

“Tom é a trilha sonora do eterno”
Minha amiga Andrea Augusto, poeta carioca, envia-me belíssimo texto seu falando de Tom, nesta quinta janeiro 25, aniversário de São Paulo e de um certo Antônio Carlos Brasileiro de Almeida, que era também Jobim. Tom Jobim. Maestro e poeta, amante do sol e das matas, do mar e dos céus. Andrea começa sua crônica-homenagem adivinhando o que a quase unanimidade dos jornalistas, em rádios e tevês, revistas e jornais, colocariam como frase inicial de suas matérias-homenagens:
− Hoje, 99,99% das matérias sobre Tom Jobim começam assim: "Se fosse vivo, Tom completaria 80 anos..." Sinceramente? Não conheço ninguém mais vivo do que ele.
É verdade. Verdadíssima (se Leda(ê) Selma me permitir esse neologismo)! O homem que deu à bossa-nova a definição teórico-musical que compositores e cantantes buscavam, autor de letras poeticamente perfeitas e grande embaixador das belas coisas brasis “lá-fora”, a ponto de cutucar de modo denso a sensibilidade de Frank Sinatra... Esse Tom era muito mais Brasileiro que qualquer censor de todos os tempos. E ainda que não fosse o gênio que a unanimidade dos bons ouvintes de música reconhece, teria sido bom só por desfrutar das amizades que colecionou. Era o grupo da fina flor dos sensíveis e criadores brasileiros ao longo da conturbada segunda metade do Século XX.
E não falo só por Garota de Ipanema, por Desafinado e Águas de Março, não... Falo de Passarim, Samba do Avião, Wave, Só Tinha de Ser com Você, Eu Sei que Vou te Amar, Ela É Carioca, Chega de Saudade, Corcovado... Ah! Não dá... É tanta coisa linda, bonita de se ouvir e de se ver! É que as músicas de Tom, com letras de Vinícius de Morais ou dele próprio, ou de seja lá quem for, levam-nos a imagens altamente definidas em formas e cor. Wave, para mim, não é apenas uma “onda”, mas um crescendo que me sugere um avião em escapada do solo rumo ao céu de alturas e firmeza (não conheço nada mais seguro que um avião no ar).
Sim, querida Andrea Augusto, poeta e musa, Tom está vivo; apenas não produziu mais nenhuma obra-prima (melodia, letra, poema ou frase... Sim, ele era um excelente fazedor de frases lindas, como aquele inigualável conceito social: “O brasileiro só será feliz quando toda a população se mudar para Ipanema”. Que achado de bom humor!). Mas, responda-me: com tudo o que dele ganhamos, precisava mais?
Enquanto isso, divirto-me com as falsetas da mídia. As rádios brasileiras de hoje não citam mais os autores de músicas, alegam que o tempo do rádio é muito curto, etc. e tal. E, tanto nelas quanto nas tevês, vemos excrescências agressivas à língua e aos ouvidos, como má dicção, pronúncias erradas e erros insuperáveis de gramática básica: já não se fazem radialistas como antigamente. Vejo Tom e Elis cantando Águas de Março no Fantástico de 1970 e tantos e choca-me a imagem de um entrevistado a mascar alguma coisa (não era balinha nem goma de mascar; fazia um barulho desagradável) num programa ao vivo.
Nunca vi Tom, o maestro impecável, em má imagem ou em más maneiras na tevê. Ele se postava, em público, na mesma dimensão de sua arte, tal como tantos. E os “alguns”, expressiva minoria que marca pelo mau gosto, devia se pautar naquilo que pode, à primeira vista, parecer previsível, mas que se reveste de um previsível coerente.
Que o Brasil produza, ainda, muitos artistas para serem lembrados em boas lembranças. Que sejam lembrados tal como Tom, que a poeta Andrea Augusto define assim:
− Tom é a trilha sonora do eterno.