Casas
de letras e afins
Sempre que vejo pessoas – especialmente os da
arte – criticarem os grupos sociais de modo pejorativo (“panelinha” é o termo
mais corriqueiro), menosprezo o comentário. Explico: o bicho sapiens é dado,
sim, a associar-se por suas afinidades e (ou) necessidades. Foi por isso que
surgiram as tribos, os clãs, as associações, clubes e sindicatos, os
aglomerados a que chamamos de vilas, povoados, cidades e, por fim, as
províncias e os estados. Logo...
Por razões óbvias, os clubes (ou associações) de
que mais participei e participo são os de letras. Não que tenha deixado de
compartilhar de outras entidades, como clubes sociais, associações
profissionais e me apegado a dois times de futebol (essa paixão nacional que é
quase unanimidade), mas o ofício da escrita sempre me puxou com mais força.
Houve
a União Brasileira de Escritores de Goiás, aonde fui levado pelo presidente
(1977) Miguel Jorge; depois, tornei-me membro da diretoria e até presidente;
depois, veio a Academia de Letras e Artes de Caldas Novas (1990), seguida de
perto pela Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (1994) – destas, participei dos trabalhos de
fundação. Em 1996, fui eleito para a Cadeira 10 da Academia Goiana de Letras
(vaga surgida com o falecimento do inesquecível amigo Carmo Bernardes, justo
ele que me estimulou a integrar a AGL).
Em1998,
quando ainda presidia a UBE, fui honrado com o título de Membro Correspondente
da Academia Piracanjubense de Letras e Artes; esta entidade tem a mesma idade
de sua co-irmã de Caldas Novas, isto é, foi fundada também em 1990. E, mais
recentemente, com consumação neste
ano de 2013 (o convite para integrá-la veio em 2012), passei a integrar o
quadro de membros efetivos da Academia Aparecidense de Letras, na vizinha
Aparecida de Goiânia.
Vejo
as casas de letras nos municípios do interior como expressões grandiloquentes
de suas sociedades. É nelas que se agitam os pensamentos e os ideais, são
redutos onde se exercitam a criatividade e o amor à comunidade (naturalmente,
ao próximo), na busca quixotesca da valorização da comunidade. Por integrar a
Academia de Pirenópolis (berço natal de meu pai), senti-me enaltecido como
cidadão literário dali; como se não bastasse, acabei vice-presidente e, em
seguida, presidente da entidade; e a Câmara Municipal de lá destacou-me com um
título emocionante – o de cidadão honorário. A APLAM está um tanto adormecida,
mas alguns acadêmicos movimentam-se para reativá-la; falta apenas que a atual
presidente se decida por acolher a iniciativa desses lutadores – ou a entidade
pode vir a “abater colunas”.
A
de Piracanjuba – que tem sede própria desde 1999 – continua ativa e atuante,
orgulho da terra de João Accioly, Léo Lince e Nei Teles de Paula. A de Caldas
Novas acaba de ganhar do prefeito Evandro Magal os espaços do Museu Oscar
Santos para abrigá-la (propósito a que empenhei-me nos primeiros anos da
Academia e que só foi retomado agora, sob a presidência da professora e
escritora Marília Núbile).
A
de Aparecida completou seu quadro de 40 membros há poucos meses; ato contínuo,
obteve a proximidade e amizade da professora Maria de Lourdes Primo, que dirige
a Biblioteca Ursulino Leão. Ela
obteve, do líder local Freud de Melo, uma espaçosa sala para acolher a
nova entidade (nova? Sua criação já tem dez anos; esse tempo entre criar e
completar-se é o atestado da determinação de seus idealizados, sobre os quais
falarei oportunamente).
Festejo
essas entidades com indisfarçável alegria! Sou feliz por ter integrado os
grupos criadores de duas delas e envaidece-me ter sido lembrado pelos que
integram as outras duas – sem desmerecer a entidade-mor em Goiás, a
Academia Goiana de Letras; esta é
a casa de maior referência, sem dúvida, mas as academias municipais têm o
fetiche de nos integrar à vida local.
Lutemos
mais, meus confrades! Nossa obra maior é o exemplo que podemos deixar aos
pósteros.
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