Hábitos
e rotinas
Naquela primeira
metade da década de 70, no século passado, duas campanhas institucionais do
governo de Goiás chamaram a atenção de todos. A primeira, inusitada e inoportuna,
mostrava fumegantes chaminés industriais e sugeria: “Traga a sua poluição para
Goiás!”. Ora, já havia ambientalistas, ainda que com outro nome, e a reação foi
enérgica! A segunda... Bem, vou falar rapidamente sobre a primeira.
A proposta do
governo era trazer indústrias para Goiás. Uma movimentação expressiva, porém,
buscava convencer governos e indústrias a reduzir a poluição ambiental em São
Paulo. E, na contramão ecológica, Goiás dizia querer a poluição. Em tempo ágil,
aquele anúncio foi trocado, porque em outras plagas já ridicularizavam a
infeliz campanha.
O segundo era sui generis. Pelos jornais e revistas,
nas rádios e na tevês, propunha mudar nosso horário de almoço. Era costume nas
famílias goianas o almoço entre 11 e 13 horas. O “reclame” (já não se usava
essa palavra, nome antigo para “anúncio”) mostrava um telefone (na tevê e nas
rádios, o telefone tocava) e uma frase buscava nos convencer, assim: “São Paulo
quer falar com você”, e sugeria que almoçássemos mais tarde.
Bastou muito
pouco para que os locais de trabalho estabelecessem o almoço entre o meio-dia e
as quatorze horas. E, parece, nunca mais São Paulo nos chamou sem resultado. Devo
contar, ainda, que nosso céu continuou límpido – conseguimos industrializar sem
poluição atmosférica (pelo menos, porque o agrotóxico jamais foi vencido).
Pois é, as
mudanças são necessárias sempre. Houve (e ainda se vê) muita resistência à
entrada das organizações sociais no sistema de saúde do governo estadual.
Falou-se em terceirização, privatização e outros “ãos” descabidos – mas os
resultados são altamente positivos. E é importante dizer que, ao passar o HUGO,
o HDT, o HMI e outras unidades de saúde para a gestão das organizações sociais,
o governo não investiu no escuro – contava, desde o início de suas atividades,
com os bons resultados do CRER.
Fala-se, agora,
em adotar a mesma medida na Educação. A resistência já se faz notar e muitos
professores manifestam-se contrários, receosos de maior depreciação da
categoria. Estranhamento, ao que me parece, os professores não são contra a
transferências de escolas para o controle da Polícia Militar (eu,
particularmente, prefiro as escolas na jurisdição da Educação, mesmo que com
gestão por OS).
As mudanças são
preconizadas dentro de um quadro de ineficácia, em face da burocracia que
retarda procedimentos e compromete resultados. Foi assim na Saúde, há de se
resolver assim também na Educação. Vivemos o tempo em que professores e
gestores da área estão expostos à violência das ruas, que invade escolas, e
alunos com problemas de conduta e carentes da educação familiar colocando em
risco a integridade de mestres e funcionários. Quem apoia a militarização das
escolas alega justamente o fator disciplina.
Escolas
particulares, antes opção para alunos que não logravam passar nos exames
admissionais das escolas públicas, não registram agressões de alunos ao seus mestres
e auxiliares. Essa característica é o que vislumbro na gestão por organizações
no sistema escolar público.
A única coisa a
se exigir, concomitante a essa mudança, é a real valorização do professorado,
com a paga mensal justa (e não falo do ridículo piso nacional, mas de um valor
que se discuta e se atinja em todo o país, com a União bancando as diferenças).
De resto, é enfrentarmos essa mudança. Afinal, porque as escolas públicas hão
de ser, sempre, a única coisa a preservar o ortodoxia em sua gestão e nos
padrões de ensino?
***
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Em cada época um costume, mas, mesmo naquela época soou mal a chamada pela poluição. Ainda bem que recuaram. Sobre o segundo item, não entendi bem a militarização do ensino público.
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