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quarta-feira, outubro 03, 2018

Jávier Godinho


Jávier Godinho (1936-2018):


“Com ele, morre um pouco
de cada um de nós”




Essa frase chegou-me ao telefone, confirmando a notícia que as redes sociais já espalhavam. E concordei: afinal, conheci um pouco de Jávier nestes anos que se alongam desde que, em 1963, comecei a lê-lo nas páginas do jornal Cinco de Março, onde atuava também Anatole Ramos, Jurandir Santos, Carmo Bernardes, Geraldo Vale, Zoroastro Artiaga e tantos outros.

O convívio, porém, se deu com a frequência das rotinas na redação do DM. Se o considerava excelente no texto dos artigos semanais e nas orações diárias da Hora do Angelus, da TV Anhanguera, descobri um bom chefe, um jornalista tarimbado que sorvia a notícia. Sua competência nas pautas que distribuía aos repórteres, na edição do jornal, na racionalização do fechamento e, sobretudo, na harmonização presente em todas as relações humanas mostraram-me, enfim, uma pessoa digna de admiração, respeito e, ainda mais, alguém com quem se pode (e deve) aprender sempre.

Já se vão muitos anos que conheci também sua mulher, Stella, e os filhos – em especial os meus coleguinhas Iuri e Aulus, de quem colhi os sentimentos em texto com que fecharei este desabafo.

De Stella, sem cerimônias, indaguei um pouco de indiscrição: quis saber como se conheceram, como começara o namoro que se estende por mais de meio século: “Ah, eu era muito novinha! Ele namorava uma menina de Buriti Alegre cuja casa era perto da minha. Quando eles passavam diante da minha casa, ela o beliscava porque ele ficava olhando para mim”.

De tantos olhares e beliscões, em breve o namoro de Jávier com a moça de Buriti Alegre entristeceu-se, e ele pôde, então, aproximar-se de Stella. “Foram quatro meses de namoro, quatro de noivado e nos casamos – eu tinha 18 anos”, conclui Stela Rincon Godinho.

Fora do ambiente do trabalho, desfrutei também dos conhecimentos ricos de Jávier sobre a doutrina kardecista. Excelente orador espírita, proferia palestras e participava de mesas-redondas sobre os temas religiosos, além de escrever artigos memoráveis, impregnados de amor a Deus e às pessoas.

É do meu jeito entender a vida – e a morte – um certo desprezo pela frase feita “É uma grande perda”. Em lugar disso, gosto de pensar e dizer que “Foi uma dádiva viver o mesmo tempo que ele” – como bem disse seu filho Aulus. Nascemos para morrer e o importante, dizem alguns filósofos, é preenchermos o intervalo com grandes feitos. Jávier foi um desses homens. Ele nos deixa a sua vida de 80 anos de bondades, de companheirismo e de bons exemplos, como cidadão e como colega, como comunicador e como pai e marido – logo, não há perda, mas um ganho enorme para todos nós!

Ficará um vazio, como a peça que se remove e não se tem o que a substitua. O jeito é arrumar a máquina da vida, ocupar seu espaço nos dias e ter a consciência de que aos sobreviventes cabe preencher esse vazio.

Vá em paz, Jávier, pela luz que seus passos na Terra geram nesse Plano Maior onde agora você está!

Amém!

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Luiz de Aquino, especial para o DM



Um comentário:

edluiz disse...

Também tive o prazer e a honra de conviver com Javier Godinho na redação do Diário da Manhã. Trata,-se, sem dúvida, de uma figura humana extraordinária, além de grande jornalista.