a vida! Um estirão de anos que marcamos pelas lembranças. Lembranças dos
folguedos (!) nas ruas de lama ou de pó, rodar pião, soltar pipa, brincar de
finca ou de carrinho; banhos no córrego, pelada na rua, ao lado da Igreja,
caçar vaga-lumes nas noites quentes, correr, pular muro... Lembranças dos
primeiros namoros, dos passeios ingênuos nos jardins bucólicos das praças, dos
filhos nascendo e crescendo, os netos chegando...
Mas
a vida é curta, ainda. Sempre curta. Há a lembrança dos anos de resistência, de
contestação, de oposição e protestos – essas coisas que pensávamos acabadas e
que ressurgem fortes com os meninos de vinte anos deste 2013 de grandes
mudanças. Ir às ruas, protestar, enfrentar a polícia, levar porrada dos
cassetetes, lançar bolinhas de gude para derrubar a cavalaria, respirar gás
lacrimogêneo, correr, gritar... Aquele gosto inocente de se sentir vitorioso
ainda que, sob a repressão, gritar a última palavra ao restaurar a democracia,
fazer valer o voto direto, tirar os fardados dos gabinetes do Executivo...
Sim!
Tivemos a alegria da última palavra, mas tomaram-na das nossas gargantas,
fizeram o que bem entenderam, restauraram alguns dos nossos direitos, mas
preservaram o que mais nos incomodava. Por isso, os meninos protestam!
Tempos
outros, estes; vida curta, ainda, mesmo que tenhamos ganhado uns 10 anos mais
na marca mediana da vida do brasileiro. Mas ainda não temos a vitória: esta
virá, porém. Mesmo que, agora estou certo, a grande vitória não está na última
palavra, mas no primeiro silêncio.
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Um comentário:
Começou de forma sombria, passou pelo bucólico e terminou de forma dramática. Depois dessas manifestações cívicas em todos os rincões, nossos problemas poderão continuar os mesmos, porém algumas soluções serão diferentes.
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