Atendimento em urgências
Um
hospital de urgências, como o nosso HUGO (Hospital de Urgências de Goiânia) não
é apenas o que se vê. O que se vê?
Aquele
edifício na margem direita da Avenida Primeira Radial (para quem vai do Setor
Sul ao Setor Pedro Ludovico), o pátio de estacionamento, um heliporto... O
vaivém de pessoas encaminhando amigo ou parente – ou buscando notícias – e
eventualmente um corre-corre de repórteres e de policiais – enfim, um agito
incontido, um movimento irracional ou intuitivo no afã de salvar vidas, no que
se envolvem centenas de pessoas de formações várias – médicos, paramédicos,
enfermeiros e assistentes, psicólogos, assistentes sociais, dentistas,
motoristas, ajudantes diversos...
Ali
ninguém vai com a paciência de quem procura um checkup ou um orçamento
odontológico. A clientela é, em quase totalidade, de pessoas acidentadas,
portanto fraturas simples ou expostas, traumatismo craniano (muitas vezes com
complicações que exigem providências no segmento buco-facial, com lesões graves
de maxilares etc.) e uma infinidade de outros desdobramentos. Há casos em que
uma equipe se faz de socorristas ortopedistas, neurologistas, odontólogos,
otorrinos, oftalmologistas...
Dá-se
que num hospital como aquele mobilizam-se cerca de 1.600 profissionais de
saúde, além da indispensável equipe de retaguarda – que vai de administrações e
assistentes até nutricionistas, trabalhadores em serviços gerais que garantem a
higiene (desde a limpeza de pisos e paredes até a complexa lavanderia, passando
por processos variados de esterilização instrumental e ambiental).
Há,
no HUGO, centenas de residentes médicos e de outras profissões, bem como
estagiários. Não raro, a unidade hospitalar é visitada por profissionais em
aperfeiçoamento com o propósito de pesquisas que alimentam dissertações de
mestrado e teses de doutorado. Como a enfermeira paulistana Flávia Holanda,
doutoranda em Administração de Enfermagem pela Universidade Federal Paulista,
que elegeu 12 hospitais de referência nacional para subsidiar sua tese.
Estive
com ela na Diretoria de Ensino e Pesquisa do HUGO, a DEP. Essa Diretoria coordena
tudo o que se relaciona com ensino e pesquisa no Hospital. Cabe a ela receber
estagiários e residentes, em medicina ou em múltiplas profissões envolvidas no
complexo das atividades do HUGO - uma unidade com tamanha complexidade e
importância no sistema público de saúde de Goiás, capaz de atender não apenas a
capital e sua região, mas todo o Estado e ainda muitos clientes advindos de
outras unidades federativas.
Essa
capacidade de atendimento é causa ou efeito da condição do HUGO – um
hospital-escola e sua Diretoria de Ensino e Pesquisa está sob a competência técnica
e administrativa do neurologista Luiz Fernando Martins.
E
foi justamente na Diretoria de Ensino e Pesquisa que pude conversar com a
doutoranda Flávia L. Holanda. É dela, para a obtenção do doutorado, a “Matriz
de Competência Profissional do Enfermeiro em Emergências”. Trata-se, se assim
posso dizer, de um manual de procedimentos que envolve todos os itens prováveis
ou possíveis nesse processo.
Resumindo
– diz ela – o tema é Competência Profissional. E define que, para atuar em
emergências, o enfermeiro tem que ter oito competências básicas – Desempenho
assistencial, Trabalho em equipe, Liderança, Humanização, Relacionamento
interpessoal, Tomada de decisão, Direcionamento para resultados e Pro-atividade.
E lista ainda várias competências associadas “que alimentam as competências
básicas”.
Pois
bem, esses detalhes enriquecem-se à medida que a profissional discorre sobre
sua tese. E é isso o que ela procura nos hospitais – listou doze deles, em
vários pontos do país (incluindo-se o HUGO), para coletar informações com
enfermeiros de hospitais, do SAMU e outros tipos de unidades de emergências.
“Achei
que o HUGO”, disse-me ela, “está organizado e se estruturado para este
atendimento. Tive boa impressão da equipe de atendimento, que é
multiprofissional, na Sala de Emergência, com assistentes sociais, psicólogos e
outros profissionais, além de médicos e enfermeiros”.
Referiu-se
ainda à questão de equipamentos, ou recursos materiais, indispensáveis a um bom
atendimento e concorda com a observação do diretor-geral do HUGO, Dr. Ciro
Ricardo, de que a busca é pelo ideal, mas que cada resultado atingido imediatamente
se torna passado e a busca por esse ideal é permanente. “O propósito – realça Flávia Holanda – é melhorar a qualidade com apoio das parcerias, inclusive os
governos. E destaca um dado importante, muitas vezes ignorado por quem
desconhece a complexidade do atendimento em emergência: “Há que se definir o
perfil do paciente em emergência” – e exemplifica com a possibilidade de recusa
de paciente, “numa atitude que à primeira vista pode parecer desumana, mas cada
unidade é preparada para um determinado tipo de cliente (paciente). Acolher um
paciente fora do perfil pode trazer graves resultados para este – inclusive o
óbito”, conclui ela.
* * *
Luiz de Aquino – jornalista e
escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Uma análise bem completa de jornalista habilidoso e de grande vivência. Deu para visualizar o formigueiro que deve ser o HUGO, porém um lugar de formigas organizadas, que buscam a excelência. Bom artigo.
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