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quinta-feira, fevereiro 18, 2016

Brasigóis Felício conta historinha verídica...

...de dois Josés - um Fernandes, outro Veiga...






O homem do absurdo



Brasigóis Felício



Quase todos os objetos de suas análises literárias estiveram 

situados nos paramos ou do realismo fantástico, ou da 

literatura do absurdo. De tal maneira se adentrara nos 

labirintos de tais autores e obras, que em meio à biblioteca 

labiríntica do universo a que tiveram acesso – e foram 

milhares de livros – aquele era o que mais o seduzia. E em 

cuja seara mais produzira. Em sua visão, toda a existência 

humana decorre no chão movediço e implacável do absurdo. 


Pois que a criatura se sabe nascida para a morte inapelável. 

Ao menos sucede assim com os poucos, da massa não 

pensante, esta que vive para a satisfação dos instintos 

básicos; sendo e existindo como animais saciados que 

procriam.





José J. Veiga, em sua última vinda a Goiás (1998).




Ele agora estava convidado a falar sobre a literatura do 

absurdo de um dos autores mais renomados 

do gênero. Equivocadamente, segundo no notório e 

notável crítico, colocado pela crítica como autor do gênero 

fantástico ou surrealista, na linha de Cortázar, Gabriel Garcia 

Marques e Jorge Luiz Borges. Foi convidado por notória 

especialização na área, daí terem sido dispensadas as 

licitações exigidas em lei. 


José J. Veiga em bronze de Neusa Morais (1999).


A comprovar a tese crítica do mestre, de que nesta vida 

quase tudo é absurdo, mesmo nas horas e ocasiões mais 

engravatadas, solenes e sisudas, cita o fato de que, certa 

feita, pela manhã, recebe o telefonema deste famoso autor 

goiano, reconhecido nacionalmente como o autor do 

fantástico mais proeminente, dentre os nascidos em nossas 

plagas. Disse no telefonema que fora convidado a receber um 

título honorífico, na Assembléia Legislativa do Estado, e que 

ali não via ninguém para o apanhar, e leva-lo ao hotel já 

reservado por aquele histriônico e trepidante poder 

legiferante.

José Fernandes - escritor múltiplo e crítico literário.


O crítico, de nome José Fernandes, por sinal tornado amigo 

do autor, dada a longa convivência à beira da biblioteca 

daquele, e da dele próprio, já que se frequentavam 

habitualmente. Prontamente lá foi, recepcionou 

calorosamente o amigo escritor.Quando já iam saindo do 

aeroporto, puderam ver o carro preto da Assembléia, 

chegando para o dever de ofício.Tarde demais. José J. Veiga 

sentia-se bem na companhia do seu amigo, e deu-se por feliz, 

por ser levado à casa dele. Lá eles lancharam, palestraram, 

almoçaram.



O escritor descansou da viagem, e só bem mais tarde, já 

beiradeando a hora da solenidade, pediu para ser levado ao 

hotel. Dispensara o carro preto com o motorista gravatinha. 

Ocorre que, na ocasião mesmo em que discorria sobre o 

absurdo recorrente na literatura veiguiana, repleta de 

personagens alusivos a ministros da ditadura militar de 64, 

roliços Delfim Neto) e taquaras rachadas (Ernane Galveas), 

estava o crítico a falar “de esgueio”, ou de banda, por falha 

do cerimonial acadêmico. Convidado foi a ficar de frente 

para plateia o representante do Governador, e o secretário 

do colegiado de imortais. 


O representante do governador, elegante, gente boa toda 

vida, até se ofereceu para trocar de lugar com o palestrante, 

mas este recusou. Falaria dali mesmo, já tinha passado por 

situações piores. E a confirmar que tudo nesta vida tende 

mesmo para a absurdez, falou de banda. Malaspena que 

todos se sentiam em casa, e ninguém ficou constrangido com 

a cena. Sendo de se esperar que o acadêmico mestre da 

crítica ão tenha ficado com torcicolo, pelo esforço dispendido.


Brasigóis Felício, poeta e prosador,  membro da Academia Goiana de Letras.


******



E eu comentei: 


 Caríssimo poetamigo e irmão de dores Brasigóis Felício, a história já nos era sobejamente 

(rs) conhecida, mas contado pela sua verve ganha curiosidade bastante para alcançar as 

últimas letras. Meu abraço carinhoso a você, ao mestre José Fernandes e à imortal 

memória do nosso José Veiga (lá fora, sempre José J. Veiga). Luiz de Aquino Alves Neto



Um comentário:

Sônia Elizabeth disse...

Veiga merecerá sempre nossa eterna homenagem. A crônica de Brasigóis comprova isso.