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sábado, outubro 15, 2016

Rosy, o som do arco íris


Escrito de Luiz de Aquino no catálogo de Lata D´Água na Cabeça, de Rosy Cardoso.


Rosy, o som do arco íris


Luiz de Aquino e Rosy Cadoso

Eram, eu penso, meus quatro ou cinco anos, o período em que mais aprendi canções para cantar nos saraus em casa e nas serenatas com meu pai. E algumas marchinhas carnavalescas ficaram, indelevelmente, em minha memória. E há poucas semanas despertei para uma delas – Lata D’Água na cabeça -  título que minha amiga Rosy Cardoso, artista plástica e poetisa, escolheu para sua mostra de telas, concebidas sob a temática da mulher lutadora, libertária e forte!

Estive algumas vezes em seu ateliê, acompanhei, um tanto à distância, o empenho na feitura dessa mostra, que ela mesclou com seus versos colados no chão para nosso deleite. Quero dizer que nossos olhos não se encantaram somente ante a força de cores e formas de seus quadros, mas também pelo lirismo de seus versos. Uma melhor observação encontra o liame forte entre escrita e pintura – inevitavelmente, a verve poética está nas telas, como a força pictórica é realçada também na poesia.
Nestas últimas semanas, pois, dei-me com um convite que me honrou, a princípio, e fiz-me orgulhoso a seguir, ao ver o feito e o efeito na iniciativa de Rosy Cardoso. Respondi ao convite produzindo o texto, que transcrevo aqui, para o seu belíssimo catálogo:


Lata D´Água na Cabeça... 
Arte é o modo como alguém colhe do céu e dos horizontes o perfume do ar e das folhas, o impacto das rochas e o frescor do solo e, como quem brinca de semideus, obtém novas formas e cores, novos sons e movimentos, novas palavras e expressões, e enche olhares e amorena corações ao acalentar as almas admiradoras.


Sei de artistas sóbrios demais, meditativos, silentes no processo de concepção e criação, mas sei dos que vociferam felizes ao captar a magia divina que lhe toca o peito, contamina o sangue e seduz o olhar para, empós, entre falar e cantar, delineia formas, processa cores e cria tons. Sinto isso quando aprecio uma tela ou escultura e, num ponto abstrato além do objeto, percebo a energia e sei bem – o que vejo é um dínamo, uma bobina de energia que transporá o tempo de cada vida, a expandir bondade por gerações à frente no tempo.

A arte não se separa em gêneros – ela é o espírito das obras de todos os conceitos, das letras à dança, em imagens de forma, cor, doçura e música.


Rosy Cardoso, que acolhe as pessoas na esteira do olhar e na música do riso, concebe poesia e define o sentimento em lápis e pincéis. Expande-se em arte porque a alma vai além do corpo, espalha-se em projeções da aura. Ela mesma, em poesia, define-se “pés no chão, descalça... garupa na moto, cabelos ao vento”. Sem dúvida, a liberdade é-lhe vida e bandeira, como sentimos na leitura de suas telas, no sabor de seus poemas.
Sentir a mulher, amiga e parceira, restrita a conceitos que tolhem e aprisionam, incita-a a acender a lanterna, e a luz é alarma e convite: “Uma cigana e uma cigarra / cantam”. Ela escreve e pinta para despertar o canto e a dança, e lembra que “Mulheres inteiras brotam da terra”, “constroem histórias” e “conjugam o infinito”!

Recita nas telas esses reclames, arregimenta vontades e esparge ternura, carinho, amizade e coragem! Porque sem isso, ah, ninguém constrói! E a arte pede temperos.

De pé, Rosy Cardoso e Jô Sampaio; sentados, Sônia Elizabeth, Ivanor Mendonça, Luiz de Aquino e Zanilda Freitas 

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Luiz de Aquino, poeta (da Academia Goiana de Letras)

Um comentário:

Sueli Soares, professora e advogada. disse...

Parabéns à Rosy e a você, por nos enriquecerem, os pobres mortais!🔏🏡⏳