Páginas

domingo, setembro 15, 2013

Um "Doze" em Ouro Preto

O famoso guia da cidade, pelo poeta Manuel Bandeira


Um “Doze” em Ouro Preto


No dia 12 de outubro marcará, este ano, o 137º aniversário da Escola de Minas de Ouro Preto. Se o Brasil para, como dizem muitos, Ouro Preto se agita. Alinho-me entre os que veem nesses feriados não uma parada nas atividades e na economia, mas sim a efervescência de um segmento ativo e importante para a sociedade atual – o turismo. Mas não é só isso, quando se trata de algo como a festa em Ouro Preto: é a evocação da História. É o aniversário de um dos grandes feitos nesta conturbada Pátria. Uma data expressiva para o mundo acadêmico, especialmente para a mineração, para a engenharia, e, para atualizar a linguagem e os fatos, a tecnologia. A data é a da concepção do que, depois, veio a ser a Universidade Federal de Ouro Preto, certamente.

O que sei dizer de Ouro Preto vem de alguma leitura e das únicas duas vezes em que lá estive. Ficou-me um sentimento de fé e de força. É mágico pisar aquelas pedras das ruas, visualizar as construções centenárias do barroco, envolver-se no místico daquelas igrejas e embriagar-se de história. No teatro, em 1998, ao lado do poeta Romério Rômulo, assisti à outorga dos títulos de Doutor Honoris Causa a Orlando e Cláudio (in memoriam) Villas-Boas. Romério Rômulo, então pró-reitor da UFOP, morava numa casa pertencente ao artista Carlos Scliar, casa essa construída por ninguém menos que o pai de Santos-Dumont.

Visitei lugares marcantes, casas e repartições que a História imortaliza; encantei-me ao ver as gemas no Museu da Escola de Minas; alumbrei-me ante a riqueza da arte de Aleijadinho e o ouro que capeia esculturas em madeira... Bem: após as 17 horas, os turistas começam a sumir da cidade; os estudantes deixam as escolas e faculdades, ocupam os trajetos até suas legendárias repúblicas e, pouco depois, superlotam os bares e cantinas. Os nativos, pareceu-me, fazem pano-de-fundo para o cenário humano.

Na primeira visita, deliciei-me com uma sopa traiçoeira, mas a madrugada foi-me constrangedora: acordei incomodado, uma cólica fisgava-me o baixo-ventre. Tentei distrair-me à janela (a pousada era na Praça Tiradentes); vi uma carroça solitária, o homem que a conduzia vinha a pé, sem lugar para aboletar-se na carroceria. Esperei que, a qualquer momento, um pelotão de soldados do Século XVIII atravessassem o pátio. Mas a cólica aumentou e, muito constrangido, corri ao vaso no banheiro anexo. Acho que esse infausto fez com que a namorada desistisse de mim. (Ainda assim, trouxe de lá pequenas lembranças. A mais marcante ainda existe – o livro Guia de Ouro Preto, assinado por ninguém menos que Manuel Bandeira. Presente da namorada).

Eurico Martins de Araújo, pela pena talentosa de Rocha.
Voltarei a Ouro Preto – agora, na véspera do famoso “Doze”. Comigo, Mary Anne e a mineiríssima Dênia Diniz de Freitas. Dia 11, meu amigo, ex-colega no saudoso Banco do Estado de Goiás, o engenheiro – civil e de minas – Eurico Martins de Araújo, ex-aluno da secular Escola, vai autografar seu livro “República de Estudantes – Elo de Ouro Entre Antigos Alunos e a Escola de Minas”. O local é a própria Escola de Minas, na Praça Tiradentes.

A volta, já sei, será uma viagem em que me sentirei mais sabido – e mais rico. Não de esperteza, que não me interessa; nem de pecúnia, que isso dá muito trabalho. Voltarei, sim, feliz pelo convívio (ah! Certamente, vou conhecer a professora e poetisa Cláudia Pereira, parceira de informes e versos via Internet; e hei de rever Romério Rômulo) e trazendo o livro que conta a história das famosas repúblicas.


* * *

Um comentário:

Mara Narciso disse...

Ouro Preto é mágica. Propicia uma gostosa volta ao passado, a reflexão, e a imaginação. A imagem dos inconfidentes acaba sendo pensamento obrigatório. E os poetas? Lugar enriquecedor.