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segunda-feira, setembro 05, 2016

Lara Câmara e Guilherme Costa

O amor começou ao pé dos Montes Pireneus; o casamento se deu na encosta do Morro do Frota; os nubentes são escaladores de montanhas e o celebrante, um poeta pirenopolino. 


O amor na pele da montanha

Por Luiz de Aquino 

Guilherme Costa, engenheiro civil, e Lara Câmara, estudante universitária, conheceram-se ao pé dos Montes Pireneus, montanha que dá nome a Pirenópolis, praticando o esporte a que se dedicam – a escalada. Os primeiros olhares e falas resultaram no namoro. Não demorou quase nada e decidiram-se pelo casamento, também realizado sem delongas (no civil). Mas as famílias e os amigos queriam um evento à altura da importância deles, e o resultado foi essa festa, num local caprichosamente escolhido – o Casarão Serra do Ouro, em Pirenópolis, no sábado 27 de agosto deste 2016. Nara Simo, cerimonialista; Fotografias por Nós 3 Fotos; e os DJ Daniel de Melo e Mário Pires asseguraram o perfeccionismo o som. E este poeta, Luiz de Aquino, foi chamado para a celebração, que se deu assim:

Boa noite, mães e pais de Lara Bragança Donato Câmara e de Guilherme César Rodrigues Costa!
Boa noite, amigos e familiares presentes!

Esta é a montanha que se fez para proteger o Rio das Almas e sua vertente de riachos e córregos, miúdos e aconchegantes, musicais e telúricos – indispensáveis à vida porque, como cada um de nós, os seres vivos racionais ou não, contribui para o que vem a ser grande: riacho que alimenta o rio, que se une a outros e forma o mar oceano, como nosso olhar desenha paisagens e formas várias, como as árvores e os outros bichos. E são os nossos olhares desenhistas que projetam de nós a luz-energia que afasta ou atrai o próximo!

Lara e Guilherme, Deus fez a Terra, o esqueleto que se veste das águas dos mares, e pôs o Homem com os pés no chão, no barro e no pó. Inquieto, o Homem olhou o alto e quis subir aos píncaros, aos cumes... quis ser lagartixa ou aranha e palmilhar os paredões rochosos, porque ser Homem apenas não basta, não basta apenas pisar o chão de pó e pedras, não basta mergulhar nas águas das torrentes e dos mares.

Aqui, somos filhos do rio e da montanha. Somos Pireneus Meia-Ponte, dos nativos herdeiros dos garimpos, das Minas de Nossa Senhora do Rosário da Meia Ponte, somos Pireneus e veneramos a montanha dos três picos, somos o rio que lambe as margens e garimpa ouro, como nossos ancestrais. Ou escalamos as rochas pois sabemos que é bom.

Talvez seja assim que pensam vocês, Lara e Guilherme, moços de encantos cruzados, porque seus olhares decidiram trocar energias e fundiram suas almas e corpos num processo de atração e descobertas, de cumplicidade e de sonhos, de desenhos e parceria.

Há de ser, sim, muito bom compartilhar a vida com quem se entende ao ter prazer nos mesmos gostos e escolhas! Foi na prática de seus gostos e vontades que se acharam, e eram muitos os moços na escalada dos Pireneus. E as horas passavam, e o dia se despedia anunciando o ocaso que convida a noite a proteger os moços aventureiros.

Faltou luz, e a solidariedade ofereceu uma lanterna. Com ela, a companhia que o moço gentil proporcionava, e a menina de sonhos sonhados e sonhos que inspirava se deu conta de que a bateria não lhe dava luz como dia. E uma vez mais Guilherme foi a solução, compartilhando a sua própria luz para que, juntos, fizessem aquela curta caminhada – sem saber que era não só uma breve caminhada, mas o início de uma jornada rumo ao sempre!

Permitam-me dizer-lhes, eu entendo que o amor acontece assim – duas pessoas, formas e hormônios, as vozes e os aromas – aromas dos corpos, aroma das folhas e flores, a luz lusco-fusco porque o Sol se despede e convida a Noite. Lembram? Ver a boca que fala ou sorri, unir o som e a imagem e deixar que os corpos se aceitem porque há almíscar no ar! E posso afirmar sem medo de enganos que um anjinho, levado e sorridente, refletindo as luzes azuis e rosas, disparou duas setas e não errou seus alvos!





E aquelas se-tas fizeram brotar canções de seus corações, tal co-mo nos ensina o escritor tcheco, naturalizado francês, Milan Kundera: 
Enquanto as pessoas são ainda mais ou menos jovens, e as partituras de suas vidas ainda estão nos primeiros compassos, elas podem juntas fazer a composição e trocar os temas, (…), mas quando se encontram numa idade mais madura, suas partituras musicais estão mais ou menos terminadas, e cada palavra, cada objeto, significa algo de diferente na partitura do outro.

Essa transformação, como define o autor de A Insustentável Leveza do Ser, é fruto da maturidade, não a maturidade do indivíduo, mas o amadurecimento do casal – unidos e jovens, conseguem fazer juntos uma composição “e trocar os temas”. Mas o caminhar da vida faz amadurecer a canção de cada um, ainda que juntos, e saberão, ambos, distinguir qual é a nota ou a frase de um na partitura do outro.

A caminho, nestes primeiros compassos de sua partitura da vida, há acordes de uma nova vida. Falo de Cecília, que já é referência natural entre vocês e seus familiares, como a visita muito amada que chegará para o próximo Natal! E nela, meus queridos nubentes, faz-se a carne única de que nos fala a Sagrada Escritura, fruto do encontro do homem e da mulher que deixaram pai e mãe para se tornarem, à sua vez, pai e mãe!

Deus os abençoe! Os anos próximos lhes parecerão mudados, porque a sua família mudou, ficou na esquina da última rua atravessada, quando vocês dois, de mãos dadas e mirando o mesmo futuro, saíram das casas de seus pais e caminharam ao encontro de Cecília.

Haverá choro e escuro, algumas vezes. Haverá o nascer do sol sob o canto de pássaros, mas virão também as tempestades de ventos e raios de chuvas e trovões. Um abraço forte e duradouro, as vozes que se harmonizaram ao pé dos Pireneus e sob a tênue luz de uma frugal lanterna, a certeza dos beijos e das mãos dadas fortalecerão o casal e a família! Haverá as dores e a paz, e está em vocês a força para saltar obstáculos, segurar a rocha com firmeza, pisar com segurança e acreditar na escalada. E vão sentir, ambos, que a jornada iniciada a dois reunirá outras almas e personalidades, sempre muito diferentes – mas capazes de se aninhar sob o mesmo abrigo, porque tempo virá de novos voos – ou diferentes escaladas.

Agora, receberemos o Joaquim Francisco, que trará as alianças dos nubentes.


Deus os guarde e abençoe. E lhes permita muito – como é de seus sonhos. 




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