Natal de letras
Então é Natal: muitas luzes nas noites, muitas cores no dia, muita gente apressada e nunca vi tantas crianças grudadas às mãos de mães e avós, puxadas por pais e paparicadas por avôs (neste caso, há que se forçar um plural masculino). Comércio otimista, espera um superávit em torno de 20% sobre as vendas do ano passado “no mesmo período”, dizem... É Natal, uai!
Livros! Livros muitos, demais; nenhuma companhia é melhor, quando se está triste, que um livro. Sem esforço, escolho alguns na estante: “Guardados”, de Sônia Marise: “O certo é que, quando não resolvo essas coisas do sentir, o poema pode crescer dentro de mim até não mais caber no peito”. E escreve “Papoulas Vermelhas”:
“Sangue... vinho / verão / fogo... emoção ardente /coração / papulas vermelhas / exuberantes / sugerem amor / sentimento / cor / sugerem paixão”.
Lá de Santa Catarina, escreveu-me Pedro Du Bois, excelente poeta. Enviou-me, há poucas semanas, dois livros singelos e belos, em forma e conteúdo: “O dia (a)final” e “A necessária partida (Vol. II). Eis uma estrofe (do poema Aprendiz, em “A necessária partida”):
“Rua sem companhia: nula em confidências. / Espírito condoído. Rugas envolvem / o rosto e indicam o paradeiro. Estende / o braço e a mão recebe o troco”.
Passeio outros livros, toco-os como se acolhesse a mão do autor em afetuoso bom-dia, e ao lê-lo sinto o abraço que une peitos e emoções, amor que transcende a carne porque sela sentimentos nobres de confiança. Poetas, quando o são de fato, têm esse amor sem sexo, uma cumplicidade em versos, sem inveja nem competição. Continuo a olhar estantes: Itaney F. Campos, afetuoso e lírico, presenteou-me com “Inventário do Abstrato”. Vate e jurista, filho de Uruaçu (Goiás), traz da vertente do Tocantins e da ambientação bucólica a estria dos versos, como em “Esperança”:
“À espera de nossa fome/ palpita um fruto maduro/ no ventre de cada manhã. // À espera do nosso riso / dorme uma canção no vento / que se abria sob a hera. // À espera do nosso sonos / um leito de pôr do sol / nos aguarda esparso no ar”.
Apreciei com imensa ternura o mimo que ganhei da querida Cida Almeida, que eu tinha no limite de competente repórter, profissional convencida de que é meta realizar sempre o melhor, e esse melhor é colimado a cada dia, porque o ofício da notícia renova-se sempre antes do pôr do sol. Em “Flor da Pedra”, ela traz poemas cuidadosamente compostos. Livro com requintes de feitura e acabamento, ilustrado com o luxuoso auxílio do poeta Itamar Pires Ribeiro. Cada parte recebe um título digno de capa: I – De barro, pedra e ventre; II Deus aprisionado; III – Palavras secas; IV - Ciclos do coração; V – O tesouro. Também os poemas recebem nomes primorosos, denunciando o zelo da artesã no arremate das peças; ou do acabamento em verniz finíssimo sobre a pedra esculpida, delicadamente polida pelo exímio artista ao cinzel. Neste “Bordado a pavio curto”, começa com:
“Palavra por palavra / Remendei o seu discurso / Alinhavado de silêncios / Teci com os retalhos / As pontas / As sobras / Das suas palavras ausentes / Uma paciente coberta / Dessas de fazer inveja / À espera de Penélope... “.
Por fim, um romance: “Alétheia”, de Clara Dawn. Saboreio, suas crônicas semanais em que o peso poético faz a diferença. Dela conheci poucos poemas, o bastante para sentir que a autora transcenderá os tempos. Ao ofertar-me o livro, ornamentou o gesto com uma frase ao modo de quem quer crescer mais, muito mais: “Acho que este livro está ainda muito imaturo; tenho muito o que aprender”. Com isso, ela demonstra a vontade enorme de progredir. É o êmulo de todo artista: o melhor a cada obra... Ou a cada dia, como sabem os jornalistas e escritores e músicos e artistas plásticos... E os que sabem que Deus não nos faz completos.
* * *
Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeauqino@gmail.com.
8 comentários:
Alinhavou assuntos e homenageou com graça a poesia.
Destaco: " os poemas recebem nomes primorosos, denunciando o zelo da artesã no arremate das peças". Esse recorte mostra como não há de fato nenhum ciúme entre os colegas.
Sou suspeita, mas está tocante. Você deu um presente a todos que mencionou com suas observações positivas.
Ler... é .... sentir, viver, curar-se.
Oi,poeta! Que bacana minha estréia no seu tão bem frequentado blog!
Gostei. Obrigada pela deferência. É sempre bom andar em boas
companhias..rs.rs Também me agradaram os cutucões nesse povo
insensível, que sempre adia as soluções a favor do povo, das letras,
das artes.Você continua o mesmo: alerta, bem acordado como cidadão.
Um abração de Ano Novo.
Luiz, agrade_cida pelas boas referências. Importante um blog como este Pena & Poesia, abrindo generoso espaço para a discussão dos acontecimentos da cultura e divulgação artística. Parabéns e um 2011 de muitas realizações e sucesso.
Grande abraço.
Luiz, agrade_cida pelas boas referências. Importante um blog como este Pena & Poesia, abrindo generoso espaço para a discussão dos acontecimentos da cultura e divulgação artística. Parabéns e um 2011 de muitas realizações e sucesso.
Grande abraço.
Luiz, agrade_cida pelas boas referências. Importante um espaço como este Pena & Poesia, abrindo generoso espaço para discussão dos acontecimentos da cultura e divulgação artística, em especial da poesia. Parabéns e um 2011 de muitas realiações e sucesso.
Grande abraço.
Luiz, agrade_cida pelas boas referências. Importante um espaço como este Pena & Poesia, abrindo generoso espaço para discussão dos acontecimentos da cultura e divulgação artística, em especial da poesia. Parabéns e um 2011 de muitas realiações e sucesso.
Grande abraço.
Cida e Sônia Marise,
Este espaço sempre será seu, como quiserem! Fiquei muito feliz em poder comentar seus lindos livro, relíquias da nossa literatura!
Luiz
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