“Cirurgias” na paisagem urbana
Um dos meus propósitos de escrita é despertar
discussões e buscar mudanças. Em 11 de janeiro
de 2001, o DM publicou esta minha crônica.
discussões e buscar mudanças. Em 11 de janeiro
de 2001, o DM publicou esta minha crônica.
Só se
valoriza a casa estando-se fora. Não há cama mais macia, comida melhor temperada,
ambiente mais aconchegante que no tal de lar-doce-lar. É um sentimento que nos
assola se fazemos uma viagenzinha de poucos dias aqui por perto e, com muito
mais intensidade, quando a distância acentua o valor das nossas preferências.
Aí, a saudade não é só de casa, é também da cidade, com suas ruas de flores e
sua gente do jeito que a gente conhece. Até o cheiro das ruas é diferente e
lembrar o da nossa terrinha sugere intimidade.
Sou
dos que juntam velhos papéis, velhas fotografias. Certa vez, lá pelo final da
década de 1980, encontrei numa banca de jornais nas proximidades da Praça do
Bandeirante, esquecidas, duas reproduções fotográficas da mesma Praça. Por
aquela ocasião, os anos 80, a estátua do Anhangüera já estava integrada à
ilhota central da Avenida Goiás, por iniciativa de Índio Artiaga. Mas as fotos,
sem dúvida, remontavam aos anos do governo de Mauro Borges (1961-64): a estátua
ocupava um círculo central, na confluência das duas grandes avenidas e, no chão
de asfalto, a frase ufanista daquela gestão de muitas novidades: “Vamos criar a
Dispetrolgo”. Minas criara a Petrominas, Goiás podia, então, ter também a sua
distribuidora de derivados de petróleo. Afinal, o governo de MB havia criado
Ipasgo, Secretaria de Planejamento, Iquego, Metago, Idago, Imbago, e muitas
outras coisas terminados em GO, para o exercício da nossa patriotada
cerradina...
Outra
foto significativa é em preto e branco. Copiei-a no laboratório fotográfico de
um dos jornais em que me orgulhava de ser repórter (acho que a Folha de Goiás,
que se escrevia Goiaz). É uma panorâmica da Praça Cívica, tomada, parece, do
alto do relógio da Goiás, nas proximidades da Rua 1. Guardo-a na página 856 da
Revista Oeste, edição de outubro de 1944, onde está publicada. Ou seja, é uma
foto de 46 anos atrás e, tendo o coreto em primeiro plano, mostra bem no centro
o obelisco que a administração municipal permitiu, por volta de 1966 ou 67, ser
substituído, a pedido do Rotary Clube, pelas estátuas que simbolizam as três
raças.
Foi o ponto
de partida. Em seguida, tanto agrediram a Avenida Goiás que seu canteiro sofreu
inúmeras mudanças, até chegar à fórmula que outra administração, em 1976, impôs
aos goianienses, desrespeitando a paisagem original da cidade de Pedro Ludovico
e desenhando, com pedras portuguesas, o logotipo do supermercado Serve-Lar, de
propriedade do então prefeito (o mesmo que redesenhou os canteiros centrais da
Praça Cívica, também desfigurando a paisagem original da cidade).
De
agressão em agressão, os amigos do primeiro prefeito mutilador acabaram por
desfigurar a Avenida Anhangüera em toda a sua extensão, torrando uma fortuna
advinda da malfadada venda da Cachoeira Dourada.
Espera-se, agora, que o bom
senso seja recrudescido para que se corrija um erro de quase 40 anos: transfiram-se
os “negrões” da Praça Cívica para a Praça do Trabalhador e restaure-se o
obelisco central da Praça Cívica. Como o fez Hélio Mauro com o coreto da mesma
Praça Cívica e o cruzeiro de pedra da Praça da Cruzeiro, igualmente mutilados
em 1971-72.
*
* *
Nenhum comentário:
Postar um comentário