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terça-feira, julho 09, 2013

À espera da vitória

À espera da vitória


Fala-se tanto, nas últimas décadas, sobre uma crise mundial nos fundos de previdência social. Os argumentos centram-se em temas a serem contestados – ou combatidos – como a aposentadoria precoce. Sou de uma geração que conseguia aposentar-se na casa dos 50 anos, desde que o contribuinte provasse recolhimentos ao longo de 35 anos. E era comum, então, a pessoa começar a trabalhar, com carteira assinada, muito cedo.

Digamos que tal aposentadoria se desse aos 55 anos. Poucas pessoas ultrapassavam a marca dos 75 anos, ou seja, previa-se uma sobrevida em torno de vinte anos, e o cidadão contribuíra por 35 anos ou mais. Mas na última quadra do século passado a média da idade no Brasil estava crescendo, quer dizer, o Brasil estava envelhecendo. Aliás, o mundo estava envelhecendo e muitos países impediam aposentadorias a menores de 60 ou mesmo 70 anos. Havia, já, um famoso “rombo na previdência”, e a culpa era dos velhinhos.

Engraçado... Desde os tempos de Getúlio Vargas os fundos previdenciários eram desviados – ora para custear a campanha na II Guerra, com a produção de aço para a indústria bélica, depois para sustentar a construção de Brasília e das primeiras grandes hidrelétricas, depois para encher o país com as tais “obras faraônicas” do tempo dos generais e isso veio até o governo de Fernando Henrique, com o tal Fundo de Emergência.

Pelo menos, essas informações eram divulgadas por economistas – os “doutores da vez” naquele tempo de surgimento do Plano Real e os anos que se lhe sucederam. Orgias financeiras, cometidas pela cúpula dos governos, é prática corriqueira; quem não se lembra do socorro aos bancos? FHC o instituiu, Lula o assegurou.

Ah, como é a vida! Um estirão de anos que marcamos pelas lembranças. Lembranças dos folguedos (!) nas ruas de lama ou de pó, rodar pião, soltar pipa, brincar de finca ou de carrinho; banhos no córrego, pelada na rua, ao lado da Igreja, caçar vaga-lumes nas noites quentes, correr, pular muro... Lembranças dos primeiros namoros, dos passeios ingênuos nos jardins bucólicos das praças, dos filhos nascendo e crescendo, os netos chegando...

Mas a vida é curta, ainda. Sempre curta. Há a lembrança dos anos de resistência, de contestação, de oposição e protestos – essas coisas que pensávamos acabadas e que ressurgem fortes com os meninos de vinte anos deste 2013 de grandes mudanças. Ir às ruas, protestar, enfrentar a polícia, levar porrada dos cassetetes, lançar bolinhas de gude para derrubar a cavalaria, respirar gás lacrimogêneo, correr, gritar... Aquele gosto inocente de se sentir vitorioso ainda que, sob a repressão, gritar a última palavra ao restaurar a democracia, fazer valer o voto direto, tirar os fardados dos gabinetes do Executivo...

Sim! Tivemos a alegria da última palavra, mas tomaram-na das nossas gargantas, fizeram o que bem entenderam, restauraram alguns dos nossos direitos, mas preservaram o que mais nos incomodava. Por isso, os meninos protestam!

Tempos outros, estes; vida curta, ainda, mesmo que tenhamos ganhado uns 10 anos mais na marca mediana da vida do brasileiro. Mas ainda não temos a vitória: esta virá, porém. Mesmo que, agora estou certo, a grande vitória não está na última palavra, mas no primeiro silêncio.


* * *

Um comentário:

Mara Narciso disse...

Começou de forma sombria, passou pelo bucólico e terminou de forma dramática. Depois dessas manifestações cívicas em todos os rincões, nossos problemas poderão continuar os mesmos, porém algumas soluções serão diferentes.