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sexta-feira, abril 23, 2010

Dia Internacional do Livro

Dia Internacional do Livro




Um amigo querido, e por ser muito querido omito-lhe o nome, indicou-me a um famoso bom-de-bola para que eu escrevesse sua biografia. Informou-me da escolha e quis saber da minha disposição para a tarefa. Horas depois, ligou-me um homem de nome estranho, e esse nome, na pronúncia de alguns parecia-me começar com a vogal U pronunciada duas vezes. Foi quando me dei conta de que a letra U, efetivamente, comporta mais de um som, como as demais.

Marcou-se uma reunião e só não estranhei a escolha do local porque sou repórter, e repórter aceita reunir-se em qualquer lugar. E até mesmo de pé, como se deu, no pátio frontal da sede de um clube de futebol de Goiânia. Levei comigo uma pasta com livros da minha lavra (imaginei que alguém se interessaria em conhecer meu texto). Mostrei-lhes dois de poemas e um de contos, todos diferentes entre si no que concerne a tamanhos e cores.

Os livros passearam de um para outro, quatro pessoas além de mim, entre elas o possível biografado. Mas, e esse detalhe é muito importante, ninguém teve a curiosidade ou a iniciativa de olhar dentro. Ninguém quis saber se, naquelas folhas, haveria algum desenho ou fotografia. Apenas conferiam as capas. Outro detalhe importantíssimo: eu deveria trabalhar às minhas expensas para, ao final, ser gratificado com a parcela oficial de direitos autorais por exemplar vendido. Venderiam cem mil exemplares, diziam eles. O projeto morreu meses depois, porque a “equipe” do jogador não aceitou a hipótese de que, para se trabalhar, seriam necessários equipamentos, viagens e tempo, além do trabalho do autor, e tudo isso custa dinheiro. Assim, calei-me num dado momento e desde aquele instante nunca mais eu soube do meu frustrado biografado. Nem mesmo por notícias de jornais, seja nas páginas de esporte ou nas de política.

Fazer um livro. Fazer um filme. A história audiovisual do pai dos cantores sertanejos foi um estouro! Nessa esteira tentou-se algo parecido com a vida do presidente Lula da Silva. O atleta em questão também gostaria de ver seu nome em letras luminosas, mas nunca acreditei nessa meta – afinal, outros bons-de-bola nacionais, desde a década de 1950, fizeram muito mais e não tiveram tamanha repercussão, ainda que também carismáticos.

Livro.

A palavra tem sua magia. Livro é algo tão importante que devia ser escrito feito nome próprio, sempre em maiúscula. O que seria de tantos de nós, o que seria da totalidade do mundo intelectual, desde a ficção literária até a mais exata das ciências, sem o concurso eterno dos compêndios? Como viver com qualidade sem o auxílio da leitura lúdica? E a praticidade do objeto? Tamanho, forma... Livro tem uma versatilidade que lhe dá toda a mobilidade para nos atender em qualquer circunstância: em casa, numa cadeira ou na confortável poltrona; nas carteiras escolares; na condução – ônibus, barco, trem, carro da família, avião... – e ainda nas filas, nas salas de espera, nos cultos, nas férias, no trabalho e onde mais que se imaginar.

Síntese: a vida tem muito maior e melhor qualidade quando construída com o auxílio do Livro (pronto, escrevi com maiúscula no meio da frase!). Livros técnicos e didáticos dão-nos conhecimentos para o trabalho e a vida; Livros lúdicos conduzem-nos aos sonhos e a uma elevada condição intelectual, moral e espiritual.

Por coisas assim e por muito mais, a UNESCO instituiu, em 1996, o dia 23 de Abril, data em que faleceram Shakespeare e Cervantes, como o Dia Internacional do Livro, data que já era festejada com toda reverência na Espanha. No Rio de Janeiro, o dia é feriado consagrado a São Jorge, que é uma espécie de padroeiro popular da cidade e, por isso, sem que ninguém consiga me explicar, respeitado até pelos crentes protestantes, que não costumam reverenciar santos católicos (não o festejam, mas curtem o feriado).

E é neste dia também que meu irmão Edmar de Aquino Alves faz aniversário, sempre acendendo uma vela ao pé da estátua do Santo Guerreiro, presente que lhe deu no batizado nossa saudosa Tia Wanda, sua madrinha.

Beijos, meu irmão! Presenteio-o com dois novos livros meus e invejo-o por ter nascido justo nesta data!




Luiz de Aquino é escritor de prosa e verso, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

4 comentários:

Lila Boni disse...

Como bom é saber ler...adoro te ler!!!
Mil beijos !!!!

Mara Narciso disse...

A sua colcha de retalhos, ou quebra-cabeça,-como queira-, de temas e assuntos soberbamente alinhavados ficou da melhor qualidade. Começou bem, andou melhor e fechou com os aniversários. O não negócio da biografia foi-lhe duplamente vantajoso: não entrou numa fria e ainda rendeu-lhe essa excelente crônica.

Simplesmente Malu! disse...

Meu caro Luiz,

Li o texto e apesar de saber que o nosso povo não dá a devida importância aos livros, ainda assim, confesso ter ficado chocada com o descaso desses indivíduos.
O livro biográfico, além de ser um dos mais importantes registros é também a maior de todas as homenagens que um indivíduo pode receber na vida. Desprezá-la poderá ser motivo de um futuro arrependimento. Com certeza, esse cidadão daqui há alguns anos não poderá mostrar aos seus netos quem foi e o que fez.
Afinal, vale a pena ressaltar a célebre frase:
"Brasileiro tem memória curta!"

Irinéa MRibeiro disse...

Fazia tempo que não aparecia. Mas apareci!
O Dia do Livro merecia uma outra data. Nada supera S.Jorge, o Salve Jorge, o Capadócia, o santo dos cariocas.
Ele merecia reinar sozinho, num dia todo seu. Confesso que não sabia que dia 23 era Dia do Livro.
E sem ele, o que seria de nós? E sem S. Jorge? O que seria da lua cheia?
ehehehe....brincadeiras à parte, fica meu abraço à todos os escritores e fieis,e meu pedido a S.Jorge para que Ele consiga uma editora pra meu livro(Eu e O Terço- banda de rock progressivo dos anos 70-)!!!
Salve S. Jorge, Salve os Poetas e escritores, cronistas e leitores!
um abraço no poeta Luiz dessa compositora que gosta muito de escrever!