Páginas

sexta-feira, junho 11, 2010

Pérsio Forzani, o de Pirenópolis

Pérsio, o de Pirenópolis






Imagino que quase todos os jornalistas tiveram, ao escolher o ofício, o mesmo estímulo que eu: a curiosidade ante o fato e o desejo de contá-lo. Mas isso, feito sem a o efeito da boa escrita, é coisa de fofoqueiros. A diferença está justamente no amor ao texto.
Desculpem-me os leitores por essas costumeiras divagações quando me ponho a escrever. Produzir uma crônica é um dos meus grandes prazeres e não posso simplesmente imaginar que um gol é apenas um pênalti, sempre o concebo como uma articulação demorada, ziguezague que começa lá na área de defesa, evolui-se no meio do campo e se conclui na área adversária, no excitante desafio a zagueiros e goleiro, no balé de corpos e pernas, no malabarismo improvisado em frações de segundo para ver balançar a rede e erguer-se a torcida... (Poxa! Até para pedir desculpas eu divago; tudo bem, a culpa é da Copa do Mundo!).


O que me motiva, hoje, é Pérsio Forzani, artista plástico com documentos que nos mostram um homem de 79 anos. Na sexta-feira, dia 4 deste junho de 2010,  Pérsio foi homenageado em Pirenópolis, sua cidade de nascer e viver sempre. Não se tratou, porém, de uma festa antecipada das oito décadas, mas dos setenta anos em que Pérsio se dedica à arte de desenhar e pintar. Luiz Antônio Godinho, ao telefone, passa-me um recado:
– Você também está escalado para saudar Pérsio...

Quem exigia? José Nominato Veiga, idealizador da festa que envolveu desde este poetinha até o prefeito Nivaldo Melo, passando por pessoas de destaque na cidade, como o artista Elder Rocha Lima e o desembargador Joaquim Henrique de Sá.



Pois é! Pérsio, de tanta vivência, tem no olhar um brilho instigante: é a luz da juventude. As pernas, imobilizadas e contidas pela pólio na tenra infância, não o impediram de jogar futebol quando menino, como contaram o ex-prefeito Altamir Mendonça e o vice-prefeito Tassiano Brandão. Falou-se lá em outros números: são mais de três mil telas espalhadas pelo mundo, a maior parte mostrando Pirenópolis. Num só projeto, há cerca de vinte anos, Pérsio reproduziu quatrocentas casas históricas da cidade. A encomenda foi do saudoso professor José Sizenando Jaime para sua obra em dois volumes sobre as vetustas construções da antiga Meia-Ponte do Rosário.


E eu, movido pela emoção ao ser convocado, juntei camisa, calça e outras peças numa maleta, convidei a cantora Regina Jardim a acompanhar-me à terra de seu tataravô Veiga Vale e, antes de sair, concebi um poema em homenagem ao amigo e ídolo, assim: 






Pérsio Forzani (o homem que pinta poesia)


Espalho-me ao tempo 
ao sol que define os dias, 
à Lua que benze as noites.


Nos anos mais verdes, 
colhi serenatas plantadas nas ruas
de pedras, sem régua ou compasso.


Ouvi versos cantantes 
e acordes dolentes; vi moças bonitas
nas janelas, silentes...


Era um tempo de estrelas 
e risos sem censura. A gente vivia
vertigens, e era feliz.


Sol, luar, orvalho! 
No verde, mais luz; mais vida
sob os astros.


Meus olhos desenham os morros, 
perfis sob azul infinito, moldados 
aos traços das línguas dos rios.


A ponte, o amor clandestino. 
Carmo, Bonfim, Matriz do Rosário, 
Lembranças de eu-menino...


Meus olhos colheram paisagens, 
Memória transforma em saudade, 
Pincel faz arte e riqueza.


Terra e gente meia-pontense:
Hino e presépio, história em imagem:
Obras de Pérsio, jóias da terra.

* * *






Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras, escreve aos domingos neste espaço. Blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.

















10 comentários:

Romildo Guerrante disse...

Luiz, que coisa linda o trabalho do Pérsio! Que cores incríveis! Tenho de apressar minha volta a Pirenópolis, ia na Cavalhada e não pude. Aguardo o próximo evento, quer ver ao vivo a obra desse cidadão criativo que se esconde aos pés dos Pireneus.

Janette Jayme disse...

abristGrata, Luiz, muito bom. Gostei muito do blog. Mande mais.
Att, Janne

José Aloise Bahia disse...

Parabéns Luiz pela crônica... Abraço
sempre do
José Aloise Bahia

Unknown disse...

Pérsio Forzani é uma das representações humanas vivas da profunda simplicidade da vida goiana. Artista sensível, vive a representar cenas de um bucolismo poético humano rico. Muito justa a homenagem que lhe é prestada.

Alda Inácio disse...

Poeta, continuando aquele papo Marina x Dilma x Serra... ali eu falei do povo paulista, quis dar um elogio ao povo trabalhador de Sampa, e continuo achando que Marina vai levar parte dos votos do Serra e quem ganha é Dilma, e não será com meu voto.

Grande abraço.
Alda

Eliana Mara Chiossi disse...

MUito bonito seu poema mas mais bonito ainda é ver com que lirismo e delicadeza você vai marcando a história de quem faz a história da poesia e da arte em Goiás.

MEUS POEMAS disse...

Olá meu amigo qt tempo!
Adorei seu blog, vc como sempre arrasando!
Bjão e parabéns!
Gena

Simplesmente Malu! disse...

Que bom que você está aqui!...
Que bom que o nosso Brasilzão tem sábios como você, que na simplicidade das palavras nos oferta a essência do saber.
Obrigada poeta por mais este belo texto!
Sua fã,
Malu Monte.

Maria Helena Chein disse...

Lu,
li suas duas últimas crônicas e as apreciei. Parabéns a Pérsio Forzani,
que pinta a vida, parabéns a você que canta e conta, também, a vida.
Em seus textos, sente-se o seu prazer, a sua força em escrever cada
linha, cada verso, cada assunto.
Beijos.
Maria Helena

Antonio C. Neto disse...

Vi um trabalho do Pérsio na casa de uma grande amiga, em Pirenópolis, a psicopedagoga Colandi Carvalho de Oliveira, a quem vc também deveria conhecer e achei a obra do Pérsio maravilhoso e ela, boa pirenopolina me contou toda esta história. Maravilhoso seu texto, assim como o poema. Perdemos hoje, também, a global Milla Moreira. Estamos mais tristes, mais cegos, mais sem arte. Que bom que luzes como as suas continuam brilhando em nossos caminhos e nossas mentes. Parabéns, poeta. Sua sensibilidade e seu talento me encantam sempre.