À
cata de soluções
Greves são mesmo
instrumentos de pressão eficazes. Sim, às vezes; ou seja, nem sempre. Greve de
profissionais de saúde, de peritos criminais, de coletores de lixo, de
coveiros, de policiais – essas são complicadas e devem ser evitadas a todo
custo. É que umas poucas horas que sejam sem o funcionamento regular desses “aparelhos”
do serviço público complicam seriamente a vida das pessoas.
Greves de
bancários também complicam – hoje, muito menos que antes, quando a tecnologia
de informação não estava ao alcance do “novo bancário” – que é o próprio
cliente. Assim como o cliente passou a ser o próprio atendente nos
supermercados, nos bancos a coisa funciona de modo muito parecido. Um cliente
não precisa mais do gerente para contrair empréstimos, fazer transferências,
sacar valores, pagar contas etc.-e-tal.
Greves de médicos
nos sistemas públicos de saúde complicam, podem resultar em muito sofrimento,
graves sequelas e até em morte – que, de uns tempos para cá, passou a se chamar
óbito. As pessoas – especialmente os coleguinhas da imprensa com pouca
familiaridade com a língua, a linguística, a gramática e a ortografia – tomaram
medo da palavra morte e procuram alguns eufemismos, mas ao mesmo tempo
substituíram o “risco de vida” por “risco de morrer”. Não entendi...
Mas voltemos à
questão das lutas e conquistas trabalhistas. Trabalhadores procuram parar para obter
melhores salários, melhores condições de trabalho e, em casos específicos, mais
verbas para seu segmento.
Costumo imaginar
como seria, por exemplo, uma greve de motobóis. O nosso modo de vida, agora,
depende muito e diretamente desses novos profissionais e sua paralisação atingiria,
sem dúvida, a quase totalidade da cadeia produtiva e de serviços. A todo
momento, vemos o motociclista entregando ou colhendo algo em qualquer estabelecimento
de comércio, aguardar que atendam a campainha de uma residência, conduzir
produtos e documentos e ainda há, em quase todas as cidades, os mototáxis. Se
eles pararem...
E, na outra ponta
das minhas observações, as greves dos professores. Estas atingem praticamente um
segmento social – as famílias dos estudantes, que veem a rotina anual ser
profundamente modificada, com adiamento do processo de ensino, retardando a
conclusão de cursos – o que, na fase de graduação universitária, humilha e fere
moralmente os alunos.
E como não se
veem greves nas redes privadas de ensino, nota-se que os “patrões” – que são os
governos – não se incomodam nem um pouco com a paralisação dos professores – e estes costumam repor as aulas perdidas, isto é, bagunçam os calendários e isso chega
aos estudantes como um desrespeito a suas dignidades pessoais, haja vista que
muitas perdas se registram nos últimos períodos acadêmicos, quando os formandos
programam cursos de pós e até mesmo viagens a outras centros nacionais ou
outros países para a continuidade de seus estudos.
Na educação
pública, a greve é inócua e só abala as próprias escolas e as famílias.
Mas como devem
agir os professores para sensibilizar gestores e políticos ante suas dificuldades?
Salários baixos são a queixa primeira. Mas outros problemas se agravam na vida
dos mestres – a segurança física é uma das mais gritantes. Esta semana, algumas
professoras escreveram-me para contar e pedir palpites. Elas são xingadas e
agredidas até mesmo por crianças de pré-escolas – pequenos cidadãos de quatro e
cinco anos de idade! E ameaçadas de agressões mais graves, como a famosa “Vou
te pegar lá fora” por meninos maiores, de dez ou doze anos, e por adolescentes
encorpados.
Em Caldas Novas,
uma professora informa ainda que a Prefeitura ameaça reduzir os salários dos
professores.
Os vereadores
nada dizem, a sociedade apenas ouve, os alunos expressam-se com o previsível “tô
nem aí” e muitos profissionais da Educação apresentam quadros de depressão e
até mesmo bipolaridade.
E aí, gente? Vamos
fazer greve?
*
*** *
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
3 comentários:
Boa tarde, querido poeta! Considero que nenhum profissional faz greve por esporte e que de barriga vazia e sem condições materiais é impossível alcançar objetivos. Já passei por situações extremas, as quais valeriam crônicas sofridas, todas vividas em quarenta anos de exercício do magistério. Embora aposentada há algum tempo, quando convidada a palestrar, não economizo "alfinetadas". Acho que andam me evitando!
Quando os argumentos são ineficazes, a única maneira de conseguir algo é com a greve.Ou nem com ela. Em medicina, morrer nunca foi morrer, sempre se diz "foi a óbito". Sobre trocar risco de vida por risco de morte, é uma aberração detestável, que precisa ser revista. Risco de vida é risco de perder a vida, por isso destrocaram risco de morte por risco de morrer. Quanto aos professores, estão passando por um período negro, mais escuro do que antes, considerando-se os baixos salários, o ambiente hostil e o risco de apanhar, pois com doenças psiquiátricas eles já estão com elas. No meu tempo, professores eram mestres respeitados, temidos, e obedecidos, que nos ensinavam lições para toda a vida e jamais eram esquecidos. É preciso começar urgente uma campanha para a revalorização do professor.
Luiz, o que acrescentar, meu querido, ao seu artigo buscando soluções sobre a greve? Você, com a costumeira habilidade e lucidez desenvolveu praticamente todas as possibilidades, os prós
e contras deste instrumento heroico de reivindicação.
Remédio heroico é citado
pelos médicos quando
outra medicação não surtiu o efeito desejado!
Postar um comentário