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sábado, novembro 11, 2017

Brasil doente

Brasil doente



A tristeza é enorme, mas ainda cresce! E cresce para o alto, causa formigamento nas pernas, cólicas intestinais, hiperacidez no estômago, refluxo e coriza... E turva os olhos, chama as lágrimas e finaliza em enxaqueca.

– É uma virose – diagnosticou Ademir Hamu, confirmado por Abdalla Amuy e Ciro Ricardo.

Talvez um laxante resolvesse, mas o distúrbio é de tal ordem que não se pode arriscar, o paciente corre risco de vida – o que um professor radiofônico condena, conclamando o populacho e os locutores a “nunca mais“ falarem assim, pois o certo é risco de morte”. Os da locução, contaminados por discrepâncias gramaticais e violência contra a regência, dizem amém e acreditam piamente que não existe “margem”, no singular.

O festival de esquisitice, bancado nos palácios federais, em Brasília, não havia chegado ao ápice na semana anterior, não... O mestre-sala dessa alegoria carnavalesca ainda tinha muito o que girar, sem reverências nem arte, mas com a indisfarçável associação deletéria com eminências pardas poderosíssimas! Seus bafejadores palacianos não se cansam em articular anomalias que envergonham a Nação e corroem o Erário. Os negócios na bacia das almas resultaram em sangria que não se estanca. E esta não é do interesse do senador que preside o partido dos déspotas descarados.

E nós, do populacho anônimo e quase que totalmente ignaro, ficamos por entender um monte de coisas. Uma delas foi o fato de a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, a que investigou o famigerado “rombo da previdência”, ter concluído que não existe tal rombo. Inexplicavelmente, a Rádio CBN noticiou isso – mas parece-me que foi uma vez só. A tevê – por todos os canais – decidiu também omitir-se sobre isso. E o Merlin Meirelles continua a vociferar quanto à urgência de se aprovar tal reforma.

Poxa! Não lhes bastava a reforma trabalhista, essa que extinguiu benefícios arduamente conquistados? O fantoche remunerado com o teto salarial e agraciado com as mordomias de praxe falou no rádio e na tevê... E falava com a hiena que ri, tentava convencer, “principalmente os jovens em seu primeiro emprego”, de que o Brasil se moderniza etc e abobrinha!

Nas horas anteriores a essa pantomima, o dono da caneta e do destino de seus áulicos, aquele que só age em detrimento do bem-estar da Nação e da Pátria, “canetou” e nomeou um apaniguado de Sarney para a Polícia Federal – e uma de suas primeiras medidas foi substituir o superintendente da PF em Curitiba, sem sequer tentar disfarçar quanto às ordens recebidas de seus padrinhos. Depois, correu até a Procuradora Dodge, cortejando a titular da PGR para mascarar um possível acordo de harmonia entre as instituições.

Mas o xou não havia acabado, não. Outra canetada temerária e o manda-brasa humilhou sua assessoria de comunicação ao transferir para o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, o encanecido Moreira, que de Franco só tem o nome, as incumbências naturais do órgão de comunicação.

Ora, ora! Nada disso causa espanto. Há poucas semanas, a imprensa divulgou gastos extravagantes do casal-presidente com o famoso cartão corporativo, aquele cartão de crédito confiado a detentores de cargos importantes. O chefe, ao que parece, não gostou. E um general, figura importante no mais alto gabinete desta malfadada república, “decretou” sigilo sobre os gastos da família presidencial.

Ou seja: no atual governo, ministros e chefes de agências têm o poder de violar a Constituição e as leis que deveriam ser muito bem aplicadas por eles próprios. Mas o que esperar de um governo que institui, de novo, a escravidão no país?

Sei não... Receio que a cura esteja ainda distante.


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

12 comentários:

Zanilda Freitas disse...

A cura, meu caro cronista, está muito distante. E nós, a plebe ignara, estaremos à deriva neste barco já quase naufragado, timoneado por loucos, psicopatas e corruptos. Parabéns por se expressar com tamanha sabedoria e muita coragem!

Carmem Gomes disse...

Pertinente e muito boa a sua crônica. Como você mesmo o disse, nada disso causa espanto! Continua tudo como dantes! Parabéns!

Sandra Marchio, professora disse...

E... Será que temos alguma chance de cura?

Rosalia Perissë disse...

O início da crônica é perfeito. Resume tudo. O Brasil doente. A tristeza é enorme, e ainda cresce.

Antonio Carlos Gonçalves disse...

Como sempre, muito atual e inteligente.

Lécia Lucas disse...

Parabéns, Luiz. Bela crônica, palavras atentas.

Rosy Cardoso disse...

Bela crônica, poeta! Que cantemos um grito de basta, na consciência de cada OLHAR, assim como o beija flor na condução do pingo d'água ao incêndio e no beijo de esclarecimento ao irmão.
Belo texto, como todos com que nos presenteia.

Maria Elisa Carvalho disse...

Parabéns!

Ana Maria Taveira Miguel disse...

Luiz de Aquino, você sabe dizer as palavras certas, no momento certo.
E o endereço é o coração do leitor que o admira!

Laurita Da Luz Cardoso disse...

E terrível mas o Povo pediu esta maluquice quando aceitou as mentiras de um Capitão do Mato que deu início a este descalabro.. Pra completar elegeu como Deus um Juiz analfabeto em Leis e que acha o nosso país, País de Tupiniquins e o diz no Exterior , realmente parece que o único Jeito seria irmos para as ruas e exigirmos a volta da Presidenta eleita e a revogação de todos os Atos pós Golpe..

Unknown disse...

Meu caro tio, são belas suas palavras a cerca do que estamos vivendo no país. Infelizmente herdamos o pior do DNA do povo europeu, cada dia que passa aumenta minha vergonha de ser brasileiro. Até quando seremos escravos dos políticos corruptos? Até quando vamos aceitar tudo o que eles nos empurram guela abaixo? Como podemos aceitar um STF protegendo e acobertando tamanhos despropósitos? Maracutaias e políticos sendo comprados a olhos vistos, tudo muito normal!!!! Cada povo tem o governo que merece é estamos pagando caro por isso!

Sônia Elizabeth disse...

A politicalha (e não a política) é esse rasgo miserável e sem sintonia. Um tapa na cara de todos nós cidadãos. Loas, pois, Luiz de Aquino.