O médico Sebastião Gusmão - um filósofo! |
Aprendendo
a morrer
Dizem, e isso é
dado como voz-do-povo, que se traduz num eufemismo absurdo como “voz de Deus”,
que o homem é o único animal que sabe da morte, ou seja, que vai morrer. Aqui,
distingue-se morrer e morte, pois, pelo que aprendi numa belíssima palestra na
manhã da última terça-feira, “a morte não existe, existe o morrer”. E o
palestrante evocou o nome de uma obra notável de Jean Paul Sartre, O Ser e o Nada, explicando que o autor
discorreu sobre o Ser, mas não pôde falar sobre o Nada porque o nada não
existe.
Falo do Dr.
Sebastião Nataniel Silva Gusmão, professor de Neurocirurgia na Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Ele veio a Goiânia, convidado
pelo Dr. Luiz Fernando Martins, diretor de Ensino e Pesquisa no Hospital de
Urgências de Goiânia, para falar sob um tema intrigante –Aprenda a morrer vivendo. E ministrou uma excelente aula de
filosofia – tal como entendo e gosto de filosofia como a ciência da vida, e não
como um discurso inacabável e chato de teorias ininteligíveis.
O título dessa
palestra, informou Sebastião Gusmão, foi-lhe imposto pelo colega Luiz Fernando,
pois que o móvel desse encontro foi um texto por ele redigido e intitulado
“Aprender a morrer (viver)”. E poderia ter decepcionado quem esperava aprender
a morrer, ao começar sua fala afirmando que não se aprende a morrer porque
ninguém sabe quando a morte chega: “Quando a morte chegar, você não saberá,
pois ela chega no momento exato em que você deixa de existir”. E já responde às
questões com um conceito que tenho como incontestável – o que podemos fazer é
viver cada dia intensamente, procurando sempre o que nos cabe de melhor.
Ele busca um
antigo poema sânscrito – Mensagem da
Aurora – onde estão esses versos: “Cuida deste dia / Este é a vida, a
própria essência da vida. / Eis que o ontem é apenas um sonho, / E o amanhã é
somente uma visão”. E assegura-nos o palestrante: “O objetivo fundamental da
vida é alcançar a felicidade. Dois caminhos nos levariam a tal objetivo: o
prazer e o sentido da vida”.
Mas o Dr.
Sebastião Gusmão viajou 2.700 anos ao passado, buscou Tales de Mileto –
considerado o primeiro dos filósofos gregos, saltou para Sócrates, Platão e
Aristóteles, assegurou que com eles encerrou-se a Filosofia e os que vieram
depois limitaram-se a reproduzi-los, adequá-los ao tempo, mas citou Epicuro,
Schopenhauer, Nietzsche, Shakespeare...
' |
- Viver intensamente cada dia... |
De Epicuro ele
destacou que “é tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo
que, uma vez vindo, não causa mal e não significa nada. Enquanto vivemos ela
não existe, e quando chega, não existimos mais. E o não mais existir não causa
qualquer mal. É como um sono sem sonhos”.
E enfatiza-nos o
neurocirurgião filósofo:
– A busca da
felicidade em um sentimento subjetivo de prazer ou em uma sensação subjetiva de
que a vida tem um significado nos leva a constante tensão, confusão e
insatisfação. O desejo de prazer cada vez maior e de um sentido acima da
natureza real para nossa existência determina o sofrimento. A solução seria
eliminar o desejo para bloquear o sofrimento. Isso é aconselhado por
Schopenhauer e tentado pelos adeptos do budismo”.
E demonstrou, ao
longo de sua explanação, que não existe fórmula nem gabarito de uma boa vida –
cada um de nós determina o que lhe proporciona felicidade ou responde aos seus
anseios de uma definição, ou um sentido, para a sua própria vida: “Nenhum livro
de auto-ajuda nos dará respostas”.
* * *
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
6 comentários:
Enquanto lia, pensava na dor e viajei até 2007. Em apenas 8 anos, aprendi a reconhecer o que realmente vale a pena. Quantas lições, querido poeta!
Querido Luiz,
A leitura de suas crônicas é sempre um momento de prazer intelectual para mim.
Suas observações são relevantes e os temas nos mostram situações reais, em linguagem precisa e bem elaborada. "Aprendendo a morrer" foi excelente. Você foi a fundo na palestra do médico Sebastião Gusmão e passou para seus leitores a visão desse também filósofo sobre a referida questão. Interessante: o foco não é a morte, mas o morrer.
Bravo, Lu!!
Maria Helena
Oi, Luiz, gostei imenso das duas crônicas, como sempre brilhante, fazendo seu zig-zag, e abordando vários temas dentro da crônica e, claro, fazendo presente seu estilo, perfeito! Gostaria de publicar no meu face a segunda crônica - "Aprendendo a morrer". Maravilhoso! A morte é um assunto que me assusta horrores, não a minha, mas a das pessoas que amo, daí evito, mas nela você a descreveu, fez citações e fiquei sem medos, então estou te pedindo e aguardando a sua resposta. Beijos meu sempre querido poeta!
Inveja. Tema palpitante. Gostaria de ter assistido a essa palestra, Luiz, pois o assunto me interessa muito. Você nos trouxe a fala do doutor de uma ótima maneira.
Amigo Aquino você me encanta a cada flash de minuto. ...e acredito também em sintonia, pois li a crônica quando havia terminado de esboçar um poema qual enfatiza viver, e na qual afirmo não ter medo e sim pena dos q vão sentir minha falta e das coisas que faço ..elas também sentirão falta de mim....
Adorei a crônica. ..Vou lá ler de novo... (te mandarei o pré -poema)rascunho /estudo.
Amigo Aquino, você me encanta a cada flash de minuto.
...e acredito também em sintonia, pois li a crônica quando havia terminado de esboçar um poema que enfatiza viver, e no qual afirmo não ter medo e sim pena dos que vão sentir minha falta e das coisas que faço. Elas também sentirão falta de mim.
Adorei a crônica, vou lá ler de novo!
Rosy Cardoso
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