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domingo, setembro 03, 2017

Uniformes e disciplina


Os primeiros uniformes escolares, no Brasil, surgiram em 1854, no Pedro II.



Uniformes e disciplina



Quando ingressei no curso ginasial (era o tempo em que havia o famoso Exame de Admissão), os uniformes copiavam os fardamentos militares. Muitos anos depois, pesquisando sobre o tema, vi que foi na década de 1850 que o Imperial Colégio de Dom Pedro II adotou uniforme, seguindo justamente os padrões militares.

Este aluno de 1958 sou eu.


Em 1958, o mesmo colégio, que desde 1911 se chamava simplesmente Colégio Pedro II, adotava novo uniforme, menos “pesado” que a farda cáqui (calça e túnica, camisa branca e gravata preta; para as meninas, saia e dólmã também cáqui – mas com o colo totalmente fechado). Instituiu-se, para os ingressos naquele ano, o uniforme de calça azul em tecido tropical, camisa bege (militar, de paletas nos ombros e dois bolsos tampados) e grava azul marinho, como a calça. Para as meninas o mesmo tipo de camisa, com gravata e a saia azul, com a barra abaixo dos joelhos.


Em 2007, propus à Academia Goiana de Letras que realizássemos uma sessão nas dependências do Liceu de Goiânia – estabelecimento secular, fundado em 1846, na antiga capital. Naquele ano, festejamos os 70 anos do Liceu em Goiânia. Ao chegarmos ao pátio, a confreira Ana Braga, no pedestal de sua história de vida – então, cerca de 85 anos, professora desde a adolescência e que, na década de 1940, fora nomeada por Pedro Ludovico justamente para lecionar no Liceu - notou que os alunos não usavam uniformes. Chamou ao lado a então secretária – e ex-diretora, professora Márcia – e lhe recomendou: “Se a senhora quiser melhorar a qualidade do ensino, exija uniforme completo. A educação, na escola, começa com a disciplina e o uniforme é o primeiro item”.

Ficamos sabendo, então, que uma ordem judicial forçou o tradicional colégio goiano a liberar o uniforme, sob o argumento de que o alunado se formava de meninos pobres. O resultado não poderia ser mais desastroso – microssaias e “tops” tomaram conta da preferência feminina. E paro por aqui para não entrar em informes digno do “mundo cão”.

Dez anos após, tomo conhecimento de que o Ministério Público estadual pressiona os gestores escolares para não exigirem uniformes. Alegou um promotor que “não existe tal exigência nas regras da Secretaria da Educação”. Ou seja, o que nos parecia óbvio e decidido pela gestão de cada estabelecimento ganha “status” de crime (“de responsabilidade” ou de “abuso de autoridade”?), aos olhos dos promotores e juízes.

Lembrei-me de fato correlato, na última década do século passado, numa escola particular, em Goiânia. Um promotor de Justiça decidiu que ele e sua mulher educariam o filho único – não o queriam “misturado” a meninos de famílias comuns. E entrou na Justiça pleiteando tal direito, coisa que o juiz indeferiu (felizmente, era um juiz sensível à formação dos cidadãos).

E ocorre-me, também, a onda de militarização das escolas estaduais de ensino fundamental e médio. Nada contra o direito de a Polícia Militar ter sua escola, mas toda uma rede, com cerca de 30 estabelecimentos? (por que não também os bombeiros?).

Sempre entendi que a Polícia Militar é uma instituição, ou corporação, com fim precípuo, fortemente definido como organismo de segurança pública. A educação deve ser afeita exclusivamente à Secretaria da Educação. Só que a sociedade goiana se convenceu de que as escolas da PM são ótimas – e de fato o são –, enquanto as civis pecam pela indisciplina que resulta em agressões de meninos estudantes a funcionários e professores.

“Nós fracassamos, demos atestado de incompetência”, disse-me um professor dentre dezenas ou centenas com os que procuro sempre discutir o tema. Nas escolas da Polícia Militar a disciplina é levada a sério e o uniforme é uma exigência básica – e os promotores e juízes não mexem com eles.

Resumindo: a falseta de eleições para dirigentes escolares, item simpático às práticas democráticas, tornou-se balão de ensaio para quem sonha com a carreira política – afinal, um salário e as regalias de vereador são coisas muito distintas da realidade educacional. E essa onda de “politicamente correto” abraçada por promotores que preferem bem mais os holofotes da mídia resultam na oficialização da indisciplina nas escolas.

O resultado é terrível!


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

2 comentários:

Sueli Soares, professora e advogada. disse...

Era 1963 e eu ingressava no nosso amado Colégio Pedro II, vaidosa! Em 1969, deixava a Escola Normal Carmela Dutra e fui à luta. Vesti meus uniformes, honrando as INSTITUIÇÕES que me acolheram por concurso de admissão. Depois, vieram as becas de bacharelado e licenciatura, numa época em que éramos valorizados. Sempre achei que uniformes escolares continuariam a ajudar na identificação do estudante, mas hoje sei o quanto me enganei. Meus filhos estudaram na Vila Militar, em colégio de disciplina rígida, onde os pais eram os grandes apoiadores, que zelavam pelos impecáveis uniformes e observância dos horários (havia caderneta e plaqueta de identificação). Acho que deu certo!
Exerci o MAGISTÉRIO em Escolas Públicas durante 38 anos, embora pudesse ter me aposentado com 25 de trabalho efetivo. Quando iniciei, professores eram investidos por Portaria e diretores precisavam comprovar formação em Administração Escolar. Atualmente, qualquer apadrinhado dirige escolas. Evidentemente, EDUCAÇÃO DE QUALIDADE não elege nossos representantes nos Três Poderes, porque a permissividade travestida de práticas democráticas fala mais alto. É terrível, sim, mas sabemos o que deu errado!

Mara Narciso disse...

Também sou favorável a ideia de que a disciplina começa com os uniformes.