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sexta-feira, dezembro 03, 2010


Descaso municipal



Em 1994, quando me mudei para o Setor Bela Vista, informaram-me que, por decisão do poder público municipal, o edifício que escolhi alinhava-se sobre a última linha, no extremo sul da cidade, em que eram permitidas grandes edificações. Contudo, pouco a pouco, os edifícios foram se elevando, com alvará da Prefeitura, pouco se importando se causavam sobras eternas ou vedavam definitivamente a ventilação. E, para piorar a situação, o que parecia ser um breve descuido tornou-se norma e nos últimos seis anos, proliferam-se por toda a cidade as imensas torres (que já se chamaram espigões e, antes ainda, arranha-céus).
A prática mais costumeira, porém, é a dos puxadinhos.
Uma construção existente, sobretudo as habitações individuais ou de pequeno comércio, são aumentadas de modo improvisado, sem respeito às normas legais e técnicas, violando recomendações muito em moda, como a preservação de áreas para infiltração das águas. E por ser este um bairro “beneficiado” com o capeamento asfáltico sem os cuidados de uma rede de captação pluvial adequada, o resultado é o que todo mundo conhece: a enxurrada corre a céu aberto, carregando entulhos e sacos de lixo, obstruindo a minúscula rede instalada para tapear os financiadores das obras maiores desta região – a construção da Avenida T-63, no final da década de 1980, e do viaduto sobre a antiga Praça do Chafariz, na confluências da T-63 com a Avenida 85.
E os puxadinhos continuam acontecendo. Da minha janela, nota-se que alguns proprietários constroem na calada, ocultados por elevados muros e portões indevassáveis, e há até quem ocupe toda a área de seu lote, edificando sobrados nos fundos, em desrespeito ao código de edificações – e não é preciso ser profissional dos ramos das construções, da fiscalização ou do rigor das leis da cidade para saber que existe uma afronta nessas obras.
O que se sente, aliando-se a esses fatos o de que a arborização da cidade é danificada com mutilações e derrubadas sem critérios (enquanto alguns exemplares arbóreos ameacem algumas construções e o órgão competente se recuse a substituí-los). Carros de som poluem as manhãs, especialmente nos finais de semana, interrompendo o repouso; veículos em lava-jatos têm seus aparelhos de som indevidamente usados pelos lavadores; escolas (aqui mesmo no bairro) removem placas de “Proibido parar” e “Proibido estacionar” para “proteger” mamães que levam e buscam seus filhinhos barbados.
Em síntese: de pouco adianta eleger prefeitos e vereadores de siglas partidárias variadas, o “modus operandi” é o mesmo, ou seja, o do fingir que não se vê, pois há eleições a cada dois anos e tudo indica que os políticos gostam mesmo é de obter os votos dos que burlam as leis, em prejuízo dos eleitores corretos.


Luiz de Aquino

2 comentários:

Mara Narciso disse...

Boa lembrança essa de falar das construções ilegais. Muitos terrenos têm prédios que ocupam todo o território. Em Copacabana os prédios foram construídos colados, em toda a orla. Na Barra da Tijuca há espaçamento e o vento corre. São leis recentes que provaram ser mais civilizadas. O poder público precisa aplicá-las. Enquanto isso vamos protestando como podemos.

Adriano Curado disse...

Caro Luís,

Gostei da matéria que você postou no blog, intitulada “Descaso Municipal”. Concordo plenamente com seu ponto de vista e acrescento que não há boas perspectivas de melhora para breve. Goiânia está toda irregular. Observe a quantidade de construções que avançam sobre as calçadas, em absoluto desrespeito comunitário. Fiscalizar as casas que cimentam 100% do terreno, então, nem pensar. Parece sem importância maior o ato de quem não deixa áreas permeáveis para infiltrar a chuva, mas isso é de suma importância para evitar as inundações urbanas.