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sábado, julho 10, 2010

Medo do Futuro






Medo do futuro




A Câmara Federal pretende perdoar os crimes contra a Amazônia cometidos até 2008. Eu disse Amazônia? Crimes contra a Humanidade, centrados no desmatamento desenfreado, isso sim!

A Câmara Federal aprovou, também, o piso salarial de policiais e bombeiros militares (consta que será de R$ 4 mil para soldados, R$ 7 mil para tenentes). A Câmara Federal aprovou, sei lá quando, um piso salarial de R$ 1.300 para professores.

Dirão aí que existem policiais corruptos. Policiais torturadores. Bombeiros que não correspondem à imagem que a nação faz deles. Direi eu que existem também professores que não se sentem comprometidos com os ideais e os princípios fundamentais da Educação. Professores de Matemática que não conhecem de raiz quadrada, professor de Português que não sabe de gramática e ortografia.

Com os novos níveis de salários para os militares bombeiros e policiais, é hora de os parlamentares cuidarem de valorizar os professores. A área da Educação continua sendo a mais espezinhada pela classe política. Já disse (e escrevi) há anos que, no Brasil, político é o péssimo aluno que, por alguma razão que escapa à lógica, conseguiu vencer na vida. E passa a vida adulta vingando-se dos professores porque estes tentaram ensinar-lhes alguma coisa.

No final do primeiro semestre letivo deste 2010, uma professora de Língua Portuguesa numa faculdade pública foi alvo da antipatia dos alunos. Tudo porque a mestra atreveu-se a corrigir ortografia, regência e concordância nas provas. Caras fechadas, semblantes de humilhados e até pais, que geralmente só vão às faculdades para as festas de formatura, apareceram para exigir da professora:

– Para de apertar meu filho, você está “perseguindo ele”.
Nas ruas , a zelosa professora passou a ser olhada como uma torturadora, uma capitã-do-mato dos tempos atuais:

– É essa aí a professora que quer fazer “os menino” da faculdade escrever certo. Que bobinha!...

E assim, acadêmicos cujos cursos são custeados pelos nossos impostos vão ganhar grau universitário, ainda que falem: a pessoa “que eu gosto”; “conzinha”; açúcar “mascado”; casas “germinadas”. Imaginem! Em pouco tempo, esses “brilhantes” alunos serão chamados de doutores. Ou, pior ainda, de professores! Nada mal para quem aprende a falar ouvindo os locutores esportivos... Recentemente,  Galvão Bueno inventou mais uma regência esdrúxula:

– Quem quiser torcer “contra da” Argentina...

Verdade! Ouvi-o falar isso num intervalo de suas chatas falas enquanto transmitia corrida de Fórmula 1, prenunciando um jogo que aconteceria na tarde do mesmo dia.

A professora em questão tenta ser boa profissional, mas é impedida nesse propósito pelos próprios alunos, imaginem! Alunos que estudam de graça, às custas do Erário, e que não atinam pelo privilégio que têm de adquirir cultura e conhecimento a custo zero. E é ameaçada pelos pais desses alunos. Um deles visitou a mestra na universidade e foi desaforado:

– Fique a senhora sabendo que eu posso muito bem pagar faculdade particular pro meu filho – disse o “poderoso” papai.

E arrematou, senhor de si:

– Faculdade federal não presta mesmo...

(Continuo defendendo um salário para professores no mesmo piso que darão aos tenentes policiais e bombeiros).




Luiz de Aquino é membro da Academia Goiana de Letras.  
E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com. 




13 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito,Luiz de Aquino!
Lamentavelmente é a nossa realidade. Parabéns pela deferência aos mestres mal remunerados e perseguidos, mas que ainda fazem a história desse País.

Mara Narciso disse...

Uma boa briga Luiz, comprada há tantos anos e que, vez por outra, tem outro round. Entendo o ciclo do mau professor que muitas vezes não sabe nada, assim: como paga mal, apenas os alunos medíocres vão para a docência e assim se perpetua a má formação profissional. Já ouvi um professor reclamar que dava uma aula por 12 reais durante 50 minutos, enquanto um médico ganhava mais de 200 reais por uma consulta de meia hora. Os preços variam pelo Brasil afora, mas a lógica permanece.

Anônimo disse...

Excelente artigo. Parabéns por defender tão bem, e constantemente, a educação pública e contribuir para a sua valorização.

Professora Nicácia Carvalho Severino

Anecy Nakamura disse...

Otimo comentário do seu blog.
Alguns professores que se esforçam tanto, pena que muitos, vão deixando levar..... Como em qq profissão.
Bj
Anecy

Anônimo disse...

Oi Luiz, parabéns, seu texto é ótimo! Agora, o futuro do país? É, se nada mudar não será nada bom,não sei escrever, mas sei ler bons autores, e se não pagar bem os professores tudo vai mesmo é piorar. Olha, eu só gostaria de saber quem masca o Açucar e onde estão germinando casas, hehehehe!
Beijos,
Adiel Semog<<<<

Marluci Costa disse...

Como em todas as profissões, os bons e os maus.

Motivação - vem de dentro.

Bom salário - se agrega à motivação e impulsiona, contribuindo para uma melhora da satisfação pessoal e atendimento as suas necessidades, levando ao prazer de exercer com mais afinco a profissão.

O respeito ao trabalho alheio faz parte da educação. E esta, se não existe, o que esperar dos nossos educandos?

Educadores e educandos estão precisando se educar e se doar. Senão, cada vez menos, teremos verdadeiros educadores nas escolas.

Continue gritando, querido Luiz, para que sua voz ajude a salvar os afogados nessa lama de inversão de valores, na qual afunda a nossa sociedade.

Marília Núbile disse...

Recebi de uma ex-aluna, achei alguma semelhança com o seu texto de hoje. A dificíl tarefa de ser professor.


O SERMÃO DA MONTANHA PRA EDUCADORES


O Sermão da montanha (*versão para educadores*)

Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre
uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se
aproximassem. Ele os preparava para serem os educadores capazes de
transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens. Tomando a palavra,
disse-lhes:
- “Em verdade, em verdade vos digo: Felizes os pobres de espírito, porque
deles é o reino dos céus. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque
serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque eles...”
Pedro o interrompeu:
- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?
André disse:
- É pra copiar no caderno?
Filipe lamentou-se:
- Esqueci meu papiro!
Bartolomeu quis saber:
- Vai cair na prova?
João levantou a mão:
- Posso ir ao banheiro?
Judas Iscariotes resmungou:
- O que é que a gente vai ganhar com isso?
Judas Tadeu defendeu-se:
- Foi o outro Judas que perguntou!
Tomé questionou:
- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?
Tiago Maior indagou:
- Vai valer nota?
Tiago Menor reclamou:
- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.
Simão Zelote gritou, nervoso:
- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?
Mateus queixou-se:
- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!
Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado
nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:
- Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso
e a avaliação diagnóstica? Quais são os objetivos gerais e específicos?
Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?
Caifás emendou:
- Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades
integradoras com outras disciplinas? E os espaços para incluir os parâmetros
curriculares gerais? Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e
atitudinais?
Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e
reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos
para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade. Nem
pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso
projeto.
- E vê lá se não vai reprovar alguém! Lembre-se que você ainda não é
professor titular...
Jesus deu um suspiro profundo, pensou em ir à sinagoga e pedir aposentadoria
proporcional aos trinta e três anos. Mas, tendo em vista o fator
previdenciário e a regra dos 95, desistiu.
Pensou em pegar um empréstimo consignado com Zaqueu, voltar pra Nazaré e
montar uma padaria...
Mas olhou de novo a multidão. Eram como ovelhas sem pastor... Seu coração de
educador se enterneceu e Ele continuou:

-“Felizes vocês, se forem desrespeitados e perseguidos, se disserem mentiras
contra vocês por causa da Educação. Fiquem alegres e contentes, porque será
grande a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram outros educadores que
vieram antes de vocês”.
Tomé, sempre resmungão, reclamou:
- Mas só no céu, Senhor?
- Tem razão, Tomé - disse Jesus - há quem queira transformar minhas palavras
em conformismo e alienação.. Eu lhes digo, NÃO! Não se acomodem. Não fiquem
esperando, de braços cruzados, uma recompensa do além. É preciso construir o
paraíso aqui e agora, para merecer o que vem depois...
E Jesus concluiu:
- Vocês, meus queridos educadores, são o sal da terra e a luz do mundo...


Texto de abertura do Programa Rádio Vivo — Rádio Itatiaia, Belo Horizonte —
de 15/10/2009, texto do professor Eduardo Machado.

Luiz de Aquino disse...

O primeiro comentário nesta página, que aparece como anônimo, é da Professora Marília Núbile, também!

Prof. Júlio César Felippe disse...

Olá!

Acabei de ler seu artigo no Diário da Manhã (Domingo) e me identifiquei muito com o que foi relatado sobre a professora universitária.

Tenho sofrido esse tipo de perseguição também. Sou professor de línguas estrangeiras (Inglês e Espanhol), possuo graduação em letras e pedagogia e duas especializações além de diversos cursos no exterior.

Sou professor concursado das redes municipal e estadual em Caldas Novas. Sou rígido e tento sempre prover meus alunos dos melhores métodos e técnicas possíveis. Ao final de junho (e em diversos momentos anteriores também) fui questionado por uma diretora da escola municipal em que trabalho sobre a forma de avaliação. Ela argumentava que eu exigia muito dos alunos, inclusive requerendo trabalhos com estrutura adequada (capa, folha de rosto, sumário, etc) o que, em sua visão seria algo fora do comum para tais alunos. Produzir um trabalho adequado, com capa e demais estruturas é muito para alunos de 9º ano?

Em uma reunião argumentei com a mesma que todos os meus alunos devem ter o direito de adquirir conhecimentos adequados ao mundo atual, e não ficarem restritos a metodologias que visam o empobrecimento cultural, ou seja, a famosa educação reprodutora: filho de pedreiro, recebe educação simplificada, filho de empresário, recebe melhor nivel de educação...Nesse momento salientei que seu filho, na escola PARTICULAR em que estuda tinha que produzir trabalhos bem elaborados e que seguiam as normas acadêmicas adequadas, portanto, os alunos da escola pública tinham o direito do acesso a educação de qualidade, mesmo que fosse uma simples estruturação de trabalhos escritos.

A diretora, ao ouvir minha crítica sobre a diferenciação entre o tratamento de alunos de escolas públicas e particulares e ainda ao citar o filho da mesma, que como já citei foi meu aluno na escola particular (sim, trabalho em várias escolas, como vários colegas também o fazem...) a mesma explodiu de raiva, inclusive me agredindo verbalmente, pois toquei no cerne da questão: ela não se importava muito sobre a qualidade de ensino da própria escola que dirigia, pois mantinha o próprio filho estudando numa escola particular da cidade.

Pois é, infelizmente essa prática de trabalhar em escolas públicas e manter os filhos em escolas particulares é muito comum na rede municipal de Caldas Novas e quando professores conscientes como eu queremos igualar os dois sistemas, no que tange à qualidade, somos criticados por nossos próprios dirigentes, os que, em tese teriam que buscar formas inteligentes de acesso a um sistema educacional de qualidade...Isso é um grande problema.


Foi importante para mim compartilhar com você e também com a professora citada no artigo que também tenho essa dificuldade. O que parece é que quanto menor for o nível de educação, melhor será para todos, professores, pais, alunos, etc. É uma grande pena.

Abraços...

Prof. Júlio.

Pedro Du Bois disse...

Caro Luiz, perfeito o enfoque do seu texto. Convivemos numa espiral perversa, em que cada volta apenas faz aumentar o grau de perversidade. No entanto, não encontro um político que se engaje nessa verdadeira "cruzada" cívica: tirar nossa população do imobilismo teleformático da ignorância. Sempre haverá um jogador de futebol (sem demérito) para servir de exemplo de que a educação não enriquece ninguém. Pois é... Infelizmente, hoje, trago comigo a péssima noção de que aos pobres só interessa que seus filhos cumpram a educação obrigatória (o quanto antes) e aos remediados que seus filhos sejam preparados para passarem no vestibular (e agora já não temos cursinhos preparatórios para o exame do ENEM?). Lastimável.

Lila Boni disse...

Só posso endoçar todos os comentários e te deixar mil beijos !!!!!

Uma Professora disse...

Gostei dos comentários sobre a crônica, só que os professores ainda estão omissos diante do que passamos quando vamos corrigir ou exigir algo, tanto da Direção quanto dos pais e alunos... Somente o professor que mandou a carta está mostrando uns 8 por cento do que passamos.

(Uma professora goiana, intencionalmente anônima)

Sinésio Dioliveira disse...

Aquino, não há como acreditar em evolução social neste país se instrumentos humanos tão importantes neste processo, que são os professores,ganham merreca. A valorização do professor é algo imprescindível para um país que busca ser sério (que não é o nosso, infelizmente). Mas bola pra frente, o futebol está aí, gerando comentários profundos do bando de zé ninguém, que nem sabe mais em quem votou na última "inleição".