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segunda-feira, março 31, 2008




Veiga Vale para a Agepel

Eis aí um tema de luta a ser encampado pelas entidades culturais em atividade do Estado, mais especialmente de Goiânia: a transferência da Escola Veiga Vale para a Agência Goiana de Cultura (Agepel), ora inserida (indevidamente, diga-se) no organograma da Secretaria da Educação.

Por aqui, muita coisa voltada para a população da capital pertence ao Estado; como o Teatro Goiânia e o Estádio Serra Dourada. Concebida em 1933, instalada em 1937 e inaugurada festivamente em 1942, Goiânia tinha os dedos do Estado em todas as suas atividades até a administração do prefeito Hélio de Brito, no começo da década de 1960; foi dele a iniciativa de emancipação, compreendida pelo jovem governador Mauro Borges. Até então, tudo (tudo mesmo) na administração municipal era aprovado e realizado pelo Estado; o prefeito era apenas figurativo.

Mas quero contar da Escola de Artes Veiga Vale, que leva o nome de um dos maiores artistas brasileiros, o santeiro José Joaquim da Veiga Vale, natural de Pirenópolis, antiga Meia Ponte, nasceu em 1806 e foi para a cidade de Goiás em 1841, onde residiu até sua morte, em 1874. Desnecessário é falar de sua vida e obra, mas recomendo o professor Elder Camargo, vilaboense de boa cepa, especialista em Veiga Vale, que discorreu com competência e maestria sobre a obra do santeiro na Academia Feminina de Letras e Artes, a convite da presidente Heloisa Helena de Campos.

Volto mais uma vez à Escola de Artes Veiga Vale, criada em 1967, no governo de Otávio Laje. Em 1991 ou 1992, o governador Íris Rezende Machado extinguiu a Secretaria da Cultura, da qual a escola era integrante, transferindo suas atribuições para a Fundação Pedro Ludovico (até então, gestora do Museu que leva o nome do fundador de Goiânia) e jurisdicionando a Fundação à Secretaria da Educação. A palavra “escola” motivou a SEC a integrá-la à rede de estabelecimentos de ensino, em lugar de entender que a Veiga Vale era algo parecido com o Centro Cultural Gustav Ritter.

O pior, porém, estava por acontecer, e aconteceu recentemente. O governo entendeu de transformar a Escola de Artes em Centro de Ensino Profissionalizante, para prejuízo (mais um) das ações culturais do Estado.

Entendam: nada tenho contra o ensino profissional. Minha formação é de professor e jamais me esqueço disso. Recentemente, a mesma Secretaria da Educação fechou cinco escolas estaduais na capital, escolas essas que bem poderiam ser transformadas em estabelecimentos profissionalizantes, mas preferiu ferir um ponto visceral das atividades culturais.

A Veiga Vale funciona, atualmente, em dois locais: o original, na Vila Nova, na área do tradicional (e muito esquecido) Instituto de Educação de Goiás, centro de formação de professores. Sugeri, há algum tempo, neste mesmo espaço, que o IEG fosse cedido à Universidade Estadual de Goiás e se tornasse centro de referência pedagógica; quase fui linchado por professores de lá, pois eles preferiam que a agora escola de ensino médio fosse cedida à Polícia Militar, pois os professores de seus estabelecimentos tem salários dobrados, em relação aos da rede da SEC.

A outra unidade está no Setor Universitário e leva o nome do escritor Basileu Toledo França, educador e membro da Academia Goiana de Letras, que, pelo que me consta, doou o terreno para ser sede de um centro de educação e cultura.

Tudo bem, se esse centro vir a produzir profissionais competentes, capaz de elevar o valor individual do cidadão goiano; mas continuo lamentando o prejuízo para o meio cultural. O Estado que cuide de devolver à Agepel (sucessora da Secretaria de Cultura) o complexo Veiga Vale de artes, que a secretária Linda Monteiro, presidente da Agência, cuidará bem de suas funções.

E que a Academia Goiana de Letras, a AFLAG, a Ube de Goiás e o Instituto Histórico e Geográfico também se manifestem. Temos de nos unir para resgatar esse equívoco e valorizar as ações da Agepel, fortalecendo a gestão de Linda Monteiro. E os centros profissionais, que venham (e que sejam muitos!), todos integrando um processo de valorização do ser humano em nosso meio, tanto pelas artes quanto pela dignidade profissional.



3 comentários:

Mara Narciso disse...

Mudando a gestão da escola de artes, haverá um disvirtuamento da sua função. O mais comum é se perder pelo caminho o objetivo artístico,exclusivamente em prol da profissão. Perdemos todos.
Mara Narciso

Anônimo disse...

Oi Luís,

Muito bem esclarecido o assunto. Tenho quase certeza que a Heloísa, que também é uma batalhadora, vai encampar a causa. De minha parte, como membro da Aflag, e assessora para Literatura, quero contribuir (com a minha pequena parte) para a vitória do projeto.
Continue sempre a lutar pelos nossos valores. Goiás te agradece!
Abraço,
Mariza

Anônimo disse...

Luiz de Aquino, obrigada pelo destaque. Bela crônica. Abração, Heloisa.