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quinta-feira, maio 03, 2007

O júbilo, a memória e os “do-bem”


O júbilo, a memória e os “do-bem”


Todas as vezes que nomes e imagens de amigos nos surgem na lembrança, ou mesmo ante os olhos, uma energia diferente parece mexer com nosso sangue. E tudo muda: os amigos têm o poder de nos fazer felizes.

Semana passada, vivi um encontro inusitado: ao lado de gente da minha geração, retornei ao pátio e aos edifícios (o antigo, da minha meninice; e o novo, que marca o viver dos atuais) da Seção Tijuca do Colégio Pedro II, na Rua São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro. Éramos algumas dezenas de cinqüentenários e sexagenários ex-alunos, ao lado de centenas de atuais alunos, todos na faixa da adolescência. Festejamos, naquela manhã de 27 de abril, o começo dos festejos do Jubileu de Ouro daquela unidade, criada pelo presidente Juscelino Kubitschek para não permitir que setecentos meninos de onze anos ficassem sem escola, apesar da nota superior ao mínimo (7,0) exigido pelo regulamento.


Coisas que marcaram: nosso reencontro com antigos professores (Sílvio, Geraldo, Elza) e inspetores que, na época eram alunos de Faculdades de Filosofia, ou seja, tornaram-se também professores (Seixas, Paulo Pimenta...), além da recepção carinhosa que nos ofereceram os professores (incrível: diretores e professores, todos eles ex-alunos do tradicional CPII) e as diretoras Fátima e Virgília. O pelotão de alunos na guarda-bandeira, o canto do Hino Nacional bem ao modo do Colégio, mostrando-nos que, lá, tudo se faz, hoje, como sempre: a educação é um conjunto de ensinamentos e de práticas que resultam na formação de cidadãos como se deveria fazer em todos os educandários do País. Não foi à toa que, até 1961 (ou terá sido 1971?) o Colégio Pedro II era considerado o “Padrão de Ensino do País”.

Mas guardei, para mim, dois momentos especiais: o primeiro, quando a Lasir, aluna daquele grupo dos setecentos de 1957 ,discursou em nome dos pioneiros, contando a História da formação da Seção Tijuca e mostrou duas figuras que participaram daquele encontro com JK: seus pais, às vésperas de festejar 90 anos. Claro: foram aplaudidos de pé por todos nós.

O segundo momento se deu no último item da solenidade, quando cantamos o Hino do Colégio. Uma professora de música pôs-se à boca do palco e regeu alunos, ex-alunos e professores na platéia. Nós, ex-alunos uniformizados, estávamos sentados a um canto do palco. Nesse momento, a nossa professora de Canto Orfeônico (sim: ela tem 93 anos e foi lá, festejar o cinqüentenário, na condição de professora pioneira) levantou-se de sua cadeira à mesa e dirigiu-se a nós, seus ex-alunos, para nos reger.


Viajei no tempo e a vi na sala de aula, num distante 1958 de primeiro ano ginasial. Dona Elza mostrou que tem ainda a mesma postura de regente, o mesmo olhar vivo e significativo, a musicalidade inata... Só me faltou ver entrar, com seu andar típico, as mãos nos bolsos do paletó, o professor Hugo Segadas Viana, nosso diretor.

Não bastasse tanta emoção, eis que recebo, em casa, para uns dias entre nós, o poeta Antônio Mariano, meu irmãozinho de letras de João Pessoa, Paraíba. Como atividade primeira, levo-o à casa do poeta Fausto Rodrigues Valle, ás dos versos e da prosa de ficção, hábil na fala como o foi, até quando o quis, com o estetoscópio a atender várias gerações de crianças desta Goiânia também infante.

Há quem diga que emoções assim podem nos causar a morte, porque o coração é órgão fraco e sensível. Concordo com o último adjetivo; mas sei que o coração, quando agradado, é forte. E a emoção dessa têmpera só vem para júbilo.

Fico por aqui, porque tenho mais o que fazer: ainda é tempo de estar feliz.

13 comentários:

Anônimo disse...

Querido amigo
Belíssimo texto! Se eu me emocionei e não fiz parte dessa época, (fui de 72 a 78) imagine quem (re) viveu esses doces momentos!...

Flávia disse...

Luiz,
Maravilhoso poder viajar no seu texto. Melhor ainda é, por meio dele, relembrar um pouco de minha infância... Também tive o privilégio de estudar em escola pública (Pedro Gomes, Damiana da Cunha) e formar fila com meus colegas para ouvir e cantar o Hino Nacional. Bons tempos!

Anônimo disse...

Luiz
Esse inesquecível momento vivido por todos nós ao comemorarmos o Jubileu de Ouro do CP II - Tijuca jamais sairá de nossas memórias, quando a alegria, o orgulho e a saudade tomaram conta de nossos corações. Nessa feliz oportunidade, pudemos reviver um pouco a nossa adolescência, tão importante para cada um de nós.
Foi mesmo um presente estar nessa especial comemoração, poder participar de toda essa festa que, com toda certeza, propiciou a união e fortaleceu laços afetivos ainda mais, movidos sempre pela emoção e orgulho de pertencer eternamente à família pedro-segundense.
Parabéns, poeta, sua crônica é muito bela, pertinente, ímpecável mesmo.
Beijos,
Maris Stella

Anônimo disse...

que festa linda, hein!! um beijo e bom fim de semana

Anônimo disse...

Luiz foi muito bom lhe conhecer! Diante de suas palavras, me sinto como um grãozinho de areia na praia.Parabéns também para você e obrigada pelas palavras elogiosas.
Muito sucesso e um grande abraço.

Anônimo disse...

lasir disse...
Luiz foi muito bom lhe conhecer! Diante de suas palavras, me sinto como um grãozinho de areia na praia.Parabéns também para você e obrigada pelas palavras elogiosas.
Muito sucesso e um grande abraço.

Anônimo disse...

Luiz foi muito bom lhe conhecer! Diante de suas palavras, me sinto como um grãozinho de areia na praia.Parabéns também para você e obrigada pelas palavras elogiosas.
Muito sucesso e um grande abraço.

Silvana Abdalla
(historiadora)

Anônimo disse...

Parabéns Luiz, seu texto é maravilhoso!!!!A frase que mais me chamou atenção:"Os amigos têm o poder de nos fazer felizes" como é verdadeira!

Regina Bergamini

Unknown disse...

Luiz.
Eu também estava no CPII e com certeza será um dia que nunca sairá de minha memória.
Seu texto expressou todo o nosso sentimento.Foi super emocionante e acredite,esses momentos de alegria fazem um bem danado aos nossos corações.Muito obrigada por você existir em nossas vidas.Beijos.
Lidia Magarão(63/70)

Mara Narciso disse...

" O Júbilo, a memória e os 'do bem' "

Reviver o passado com alegria sem ranço de saudade rabugenta é dom, é felicidade. Esse texto nos remonta justo a esse tipo de sentimento: estar temporariamente no passado por prazer, e voltar ao momento presente por sensatez. Somos o que somos porque estivemos no passado e não o queremos agora, pois temos mais o que viver. Lindo ponto de vista! Temos muito em comum.
Mara Narciso

Anônimo disse...

Poeta sue blogger está cada vez melhor, o seu entusiasmo sobre o Colégio Pedro II,me contagia e a dedicação a sua tia, como seria maravilhos se o presidente LuLa tivesse um pouquinho de gratidão para com os professores do Brasil, assim como governadores e prefeitos...

Unknown disse...

Meu poeta preferido, seu blog esta lindo, sou suspeita pra fazer qualquer elogio porque amo poesia e adoro você.
um grande beijo
Vânia

cesar afonço disse...

Belo texto e Lembranças. Tive o prazer de fazer parte do Terceiro Ano no Jubileu em 2007. Foram onze anos que estudei no CP2 e só posso agradecer por ter tido esse privilégio.

Hoje estou na Escola de Comunicação na UFRJ, mas minha alma continua nesse Colégio que tantas alegrias me trouxe.

Espero que os novos alunos consigam renovar esse sentimento de amor que toma conta de cada um que deixa o CP2.

Ao Pedro II tudo ou nada?...