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sábado, março 27, 2010

Os bons não se omitem

Os bons não se omitem


O que mais preocupa não é o grito dos
violentos, dos corruptos, dos desonestos,
dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais
preocupa é o silêncio dos bons"
(Martin Luther King).



A citação de Martin Luther King, assassinato na “maior democracia do mundo” por lutar pela igualdade e pela paz, pelo respeito ao próximo além das diferenças pela cor da pele, vem ganhando corpo na Internet, mas, como sempre, de forma distorcida. É que o galo cantou, mas a esta altura há quem afirme que não, o que se ouviu foi um solo de clarineta.

Ouvi num debate na tevê: “Quando se discute muito sobre qualquer coisa, a verdade tende a desaparecer”. Não anotei, mas juro que tento reproduzir do modo mais fiel possível.

Voltando a Luther King, acredito que os bons de verdade não se silenciam.

Ultimamente, recebo um respeitável volume de mensagens alusivos ao momento político. Umas exaltam os feitos de Luiz Inácio e insinuam apoio à ministra Dilma Roussef na corrida sucessória; outros, execram o governo e o presidente Lula, chamam Dilma de terrorista, assaltante e assassina e exaltam o governador José Serra.

Os veículos de notícias não têm espaço para divulgar tudo o que se colhe. Nós, jornalistas, ficamos sabendo de muita coisa, até mesmo do que não nos interessa nem deve interessar aos leitores. Mas temos, em geral, memória boa. Com o passar dos anos, fazemos interessantes analogias.

Os que defendem Serra não admitem lembrar, de modo algum, denúncias feitas e não esclarecidas. Ignoram o fato de ele, ao lado de outro ministro de sua época, tratar com desdém e mesmo com grosseria militares da FAB, tripulantes das aeronaves que os transportavam de Brasília a São Paulo todas as semanas. Fazem questão de não saber do modo truculento como trata funcionários em movimentos reivindicatórios (professores especialmente), com a polícia tratando-os como bandidos.

Os que defendem Lula e Dilma posam hoje do mesmo modo como os que, há oito anos, eram seus alvos. Os pró-Serra, agora, agridem Lula por sua simpatia a Fidel, responsável maior pela cinqüentenária ditadura cubana, agora tachada de cruel. Estranhamente, eles se compadecem dos cubanos exilados, mas silenciaram-se quando a “nossa” ditadura exilou, perseguiu, prendeu e arrebentou (literalmente). “Ah! Eram terroristas”, dizem. Mas os inimigos de Fidel são pessoas de bem. Tanto quando “os bons” de cá que ficaram em silêncio.

O que os “do Serra” não perdoam é o fato de Lula ter mantido a economia sob controle, ter cumprido um programa social de inclusão e ter expandido o sistema de ensino. Alegam que ele continuou o que o antecessor começou. Ora, se as regras econômicas apontavam o rumo certo, o certo seria mesmo mantê-las. Mas “os bons” não querem lembrar que o presidente Fernando Henrique chegou a declarar que reduziria as universidades brasileiras a apenas três (nos Estados Unidos, contava uma matéria jornalística da época, havia cerca de cinco mil).

Os lulistas xingam a grande imprensa que, sem pejo, demonstra apoio ao governador Serra na sucessão de Lula. Imprensa boa é imprensa do nosso lado. Ou, como “define” Millor Fernandes, “democracia é quando eu mando em você; ditadura é quando você manda em mim”.

Esquecendo por instantes que é tempo de se trocar o presidente, e isso se fará pelo voto, indigna-me o fato de que dois partidos, apenas, decidem cada um sobre apenas um nome e polarizam a escolha. Dentro de ambos os partidos pólos, reconheço nomes muito mais interessantes, na minha ótica, mas não poderei votar democraticamente em quem escolheria.

E agora? É democracia? Ou uma ditadura partidária oriunda das obscuras batalhas internas de cada sigla, hem?


Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.

8 comentários:

LiLa BoN disse...

Parabéns por tudo...
Adoto te ler !!
Mil beijos !!!!
26/03/2010 23:17:00

Mariana Galizi disse...

Meu amigo, disfarça-se muito bem a nova face da política, diz-se não ser ditadura, diz-se ter liberdade; mas tente reivindicar algo que não siga os padrões já determinados nesta suposta democracia. 
O que disse é real, preocupa-se muito mais em ataques às deficiências de nossos políticos (assim, talvez, não assume-se a alienação neste cenário) do que em apurar fatos, ou fazer com que bons homens subam ao executivo e efetivem uma era justa e limpa.
Panis et circense ainda em voga: vide a felicidade em receber um evento da grandiosidade das Olimpíadas no Rio de Janeiro, que comemorou por cima do muro e hoje convive acostumada com a violência exagerada e faminta.
Ainda assim, devemos ser gratos aos neo-veículos de comunicação e aos que tentam, dentro da grande cacofonia, serem ouvidos como se deve. Creio na voz dos bons.
27/03/2010 01:00:00

Antônio Americano disse...

Prezado Luiz Aquino,
Ao abrir o bloguinho, não se sei se por problemas no meu computador, a matéria apareceu com as letras muito pequenas, obrigando-me a copiar o texto e a colá-lo no Word para que enfim pudesse apreciá-lo. Gostei muito do tema e de sua abordagem.
O que me causa estranheza nessa nossa política é o fato do Lula ter aprovação de mais de 80% dos eleitores, e ele não se dispor a pressionar o Congresso, aproveitando essa onda de aprovação popular, para fazer as reformas de que o Brasil necessita, como por exemplo a reforma eleitoral, a reforma tributária, etc.
Abraços
Americano

Lila Boni disse...

Voltei p te ler + um pouco !!!!
Bom final de semana!!!
Beijos !!!!

Mara Narciso disse...

Argumentação interessante. Não haverá ninguém melhor do que Serra e Dilma nesse país? Quero que Ciro Gomes oficialize e mantenha a sua candidatura, e que também Marina Silva cresça nas pesquisas. Uma meia dúzia de três ou quatro é melhor do que uma polarização pura e simples. A campanha ainda nem começou e a internet já está em nível do esgoto. Pobre país!

Luiz Delfino disse...

"...Dentro de ambos os partidos pólos, reconheço nomes muito mais interessantes, na minha ótica, mas não poderei votar democraticamente em quem escolheria...." (LA)

Caríssimo poeta Luiz de Aquino.

Por vezes tenho saudades da época de estudante quando debatíamos abertamente sobre os problemas políticos que assombravam nossa pátria. Os debates eram imensos; da UNE aos Sindicatos ouviam-se vozes, clamores.

Atualmente tudo parece estar voltado ao piso salarial; quanto eu ganho e quanto deveria ganhar? É o que ouço, por vezes.

Estamos perdidos dentro de nós mesmos; nossa consciencia é prisioneira de um corpo voltado ao consumismo sem se preocupar com o meio que nos envolve e que deveríamos fazer parte, intrinsicamente.

Enquanto não ocorrer a milenar frase de que uma revolução começa dentro de cada um de nós não vislumbro futuro algum para a maioria das pessoas que passam por espectadoras da sua própria história. Escritores, poetas, jornalistas, atores e tantos outros que tentam formar uma opinião a respeito são vistos e taxados como sonhadores, assim como Nelson mandela o foi...

Forte Abraço

Luiz Delfino

Luciene Silva disse...

Luiz, primeiramente quero parabenizá-lo pela foto, ah! Linda, lindo demais você sorrindo. Nunca vou me cansar de te dizer isso, mesmo sabendo que não gosta de elogios, a verdade tem que ser dita.
Sobre seu texto, parabéns, perfeito. Concordo em gênero, numero e grau.
Sonho um dia ver pessoas como o senador Cristovam Buarque e o senador Demóstenes Torres com reais condições de ganhar a eleição, pois hoje são os únicos representantes que realmente acreditam na educação como fator de transformação, eles jamais fariam como Serra e Lula, dizer que "jornal suja a mão", esfregando os dedos. Que nojo, o que suja as mãos é a falta de conhecimento do povo que não sabe nem cobrar, por falta de saber como, porque eles usam o “marketing” EDUCAÇÃO, SAÚDE E SEGURANÇA, como estratégia de campanha, pois pra eles a continuidade dos “currais” é mais interessante. Um povo sem cultura, sem leitura e conhecimento é mais fácil de ser enganado, ludibriado. Com Cristovam ou Demóstenes, tenho certeza que professores e jornalista seriam valorizados no Brasil, que a nossa cultura teria peso de ouro, porque eles não se importaram de sujar as mãos com livros e jornais, a demonstração disso, são seus discursos e respostas sempre com respeito a nossa inteligência, é uma pena que poucos conseguem entender isso, e preferem rir de chacotas, palhaçadas e piadinhas, mas um dia quem sabe.
Como já te disse: Sonho é a realidade a caminho.

Beijo e cheiro

Luciene Silva

Maria Luiza de Carvalho disse...

Querido poeta,
Parece que tudo que você escreve está intimamente relacionado à inclusão.
A luta pela cidadania está inserida nas suas crônicas.
A citação de Martin Luther King, já proporciona uma excelente reflexão.
Você chama a atenção para o posicionamento ideológico que temos que ter diante da realidade da vida.
Posteriormente,quando comenta a respeito do nosso presidente,também resgata a questão do respeito.
O questionamento que ao final é levantado com relação à democracia ou ditadura partidária nos leva a pensar no nosso próprio posicionamento diante da vida.
Seus livros e suas crônicas têm sido instrumentos diários de trabalho.
Encerro meu comentário com a seguinte citação:




"Desconfia do mais trivial, na aparência singela. E examina, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceite o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar."
Bertolt Brecht
Afetivamente,
Malu Carvalho