A reforma e a Cultura
Na última quinta-feira, o
governador Marconi Perillo assustou políticos, correligionários e alguns
segmentos das atividades goianas com a proposta de reforma administrativa já
aguardada com alguma ansiedade. Essa proposta, já protocolada na Assembléia
Legislativa, reduz de 26 para apenas 10 as secretarias que constituem seu
governo, aglutinando algumas atividades, de modo a racionalizar custos
administrativos.
Essa é uma exigência que a
sociedade brasileira faz ao governo da União, hoje formado de 39 ministérios e
várias agências específicas. Recordo-me de, ao tempo de 12 a 15 ministérios, as
Forças Armadas dividirem-se em três pastas distintas; criou-se um Ministério da
Defesa e as três Armas caíram para o segundo escalão; a mudança apenas centrou
em um ministro civil (e, convenhamos, os que até agora ocuparam o cargo
valeram-se dele para se despontar na mídia; mas essas forças funcionaram sob
seus respectivos comandos).
Aqui, numa reforma de 16
anos atrás, a Secretaria da Segurança Pública absorveu os comandos-gerais da
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, além da Polícia Civil que era,
até então, a única grande instituição sob a SSP. Esta, agora, absorve a que
cuidava dos presídios.
Dentre as 10 pastas
remanescentes, cinco ficarão intocáveis: Governo, Planejamento, Casa Civil,
Fazenda e Saúde. A Educação saiu fortalecida, acolhendo as de Cultura e de
Esportes. Certamente, estes dois seguimentos serão dirigidos por
subsecretários.
O que muda? Menos gastos em
gabinetes; menos pessoas nas reuniões de secretários – salvo quando o
governador convocar reuniões em que haverá de pormenorizar avaliações e novos
rumos – ou cobranças. O andamento da máquina, creio eu, dar-se-á no mesmo tom e
talvez até com mais eficácia; não há muito tempo, alguns procedimentos
burocratizaram excessivamente na medida em que um secretário se empenhava em
destacar-se a qualquer custo. E que custo!...
Por outro lado, o
enxugamento da grandiosa mesa de reuniões refletirá, além da contenção de
custos administrativos, em menor influência partidária na máquina de gestão.
Vejamos: a estrutura federal, com tantos ministros, presidentes de agências e
gestores intermediários como os presidentes de estatais e seus
vice-presidentes, num universo bastante ampliado, resultou, por exemplo, no que
a chamada Operação Lava-Jato da Polícia Federal mostrou na manhã da
sexta-feira, dia 14/11: a prisão de 18 pessoas, entre presidentes de
empreiteiras e dirigentes da Petrobrás e de subsidiárias – as razões já são por
demais sabidas.
Bem, vou resumir: a política
cultural no nosso Estado só se deslanchou quando tivemos autonomia na gestão e
pessoas certas na direção. Voltar à Educação, sem que o gestor de Cultura e o
de Esportes tenham competência já comprovada é regredir. Mas o equipamento
físico e imaterial de ambos os segmentos são indícios de que o governo pretende
continuar acertando – como temos visto no já citado segmento da Segurança
Pública.
A política cultural – um
segmento do qual entendo um pouquinho – continuará seu caminho, sem dúvida.
Quanto à qualidade dos feitos, isso cabe a nós, artistas e intelectuais
criadores de cultura.
Acredito nos propósitos e na
seriedade de Marconi Perillo. E sei que todos nós, produtores culturais,
estaremos atentos às ações da pasta da Cultura – autônoma ou “dentro” da
Educação. E ressalto mais: no tempo em que a Cultura (dentro da Pasta da
Educação) não se desenvolvia era porque os secretários eram médicos ou
advogados, e como tais professores eventuais; hoje, se tivermos um secretário que
seja de fato educador, a Cultura anda e o Esporte também. Educadores sabem o
valor dos esportes e das práticas culturais na formação do cidadão.
* * *
Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia
Goiana de Letras.
5 comentários:
O que me encanta em você é a sobriedade de suas palavras e honestidade de suas convicções. Tenho um baita orgulho de ser seu amigo. Muito bom!
Ainda temos muitos caciques apitando para índios de outras tribos, aqui, principalmente nos municípios do interior. Enquanto tivermos "aspone", teremos que pagar salários a pessoas desqualificadas. Não conheço o trabalho do Governador do Estado de Goiás, mas já estou rendendo minhas homenagens a ele, pela brilhante iniciativa de enxugar a máquina administrativa. Ainda sonho, também, com o fim desse pluripartidarismo vergonhoso e, em contrapartida, com a obrigatoriedade da formação específica para a ocupação de todos e quaisquer cargos públicos. "Cada macaco no seu galho!".
Caro Aquino, a complexidade administrativa, somada à necessidade de contato (quase) direto, tem levado os administradores à multiplicação dos ministérios eou secretarias; na verdade, tenha ou não status de tais magnitudes, o cerco político-partidário-diversionista permanece. As pessoas certas nos lugares certos passa longe de qualquer necessidade de votos em eleições sucessivas. Cada um "administra" - sempre - com os olhos e a vontade centrada no próximo pleito. Abraços. Pedro.
Luiz,
Vamos ficar atentos a essa nova pasta, com a cultura e o esporte atrelados
à educação. Todos importantes e necessários a um povo que precisa ir para frente,
sair da mediocridade, da ignorância e caduquices de muitos, sejam dirigentes ou
dirigidos. Valeu!
Beijo, Lu.
Maria Helena
Que o enxugamento encontre a seriedade e a eficácia.
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