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sábado, julho 19, 2008

Eleição na Academia Goiana de Letras

Emílio Vieira para Imortal

Quem visitar, hoje, um pátio de escola de adolescentes não terá, nem de longe, a imagem do que era isso no começo da década de 1960. Certo: os tempos mudaram, a moda mudou, a linguagem muda sempre, o ensino mudou (lamento dizer, mas mudou para pior).

Goiânia, dizem os bons observadores, é uma cidade “burguesa”. Não no sentido original de “burgo”, mas na postura pernóstica dominante. Imaginem esta mesma cidade em 1963, com pouco mais de duzentos mil habitantes advindos da burguesia rural goiana e de vários núcleos urbanos de outras unidades da União.

Aqui, os estabelecimentos públicos acolhiam estudantes que conseguiam passar pelo crivo dos rigorosos exames de admissão (para a primeira série do ginásio) e de seleção (para as demais séries e os três anos colegiais). Estes eram o Colégio Pedro Gomes, o Liceu e o Instituto de Educação. Os reprovados recorriam às escolas particulares, desde que o poderia financeiro da família lhes facultasse isso. Aos demais, restava a não opção.

Desumano critério, aquele. Nem sempre um reprovado nos exames das escolas públicas era despreparado intelectualmente. E foi ainda na década de 1960 que se construíram inúmeras escolas públicas, mas arregimentar professores era impossível. Improvisou-se, colocando estudantes universitários para lecionar qualquer matéria nessas escolas. Deu-se a decadência da qualidade do ensino, mas este é outro assunto.

Sim, leitores meus; não quero falar de educação, apenas situei o ambiente escolar de Goiânia na década de 60 do século passado. Foi quando cheguei ao Liceu para continuar o primeiro ano do Clássico. Apenas o Liceu oferecia esse curso, pois o Pedro Gomes só mantinha, ainda, o Científico e o IEG, o Normal. Os particulares também se limitavam ao Científico e ao Normal.

Foi naquele agosto de 1963 que conheci pessoas inesquecíveis, como Samuel, Lílian, Mário Campos, Ciro Palmerston, Coleta, Zélia, Luciano, Emílio Vieira, Beatriz, Dulce, Francisco Taveira, Guaraci, Odessa, Eudes... Volta e meia, encontro-os aí. Mas isso é muito fortuito e esporádico. Ciro viajou aos “paramos etéreos”, metáfora de Augusto dos Anjos para o Éden; não sei se escreve versos ou se cria novos clubes na “Mansão dos bem-aventurados”; Luciano também se foi, tragicamente.

Dos que citei, houve os que me acolheram com carinho e amizade, em maioria. Os que mais marcaram presença no tempo foram o lusitano Mário, o hoje tabelião Taveira e o poeta Emílio Vieira.

É muito difícil qualificar os amigos. Aliás, amigos não carecem de qualificação, a palavra amigo se basta, dita com a intensidade de seu conceito mais profundo. De Mário, sempre recebi o riso, crítico ou solidário, e a presença constante de alguém com quem se pode contar; Taveira, o sonetista secreto, assina a certidão do meu casamento; e Emilio, companheiro cúmplice de poesia.

Emílio e eu jamais faríamos uma parceria, tão díspares são nossas poesias. É o amigo de leituras mútuas desde seu livrinho mínimo em brochura e capa azul. Cheio de aventuras, quase me faz perder o nascimento do meu segundo filho, o Leonardo, naquele 14 de setembro de 1968 por conta dessas leituras e de um bucólico passeio num histórico Oldsmobile hidramático.

Emílio há de ser candidato à Academia Goiana de Letras (é o que se fala e é o que espero). Outros poetas pleiteariam a vaga, como meu conterrâneo caldas-novense Delermando Vieira e meu amigo-irmão Marcos Caiado. Mas estes não demonstraram disposição para o momento.

Assim, regozijo-me com meu próprio coração por poder votar em Emílio Vieira, o poeta solidário, o professor apaixonado pelas coisas das letras e pesquisador dedicado. Se vier mesmo, Emílio não será um novo acadêmico: ele já devia estar na AGL há muito tempo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Apostava que você teria feito o Clássico, esse curso que a Ditadura matou! Por aqui, quem fez o Clássico (e no meu colégio!) foi a Vera Fischer! Sou da turma do Científico. Queria ser arqueóloga!
Urda

Madalena Barranco disse...

Olá querido Luiz,

Hum, uma das melhores coisas que existe é recordar os tempos de escola. E eu... Viajei até o fim dos anos 70 e a ótima qualidade que as escolas públicas tinham aqui em São Paulo.

Faz bem à saúde da alma apoiar os amigos. O Sr. Emílio Vieira tem blog, para que possamos conhecer sua poesia, e torcer junto com você para seu sucesso? Obrigada.

Beijos,
Madá

Anônimo disse...

Luiz, leio quase todos os seus textos,e descubro que conheço muitos dos que você conhece. Emílio Vieira, por exemplo.