Cól
cênter
(ou: A CELG faz chover?)
(ou: A CELG faz chover?)
Quantas vezes,
leitores queridos, vocês já foram chamados nos incontáveis cól-cênteres que
aborrecem nossas vidas quase todos os dias? Uns nos ligam para nos vender,
outros para nos cobrar, outros para oferecer cartões de crédito, outros para
sugerir um político etc. e tal. E há aqueles para onde ligamos na tentativa de
solucionar algo – como, por exemplo, as questões de serviços públicos.
Na manhã deste
sábado, dia de festa cívica nos “istá zunidos”, acordei sem energia em casa. Aguardei
meia hora, uma hora. E como a falta de energia continuava (ia dizer falta de
luz, mas a luz do Sol já me bastava, precisava era de energia para ligar o
computador e a tevê, ouvir notícias enquanto escrevia).
Tudo bem, peguei
uma conta da CELG, liguei para aquele zero-oitocentos meia-dois zero um nove
meia e cumpri o passo a passo, digitando o número da minha Unidade Consumidora –
uma espécie de cepe-efe da minha conta. Atendeu-me um Thiago, que forneceu-me
um número de protocolo mas não pôde prosseguir com o serviço porque o sistema
estava fora do ar, que eu ligasse novamente em alguns minutos.
Liguei. O
segundo atendente, Kléber ou algo parecido, antecipou para dizer-me que estava
com todo o sistema fora do ar, que eu retornasse em uma hora. Retornei. Uma
moça (não lhe guardei o nome porque a conversa ficou um tanto difícil) fez-me
as perguntas corriqueiras, como repetir o número da Unidade Consumidora,
declinar meu nome completo etc. e tal.
Tudo ia bem até
que ela... Bem! Vou interromper para destacar outra história. Agências de
cobrança (vez em quando sou assediado por elas) sempre nos pedem muitas
informações, como declamar o número do cepe-efe, data de nascimento e nome da
mãe, endereço com CEP e números de quadra e lote etc. Mas culminam com duas
perguntas bastante invasivas – ou imbecis: “Qual foi o motivo do não pagamento
na data certa?” e “O dinheiro que o senhor usará para o pagamento virá de que
fonte – salário, INSS, empréstimo ou outra fonte?”.
Sem comentário!
E retorno à moça
que me atendeu na CELG, sem me fornecer novo número de protocolo (certamente,
ficou valendo aquele do primeiro contato). Depois de checar meu nome, endereço
etc., perguntou-me sobre “uma referência”. Falei que se tratava de um
condomínio fechado, mas... Tudo bem! Lembrei-me do posto de combustíveis que
tem na margem (e não “às margens”, como dizem os coleguinhas de rádio e tevê)
da BR-153, aqui ao lado. E a moça, então, fez a pergunta que me divertiu,
espantou e estupificou: “Como está o tempo aí, está chuvoso ou nublado, do tipo
que vai chover logo?”.
Ah, “mondiê”!
Faz isso comigo não, moça! – pensei eu. E respondi-lhe pelo óbvio:
– Minha querida,
eu estou falando com a CELG, eu moro em Hidrolândia, bem ao lado de Goiânia,
estamos em Goiás, Planalto Central Brasileiro, e é julho. É claro que estamos
na seca...
A moça,
indignada, interrompeu-me, com aspereza:
– Mas eu tenho
de perguntar isso! – e repetiu, segura de si – Está chovendo aí ou não?
– Está bem, meu
amor – ajustei-me ao que ela queria – aqui não está chovendo nem há ameaça de
chuva, o céu está lindo e azul, os passarinhos cortam os ares, cantantes e
felizes!
Ela disse alguma
coisa dentro daqueles procedimentos que, parece-me, se ela não os recitar um
avião com 300 passageiros vai cair, o Estádio Serra Dourada será implodido ou
os defuntos vão fugir do cemitério mais próximo. E, para concluir, desloquei-me
a Goiânia, retornei duas horas após e os técnicos já haviam solucionado o
problema – sem chuva!
* * *
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
3 comentários:
Simplesmente, adorei!
Como estou rindo até agora, dei asas à imaginação e consegui vislumbrar seu semblante carregado de ironia. É preciso que estejamos emocionalmente preparados para experiências dessa natureza ou seremos vítimas de constantes picos hipertensivos. Lembrei-me da Light: "Poupe sua energia, use a nossa!",
A crônica é muito a realidade da nossa telefonia. Os COL-Centers enchem
o saco. Outro dia queriam dinheiro para o lar dos velhinhos. Eu
respondi - pode mandar, estou com 77 anos e tenho que trabalhar graças
ao fator previdenciário. Mas,em termos de energia elétrica, não temos
queixas. Atendimento muito eficiente.
Abs,
Questões burocráticas e atendimentos padrão nos emburrecem a todos.Sem contar as limitações que o "sistema" nos impõe. Já tentou pedir para trocar o tipo de pão ou de queijo numa lanchonete que tenha um "sistema"? Simplesmente não pode haver nenhum ajuste ou troca.
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