O protocolo, as vaias e o conflito
Vaias e gritos
contra o governador Marconi na recepção a Dilma Rousseff, no Paço Municipal.
Certo que aquele evento, na quinta-feira, dia 19, em Goiânia era temerário: a
presidente vinha à cidade logo após o domingo de manifestações contrárias em
todo o país – e Goiânia participou com uma concentração e passeata de 60 mil
pessoas. A recepção nos limites do Paço Municipal possibilitou uma certa
confiança na segurança montada, e tal se deu.
Temerária também
era a presença do governador Marconi Perillo na recepção – mas ele foi. E foi
vaiado, como era de se esperar. As postagens dos radicais nas chamadas redes
sociais mostram que os fundamentalistas pró-Dilma são radicais contra Marconi,
enquanto os fundamentalistas anti-Dilma não diferem muito dos militares do PT e
de seus aliados mais à esquerda – movem-se mais pelo ódio que por ideologia.
Houve as vaias e a
reação do governador. Ele justificou com firmeza sua postura, lembrou que
jamais exerceu posição agressiva à presidente e que reconhecia a legitimidade
de sua eleição. Nas redes, opiniões conflitantes e radicais, de novo. Uns
mostrando-se decepcionados com o governador, outros definindo-o como aprendiz
de Iris Rezende. E os menos radicais apontando para a conveniência (absorver
para si os que apoiavam Dilma e estão, agora, insatisfeitos com ela) e o
protocolo (a diplomacia deve ser uma constante nas relações entre os entes
governamentais).
Marconi agiu certo,
a cordialidade é dever de um governador ante a presidente. E, convenhamos, ela
foi, de fato e legitimamente, eleita. Oponho-me a ela, pelo péssimo governo
realizado e pelas promessas de campanha que caíram no vazio assim que o TSE
assegurou que ela estava reeleita. E acho também que agiu certo o Sr. Cid
Gomes, ministro da Educação até a última quarta-feira.
Para uma
"pátria educadora", o corte de sete bilhões na verba da Educação, a
bagunça instalada nos computadores que operam o FIES e o esvaziamento (por
isso) da autoridade do ministro, o desfecho se justifica. O Parlamento
sentiu-se ofendido. Poxa, coitadinhos! Ele falou que 400 ou 300 seriam adeptos
do "quanto pior, melhor" e que tal postura acontece para viabilizar a
extorsão – ou achaque – ao Executivo, negociando os votos e ações.
Alguém duvida? Ora:
naquela manhã, a Folha divulgou uma pesquisa de opinião em que o apoio à
presidente Dilma caiu a 13% e apenas 9% dos brasileiros consideraram os
parlamentares ótimos e bons. Ou seja: Cid Gomes está certo. E se é para cair,
que se caia com dignidade (ainda que com uma boa dose de grosseria).
O fato é que Dilma
Roussef, após a eleição, arriscou-se numa empreitada de esvaziamento do PMDB, o
principal partido na rede de apoio ao PT, o partido a que está, agora, filiada
e que se sente o rei do poleiro. Esqueceu-se, talvez de quantos senadores,
deputados federais, governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores tem
o antigo “manda-brasa”. Parece-me que o MEC foi sabotado com a redução de verbas
e o empastelamento dos programas do FIES na rede de computadores.
Imagino que outros
ministros, como Gilberto Kassab, estão com suas barbas de molho (as mulheres...
bem, com o advento da depilação, elas não se preocupam com isso. Até porque o
feminismo é o partido mais forte na base, ainda que sequer tenha registro no
TSE). Isso de desencastelar o PMDB furou, falou, faliu. O governo está se
desintegrando. O ministro da Fazenda amarelou quando levou um pito da
presidente, mas Cid foi atrevido – chutou o pau da barrada e jogou caca no
ventilador.
E por maior que
seja o respeito que se deve ter para com a presidente da República, Dilma
Rousseff que se cuide melhor – e já se previne: há de reatar o namoro com o
PMDB.
***
Esta crônica foi escrita há dez dias e deveria ser publicada no caderno de Opinião Pública do DM. Por alguma razão não o foi, e eu o considerei anacrônico a partir da terça-feira seguinte (dia 23 passado), mas os editores o publicaram neste domingo, 29/3/15. L.deA.
2 comentários:
Eu reparei no atraso da postagem. O desalento e desconforto é geral, ao vermos desapontados, buracos por todos os lados da nossa sociedade brasileira. Que o período de tumultos cessem e o governo encontre um caminho.
Estou acompanhando. ...
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