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sábado, junho 19, 2010

Bate que é mestre!

Ilusração do DM em 20/06/2010


Bate que é mestre!








Que dias, hem? A coluna de mercúrio mostra graus mais baixos, há pessoas ostentando um odor de naftalina pelas ruas, há peles e mucosas ressecadas porque o higrômetro acusa percentuais muito baixos de umidade no ar. Velhos e crianças com problemas respiratórios, enquanto a campanha eleitoral ganha ares mais baixos que as temperaturas e os índices de vapor d’água na atmosfera.


Denúncias, dossiês e falas antipáticas. Noticiários ocupados com notas das fofocas de campanha e da indispensável revelação de obras perfeitas pelos governos em geral, enquanto o povão se espreme em ônibus e filas e a vida de cachorro tornar-se aristocrática e nobre: invejável!

A Copa do Mundo chegou para aliviar a pressão dos torcedores sobre os times goianienses: o Goiás Esporte  mostrou reação positiva, o Atlético Goianiense continua perdido e o Vila Nova... Ah! Este parece disposto a sepultar um passado de glórias e dividir com o Goiânia Esporte Clube as divisões inferiores do campeonato goiano.


Leio que Andréa Teixeira, musicista de primeira linha, viaja à Itália e certamente repetirá os feitos de sempre, fazendo bonito para europeu ver e ouvir, mas apenas o seu círculo de amizades sabe disso: a mídia local não tem tempo nem espaço para artista da terra, prefere a gravidez de Galisteu ou as câimbras de algum astro do futebol internacional.


Haja vista o desinteresse dos meios de comunicação para com o Goiânia Canto de Ouro, que é, sem dúvida, um dos maiores ou o maior festival de MPB do país. Deixo uma sugestão ao amigo Valterli Guedes: a Associação Goiana de Imprensa pode, muito bem, instituir prêmios, ainda que simbólicos, com diplomas, troféus e medalhas, para os artistas locais que se destacam, ano a ano. Minha intuição diz que o Carlos Brandão e o fluminense-goiano Luiz Chafim seriam dos primeiros a receber a honraria.

Enquanto nada disso acontece, esbarramos em pessoas de valor sem lhes reconhecer os méritos. Como daquele vez em que um vigia deu uma bronca no dono de respeitável cabeleira branca, escriba de nome e respeito por sua obra, só porque o homem acendeu um cigarro sem se dar conta de que havia, naquela varanda, um adesivo (tímido, é bom que eu diga) indicando “proibido fumar”. No mesmo tom com que o vigilante admoestou o poeta, chamei-o às falas, recomendando um modo educado de se dirigir às pessoas (ou seja, fui tão grosso quanto o guarda, destoando do meu saudoso amigo).


Recordo tudo isso para registrar minha tristeza pela repressão da Polícia Militar aos  professores de Aparecida de Goiânia. As cenas foram revoltantes... O professorado, correndo atrás de salários menos humilhantes, valiam-se da presença do governador Alcides Rodrigues (com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão). Um contingente da PM, em número bastante para prover a segurança das autoridades, partiu para cima dos mestres e foi preciso uma cobertura física, literalmente falando, do deputado Mauro Rubem para que o Professor Antônio tivesse a integridade física poupada (um oficial insistia em algemar o professor, nivelando-o aos bandidos do tráfico que assolam Aparecida).




Não vou esticar mais. Apenas repetir o que já dizia Aristóteles: “Educai as crianças e não será preciso punir os homens”. Era o pensamento que prenunciava escolas em lugar de prisões. Num telejornal matutino, vejo o colega pregar a prisão sistemática e irreversível de todo suspeito, mas nunca o ouvi falar em abrir ou melhorar escolas, sem valorizar e dar condições dignas de trabalho e estudo para professores e estudantes.



Bem: José Ramos Temporão foi aluno do Colégio Pedro II (certamente, uns vinte anos depois de mim, na mesma Unidade Tijuca). Imagino que ele tenha os professores em conceito elevado, porque isso nos era passado ao meu tempo e pude ver, nos últimos anos, que continua assim no CPII. Feio ficou para a PM, que mobilizou algumas dezenas de policiais para conter um professor cujo propósito era reivindicar melhores salários.



 
L.deA, entre professoras e alunos do Liceu, maio de 2010

Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com 

8 comentários:

Leda(ê) Selma disse...

Muito bem, Luiz! Como sempre, texto preciso e de conteúdo de "utilidade pública". Denunciar é preciso, protestar é preciso, refletir é preciso. Você induz o leitor a tudo isso, a cada crônica/artigo. Parabéns! Beijão. Lêda

Maria Luiza de Carvalho disse...

Querido poeta!
Que bela articulação ideológica.
Você trouxe a realidade para uma analise critica, contribuindo para a avaliação do comportamento de cada um de nós.
Promoveu uma inquietude para novas ações de mudanças.
A copa nos une.
Lutar por uma educação mais digna e humana, deve estar na pauta de todos nós, afinal estaremos formando cada um da sua maneira os futuros cidadãos desta pátria tão gentil.
Valeu visitar seu blog pela madrugada.
Pensei bem e resolvi que assim que o sol raiar, será um novo dia para continuarmos nossa luta por melhores condições de vida para todos.
Beijos afetivos.


Malu

Leida disse...

Luiz, como bem disse a também escritora Leda Selma, seu texto é "preciso e de conteúdo de utilidade pública". quase tudo que você "denunciou" no texto são verdades nojentas, só que o povo brasileiro,exceto os professores, perderam a capacidade de protestar, e infelizmente hoje,o que da ibope, e o povo parece que está gostando, é de podridão mesmo,e creio que é por conta do povo adormecido que programas, livros e acontecimentos culturais não fazem
parte da mídia.Parabéns, seu texto ficou ótimo!
Leida Gomes

José Sóter disse...

parabéns,luiz, pelos textos e pelos conteúdos. viajei pelas suas atenções.

abraço.

Mara Narciso disse...

Como sempre, a sua lista de protestos está bem alinhavada, e nem poderia ser diferente. O que está errado, é bom que se destaque. Ótimo tom.
Reparo: as fotos estão encobrindo parte dos escritos, pelo menos para mim, e acabei perdendo parte da conversa. É possível mudá-las de lugar?

Elder Rocha Lima disse...

Prezado amigo:
Acompanho seu trabalho atentamente. O que me encanta em você
é sua afetividade - isso me comove!
Espero encontrá-lo brevemente.
Abraços do amigo e admirador
Elder

Nicácia Carvalho Severino, professora disse...

Caro Luiz de Aquino,

Primeiramente quero lhe parabenizar pelo artigo publicado hoje no DM "Bate que é mestre". Também quero lhe agradecer por ter defendido os professores diante de um ato tão violento, e injusto, por parte da polícia, aparelho repressor do estado. Ontem, sábado, aconteceu ainda pior, como já deve estar sabendo. O seu posicionamento público a nosso favor nos é de grande valia, principalmente porque trabalhamos contra uma mídia manipuladora das grandes massas que quase sempre nos coloca como os vilões. Ainda bem que, mesmo raro, ainda podemos contar com pessoas, cidadãos, profissionais sensíveis a nossa causa.

Obrigada,

Professora Nicácia.

Luiz de Aquino disse...

Professora Nicácia,

Muito obrigado!
Não é esta a primeira vez que escrevo em defesa da Educação e dos educadores, mas raramente alguém do meio se manifesta, infelizmente. Fiquei muito feliz com seu comentário e, é verdade, eu vi a repressão atuando novamente, ontem (sábado, 19/06), desta vez em Goiânia, quando a Guarda Municipal agiu contra seus colegas de contracheque, os professores municipais da Capital. Hoje, em nota distribuída às emissoras de tevê, a Prefeitura informa ter atendido a reivindicação dos professores. Isso, porém, não impede que os professores agredidos fisicamente e os humilhados com a detenção e encaminhamento à Delegacia (delegados também estão em greve) movam processos por danos físicos e morais contra o Município.
Seu comentário, professora Nicácia, é tão ou mais importante que a minha humilde manifestação.