Protestos
e drogas
Dois temas
nacionais destacam-se, na minha memória recente, como dos mais importantes da
semana. Não que eu me descuide dos problemas urbanos da nossa comunidade
próxima, como os furtos e roubos de rua, a violência escolar em Itumbiara ou
ainda o susto que tivemos, Lucas e eu, quando um trio da Polícia Federal nos
parou na rodovia. Procuravam dois homens num carro similar (houve um roubo, minutos antes). O delegado e um dos agentes desculparam-se e nos
tranquilizaram, enquanto eu pensava que “não se fazem mais policiais federais
quanto antigamente”: por uns vinte anos, a nação morria de medo deles.
São temas a comentar,
bem como alguns eventos artístico-culturais nas históricas Vila-Boa de Goiás e
Meia-Ponte do Rosário. Mas estes fatos referem-se ao quotidiano e os que
destacarei agora envolvem o futuro. Refiro-me aos movimentos de rua anunciados,
de cunho político, e o momento em que o Supremo Tribunal Federal apreciará a
liberação do porte de drogas para uso próprio.
Neste domingo,
16 de agosto, segmentos sociais convidam os insatisfeitos a ocuparem as ruas em
protesto contra a corrupção desenfreada e propondo o impeachment da presidente
Dilma Rousseff. De seu lado, os petistas e simpatizantes convocam outro
movimento, em reação aos indignados ante tanta falcatrua.
Ainda que com
suas doses de razões, vejo nos dois movimentos exageros descabidos. Uma coisa é
reclamarmos da corrupção que virou marca, quando antes a sabíamos existente,
mas mascarada. Hoje, ela se expandiu a tal ponto que autoridades estão sendo
presas! Isso é perigoso, pois a palavra pesa muito e destaca pessoas como se
fossem melhores do que a média, que vem a ser o cidadão comum. Pessoas
corruptas que sequer se envergonham ao serem conduzidas “aos costumes”,
escoltadas e, muitas vezes, algemadas.
Os oposicionistas
mais agitados são justamente os que tiveram seus “privilégios” cerceados com a
troca de partidos no comando nacional. Mas eram sorridentes e felizes quando as
mesmas práticas os beneficiavam – ou seja, não se diferem muito dos corruptos
de agora.
E na defesa do
atual status estão os que veem o deputado Sibá Machado como líder a ser seguido;
estes buscam ocultar-se atrás de uma vara de bambu. Sibá, líder do PT na Câmara
Federal, é aquele que verbalizou essa pérola, em abril último: “...conforme a
presidente Dilma já declarou, nenhum de nós viu sinal de corrupção na
Petrobrás. Se não vimos sinal de corrupção, a corrupção não existiu, a prisão
de nossos companheiros foi por motivação política. Se não houve corrupção, então
o dinheiro se auto-roubou para nos incriminar”.
Some-se a isso o
fato de ninguém menos que Luiz Inácio Lula ter apelado ao líder do MST que
“coloque seu exército nas ruas”; e o presidente da CUT que, esta semana, conclamou
os “cumpanhêros” a pegar em armas. Depois, tentou praticar um eufemismo idiota,
dizendo que “armas” era uma metáfora para “greves”.
Prefiro crer nos
propósitos de Aluísio Mercadante: fico com o Brasil, contra os que pregam a
guerra civil em defesa do PT no Poder e os que esperam viabilizar o impeachment
(que não é golpe, mas uma ferramenta legal) que, no caso, não encontra amparo
pois as medidas legais foram cumpridas na eleição do ano passado, ainda que
pesem suspeitas sobre o “hackeamento” das urnas). Não há bom senso que defenda
uma guerra civil. Se Lula deixou pegadas na lama desse escândalo será
chamuscado pelo fogo-amigo nas delações premiadas.
Quanto às
drogas, que o STF atente para a importância menor das liberdades individuais ante
o interesse social. Os usuários, financiadores do tráfico de drogas e do contrabando
de armas, já são responsáveis por grande parte dos homicídios que infernizam a
vida nacional. Dar a eles uma posição confortável é infernizar ainda mais a
família brasileira. O privilégio individual não pode sobrepor-se ao bem-estar
da coletividade.
***
Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da
Academia Goiana de Letras.
4 comentários:
Querido Luiz,
A leitura de suas crônicas é sempre um momento de prazer intelectual para mim.
Suas observações são relevantes e os temas nos mostram situações reais, em linguagem precisa e bem elaborada. "Aprendendo a morrer" foi excelente. Você foi a fundo na palestra do médico Sebastião Gusmão e passou para seus leitores a visão desse também filósofo sobre a referida questão. Interessante: o foco não é a morte, mas o morrer.
Bravo, Lu!!
Maria Helena
A propósito de sua crônica de hoje, é a terceira vez que o povo vai às ruas com a mesma determinação e p mesmo desejo! Voz do
povo, voz de Deus , já dizia minha avó!Quando foi o Collor os caras- pintadas estavam certos! A história parece estar se repetindo!...
Mesmo debilitada, não resisti ao prazer de ler sua crônica. Penso que exageros em manifestações sociais sempre são descabidos. Enquanto a maioria está indignada, outros defendem interesses escusos, alguns usando os antolhos que lhes foram colocados pelos falsos representantes do Pobre Trabalhador. Se a memória não me trai, lembro já ter comentado que há mais de 30 anos eu temia essa quadrilha no poder. Quanto às outras drogas, igualmente destruidoras, não se lhes é dado o efetivo combate porque geram lucro e, consequentemente, votos. Verdade é que Educação atrapalha o desgoverno, daí o caos!
Raros brasileiros não querem que os corruptos tenham suas culpas provadas e sejam julgados, condenados e presos, preferencialmente devolvendo o nosso dinheiro. Dizer que não houve roubo na Petrobrás é algo que beira ao delírio. Leis duras e tolerância zero com o crime surte efeito em muitos assuntos. Ainda que eu tenha medo, as estatísticas mostram que os viciados não oferecem perigo à sociedade, quando levam suas drogas para consumo próprio. Não tenho juízo formado. Prefiro uma liberdade menor. A intenção é esvaziar as prisões para colocar os criminosos perigosos.
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