A princesa de óculos e
os salários achatados
os salários achatados
Criança é coisa complicada…
Geralmente, pais e mães acreditam piamente, pois a franqueza infantil é algo tão
marcante que muitas vezes fere. E virou moda, no Brasil, apelidar-se a
sinceridade das apreciações, análises e comentários infantis com uma palavra
inglesa muito em voga nos Estados Unidos, o búlin.
Jovens pais e mães, mais
psicólogos igualmente jovens, desconhecendo tudo o que nós outros (os
sobreviventes da infância dos anos 50 do século em que nascemos) sofremos e
driblamos com alguma criatividade e, não raro, uma certa maestria.
Na sintonia do búlin,
Rafaela, uma menina pequenina viu-se vitimada por algo muito incômodo: o uso
quotidiano de óculos – coisa que nos lembra máscara do Zorro e que a
invencionice da moda transformou em “acessório” até mesmo de elegância.
O mal-estar da Rafaela
preocupou seu irmão Alexandre,
dois anos mais velho que ela. Se Rafaela não gostava dos óculos,
Alexandre ressentiu-se por ela. E ao tomar tais dores, não podendo enxergar
pela irmãzinha, resolveu motivá-la
(talvez ele nem conheça essa palavra). Como? Escrevendo um livro. E, no livro,
“nomeou-a” com a nobreza que seu coração menino a via. E surgiu “A princesa que
usa óculos”. Escreveu? Não apenas isso: ele escreveu e ilustrou, que Alexandre
é bom na pena e no pincel, quero dizer, no teclado e no lápis de cor.
Vi o caso na tevê, no
noticiário das 6h30min da TV Anhanguera; horas depois, a história e seus
personagens estava na TV Globo, no programa “Encontro”, de Fátima Bernardes.
É muito bom ver que em Goiás
acontecem coisas que a grande mídia destaca, além dos homicídios com
esquartejamento, as chacinas de adolescentes, os grupos de extermínio e as
falcatruas com os fundos de pensão de pobres funcionários municipais,
intermediados por deputados que, poucos dias antes, posavam de paladinos na
vigilância de procedimentos públicos.
O autor – agora é preciso
dizer-lhe todo o nome (enquanto não adota um nome literário mais curto) – é
Alexandre Raizer Landim Silva; e sua musa inspiradora é a maninha Rafaela. O
livro foi editado pela Kelps, em iniciativa de Antônio Almeida, que busca
distribuí-lo no cenário nacional.
Ganhei um exemplar, trouxe-o
comigo com zelo e curiosidade. Sinto-me bem por deter, entre tantas obras das
minhas estantes – umas boas, outras desprezíveis – essa amostra irrefutável da
grandeza de um ser humano.
Alexandre Landim talvez desista desse ofício de escritor, talvez cresça
muito e se torne famoso; mas ainda pequenino (tem agora 7 anos, apenas), já é
exemplo entre seus coleguinhas do Instituto Maria Auxiliadora – o mesmo
educandário das irmãs Salesianas onde o meu Lucas Leão estudou desde os dois
anos de idade, até a conclusão da quarta série.
![]() |
Alesandre, escritor e ilustrador, e a personagem Rafaela, a princesa de óculos. |
Alexandre Landim toca o meu
coração. E eu, que tenho muitos amigos queridos e grandes do outro lado desta
dimensão terrena, recomendo-o à espiritualidade, pedindo bênçãos sobre seus
pais, que certamente dotam-no de nobres princípios. Esse menino é um exemplo
que deve ser mostrado a essa turba de saqueadores do erário e dos banqueiros
que, donos de lucros invejáveis ante o mundo em crise, sonegam míseros 5 pontos
percentuais aos bancários – profissão de realce há vinte anos; hoje, um pequeno
reduto de trabalhadores que, na realidade brasileira, são explorados quase que
nos níveis da opressão chinesa.
Deus abençoe o Alexandre e a
Rafaela!
* * *