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sábado, outubro 20, 2007

Calçadas e pistas



Calçadas e pistas


Repórter de muitos ambientes, ouvi, lá pelos anos da década de 1970, a ênfase que alguns políticos e tecnocratas emprestavam (ou davam) à expressão “qualidade de vida”. Entendia, eu, que aquela era a meta maior dos políticos e tecnocratas: proporcionar “qualidade de vida” à população (não diziam povo, porque a palavra desfrutava, então, de um caráter demagógico que, na fase conhecida como “democratização”, voltou a dominar a cena política: “casa do povo” etc.).

Tudo o que fosse medida ou providência entrava no leque da “qualidade de vida”: escolas, postos de saúde, geração de empregos, asfalto, recapeamento de vias públicas, jardins, transporte público... Foi naquela década que se criou um tal Ministério da Desburocratização, que tanta falta nos faz hoje. Seu único ministro foi Hélio Beltrão, que chegou a sonhar com a Presidência da República, tão simpático ficou ao eliminar muitas etapas na burocracia... Mas isso é outra história.

Fico triste ao ler que o Brasil, entre vinte países “de proa” no mundo, é o último em qualidade de malha viária. E fico triste de novo quando vejo o descaso com que as empresas aéreas tratam seus clientes. Uma delas chama passageiros de clientes, mas não presta informações, superlota aviões, atrasa-os sem qualquer razão natural: atrasa-os para juntar vôos e economizar nos procedimentos operacionais.

Pagarmos impostos altos e redundantes, mas não temos boas estradas. Por isso, o governo as entrega à iniciativa privada, para que as conserve mediante a paga de pedágios, apesar dos impostos: IPI, IPVA, CPMF, CIDE, IR... Uma sopa de letrinhas que só resulta em indigesta cidadania mal aplicada, porque os governos também nos desrespeitam (no Rio de Janeiro, pareceu-me que o prefeito César Maia está mais empenhado em mudar o nome Linha Vermelha para Linha Laranja, em lugar de trocar o pavimento da pista, que está em pandarecos).

A Estação de Tratamento de Esgotos amenizou bem o estado de odor do Rio Meia-Ponte, em Goiânia; mas o Córrego Capim-Puba repete os velhos rios da cidade do Rio, mal-cheirosos como as margens da Ilha do Fundão, na Baía de Guanabara (cadê aquela verba gorda que se obteve em 1992, quando da Eco Rio, para despoluir a Guanabara? Aquela Petrobrás do FHC, com um presidente francês, conseguiu cometer tantos desastres ecológicos que não haveria verba capaz de restaurar os estragos; acho mesmo que a Petrobrás, a “segunda bandeira do Brasil”, devia, ela sozinha, despoluir a Guanabara e educar os moradores periféricos).

Também cheiram mal as ruas de Copacabana, ainda a maior referência carioca, depois do Cristo Maravilha. E cheira mal o mau hábito do carioca que buzina por tudo, tanto quanto os goianienese (mais de 53% vindos de outras terras) que avançam sinais, circulam com excesso de velocidade e não usam seta luminosa para indicar mudanças de direção.

Pois é... Governar é complicado. E gosto de entender que governar, mesmo, é administrar cidades, com vistas para a normalização no presente e obras de futuro. Organizar o presente é tão complicado quanto planejar obras. Um bom governante governa por delegação. Na administração do prefeito Íris Rezende, Kleber Adorno (re) encontrou o ritmo e as fórmulas, a despeito das opiniões contrárias.

Já o coronel Sanches, da Superintendência de Trânsito, precisa corrigir algumas providências. Muito especialmente a pista improvisada de treinamento de atletas (?) amadores que, à noite, obstruem, a bel-prazer, as pistas da Alameda Ricardo Paranhos. Afinal, o Areião está ali, a pequena distância. E obstruir uma avenida sem respeitar o direito dos outros é tão grave quanto estacionar nas calçadas.


Será que mereço resposta, coronel Sanches?

7 comentários:

Saramar disse...

Luiz, você citou vários exemplos de descaso puro e simples das autoridades, coisa com que parece, o brasileiro já de conformou.
Concordo quando diz que governar é administrar cidades, uma vez que é nelas que está o nosso lugar, nossa construção diária da vida.
Infelizmente, a política, apesar de essencial, do jeito que é praticada aqui neste pobre país, interfere na vida do cidadão para perturbar, quando deveria ser o contrário.

Um exemplo daqui mesmo é a obstrução promovida na CÂmara Municipal de Goiânia que está prejudicando até a saúde da população por impedir a contratação de concursados para esta área. Este é um entre milhares de exemplos de como os políticos agem na corrente contrário ao cidadão que os elegeu.

Quanto ao trânsito de Goiânia, a impressão que tenho é que sua coordenação é feita por crianças brincando com peças de Lego, tão grande é a cotidiana percepção da incompetência desses gestores (outra palavra muito moderna).

Mudar o nome de rua, mudar o nome das atividades não significa nada, a não ser fingir que algo mudou.
De que adinta, se não muda a postura das "autoridades" em relação aos seus deveres?

Perdoe-me pelo imenso comentário.

beijos, bom domingo para você.

Deolinda disse...

poeta, tenha piedade, mas que desvario é esse? Vá visitar na 2ª feira o Museu de Arte de Goiânia e veja qual foi exatamente o tom que seu amigo Kleber Adorno encontrou. Mais uma vez o museu inundou e pior só verificaram isso no final da tarde de sexta feira. Fala sério! Quem mundo é esse que estamos vivendo? E se quer saber? Sou carioca de gema, se esse provincianos goianos não são capazes de defender o patrimônio que é deles, que venham mais tipos como Kleber Adorno, é só o que essa terra merece. Mediocridade e provincianismo. Amém!

Luiz de Aquino disse...

Desvario?
Deolinda, conheço Kleber Adorno há tempo bastante para lhe saber defeitos e qualidades; e conheço um pouquinho sobre serviço público (duvida?). Concordo plenamente com todo aquele que afirmar que falta muito o que fazer. Aqui como no Rio.
Carioca bairrista, revisite sua cidade. Ande a pé por Copacabana, pelo Centro... Houve um tempo em que predominava o cheiro de creolina; agora, é pura urina (nem sempre pura; às vezes, com cheiro de fezes, também). Bairrismo? Sem esforço algum, sou capaz de citar muitos edifícios e logradouros cariocas entregue ao abandono completo; prefiro citar o que se faz de positivo, sabia? A citação, agora, ao mau cheiro das ruas e à Linha Vermelha em farrapos é mais que necessária.
No mais, entenda: também tenho desafetos e mágoas de pessoas; mas não vou gastar espaço de jornal para resolver minhas picuinhas. Nem me presto a instrumento de terceiros.

Um beijo goiano, com sabor de bairrismo carioca.

Madalena Barranco disse...

Olá Luiz, os impostos são bitributados... Paga-se tanto no Brasil, que às vezes eu penso que o país deveria estar brilhando assim como um assoalho recém encerado. Os motoristas compram as carteiras e se esquecem da sinalização, ou melhor dizendo, olvidam-se que são seres humanos. Que bom que você questiona! Certa vez um professor me disse que nos EUA os eleitores cobram de seus eleitos as promessas de campanha - e que isso é uma coisa levada a sério. Beijos.

Mara Narciso disse...

Bom apanhado geral dos graves problemas que assolam não só Goiânia, mas todas as médias e grandes cidades. Ficamos a ver navios--ou sujeiras mil--, quando esperamos inocentemente e não vemos a tais boas intenções das épocas de campanha não se materializarem-se. Pois é: faço eco aos seus queixumes: não podemos e não devemos nos calar quando vemos a desobediência civil beneficiar uns poucos em detrimento de muitos e também a existencia de outras mazelas municipais.

Mara Narciso

Deolinda disse...

Querido, reafirmo, o acervo do MAG é patrimônio goiano.

E se você que é goiano do pé rachado, acha que é dispensavel, eu que vou sofrer? Nada!

Aplausos! Bato palmas e parabenizo pela coragem de assumir que entrar na folha muda totalmente o ângulo das questões e as transformam em picuinhas e mágoas.

Pode servir para você para mim não serve.

Luiz de Aquino disse...

Deolinda,
Não tenho dúvidas.
Mas não transmude as coisas... Ambos sabemos onde você quer chegar. Brigarei pela preservação de qualquer patrimônio cultural, seja ele goiano ou maranhense (cito o Maranhão porque sequer conheço o Estado). E faço-o sem ofensas a qualquer parcela de povo brasileiro, muito menos aos que me acolhem ou acolheram um dia.