O
Sesc e a homenagem a José Veiga
Sejam
tolerantes, queridos leitores! Volto a falar do centenário de José J. Veiga –
ou seja, dos eventos que se desenvolvem em torno do magnífico e virtuoso
romancista, novelista e contista brasileiro de projeção internacional. Para nós
(goianos), é o menino que deixou Corumbá de Goiás para morar na capital (a
antiga Goiás) aos 12 anos; aos 20, num “especial” (um automóvel fretado),
chegou a Leopoldo de Bulhões (que era, então, o fim da linha) e tomou um trem
para o Rio de Janeiro, onde viveu até 1999, com um intervalo de cinco anos em
Londres.
Desta vez foi no
Sesc Centro, em seu novo prédio da Rua 15, onde temos o Teatro e a Biblioteca.
Ali ouvimos belíssima palestra do consagrado Ignacio de Loyola Brandão, que contou
de seus dois encontros com José e do processo criativo. Deliciei-me! Loyola
Brandão sabe das coisas... ele não viajou na história de que entre José e Veiga
havia Jacinto Pereira (respectivamente, o nome do meio de seu pai e o nome de
solteira de sua mãe). O jota-ponto foi sugerido por João Guimarães Rosa – amigo
de José – por conta de melhor sonoridade e – isso o próprio Zé me contou – por
uma questão de equilíbrio numerológico.
Guimarães Rosa
era supersticioso? Não sei! Certamente era numerólogo e acho muito interessante
saber que o autor de Sagarana, amante e escultor das palavras, era também um
admirador dos números. E o próprio José disse-me, certa vez, de que gostava que
seus livros tivessem quatro palavras. E exemplificou: “A Máquina Extraviada não
teve grande sucesso na primeira edição; para a segunda, decidi mudar para A
Estranha Máquina Extraviada – e ele deslanchou”. Noutra crônica, voltarei ao
caso do nome de José – sei que ele será assunto em meus escritos outras vezes,
ainda.
Em Corumbá de Goiás,
José J. Veiga e Bernardo Élis, os dois mais conhecidos escritores nascidos na
cidade – ambos em 1915 – foram homenageados nesta sexta-feira, dia 20
(esclareço: escrevo na manhã desta mesma sexta-feira, portanto não posso contar
da festa em Corumbá, ainda). E ao ser convidado, parei para pensar, emocionado:
“Que outra cidade em Goiás festejará, num mesmo ano, o centenário de dois de
seus filhos com tamanha projeção no mundo literário?”. José atravessou os
limites geográficos, isto é, as fronteiras e os oceanos, e Bernardo,
maravilhoso autor de belíssimos contos, alcançou a honraria do fardão
acadêmico, sendo o primeiro (e, ainda, o único) dos goianos a ter lugar entre
os 40 da Casa de Machado.
E volto à festa
no Teatro e na Biblioteca do Sesc, em Goiânia. Fui surpreendido, ao lado da
minha amiga Dênia Diniz de Freitas, sendo homenageados pela instituição.
Recebemos, cada qual, uma placa. A de Dênia reza:
Uma homenagem do Sesc Centro por sua inestimável
colaboração, como bibliotecária, ao catalogar o acervo literário de José J.
Veiga, que hoje integra a Biblioteca e mantém a memória deste célebre contista
goiano e renomado nome do realismo mágico brasileiro.
E a minha está
assim:
Somos gratos por sua contribuição ao Sesc Centro e à
comunidade goiana pela entrega do acervo pessoal do escritor José J. Veiga, que
por certo manterá viva a memória desse célebre contista goiano e renomado nome
do realismo mágico brasileiro.
Assinam José
Evaristo dos Santos, presidente do Sistema Fecomércio, e Giuglio Settimi Cysneiros,
diretor regional do Sesc Goiás.
Foi Dona
Clérida, viúva de José, quem, no dia 20 de setembro de 1999, um dia após a
despedida final, quem me ligou para dizer que meu amigo lhe dissera para
incumbir-me de cuidar de seu acervo. E foi Dênia quem se prontificou, sem
remuneração alguma, a trabalhar no preparo daquele acervo, tal como o entreguei
ao Sesc – após oito anos de andanças, ofertas e detalhamento. Eu já estava
cansado dos chás-de-cadeira de meses e até anos, mas quando procurei o Sesc,
tive apenas 15 minutos para ouvir uma resposta afirmativa.
Estou, sim,
muito feliz!
***
Luiz
de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Luiz de Aquino,
Impossibilitada, não compareci ao evento em comemoração ao centenário de José J. Veiga, durante o qual você foi calorosamente aplaudido pelo justo reconhecimento à memória do grande autor.
Conheço, através de textos seus, a grande admiração que nutriu pelo contista desde jovem, como bem atesta sua foto, ainda garoto, ao lado dele, com um meio sorriso, que testemunhava imensa felicidade! Sua luta em preservar a memória de José Veiga jamais poderá passar despercebida, é digna de respeitosas felicitações!
Carinho desta amiga de sempre.
Ana Maria
Que bom ver reconhecido um trabalho, ainda mais referente a um escritor tão importante e sua paixão. Há tempos que leio sobre ele, que vim a conhecer através de você. Contar a história de maneira correta é primordial. Parabéns pelo feito e pela horaria recebida. É assim que se constrói bem.
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