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sábado, dezembro 25, 2010

Natal de Letras

Natal de letras


Então é Natal: muitas luzes nas noites, muitas cores no dia, muita gente apressada e nunca vi tantas crianças grudadas às mãos de mães e avós, puxadas por pais e paparicadas por avôs (neste caso, há que se forçar um plural masculino). Comércio otimista, espera um superávit em torno de 20% sobre as vendas do ano passado “no mesmo período”, dizem... É Natal, uai!







Livros! Livros muitos, demais; nenhuma companhia é melhor, quando se está triste,  que um livro. Sem esforço, escolho alguns na estante: “Guardados”, de Sônia Marise: “O certo é que, quando não resolvo essas coisas do sentir, o poema pode crescer dentro de mim até não mais caber no peito”. E escreve “Papoulas Vermelhas”: 

“Sangue... vinho / verão / fogo... emoção ardente /coração / papulas vermelhas / exuberantes / sugerem amor / sentimento / cor / sugerem paixão”.


Lá de Santa Catarina, escreveu-me Pedro Du Bois, excelente poeta. Enviou-me, há poucas semanas, dois livros singelos e belos, em forma e conteúdo: “O dia (a)final” e “A necessária partida (Vol. II). Eis uma estrofe (do poema Aprendiz, em “A necessária partida”):



“Rua sem companhia: nula em confidências. / Espírito condoído. Rugas envolvem / o rosto e indicam o paradeiro. Estende / o braço e a mão recebe o troco”.


Passeio outros livros, toco-os como se acolhesse a mão do autor em afetuoso bom-dia, e ao lê-lo sinto o abraço que une peitos e emoções, amor que transcende a carne porque sela sentimentos nobres de confiança. Poetas, quando o são de fato, têm esse amor sem sexo, uma cumplicidade em versos, sem inveja nem competição. Continuo a olhar estantes: Itaney F. Campos, afetuoso e lírico, presenteou-me com “Inventário do Abstrato”. Vate e jurista, filho de Uruaçu (Goiás), traz da vertente do Tocantins e da ambientação bucólica a estria dos versos, como em “Esperança”:

“À espera de nossa fome/ palpita um fruto maduro/ no ventre de cada manhã. // À espera do nosso riso / dorme uma canção no vento / que se abria sob a hera. // À espera do nosso sonos / um leito de pôr do sol / nos aguarda esparso no ar”.


Apreciei com imensa ternura o mimo que ganhei da querida Cida Almeida, que eu tinha no limite de competente repórter, profissional convencida de que é meta realizar sempre o melhor, e esse melhor é colimado a cada dia, porque o ofício da notícia renova-se sempre antes do pôr do sol. Em “Flor da Pedra”, ela traz poemas cuidadosamente compostos. Livro com requintes de feitura e acabamento, ilustrado com o luxuoso auxílio do poeta Itamar Pires Ribeiro. Cada parte recebe um título digno de capa: I – De barro, pedra e ventre; II Deus aprisionado; III – Palavras secas; IV - Ciclos do coração; V – O tesouro.  Também os poemas recebem nomes primorosos, denunciando o zelo da artesã no arremate das peças; ou do acabamento em verniz finíssimo sobre a pedra esculpida, delicadamente polida pelo exímio artista ao cinzel. Neste “Bordado a pavio curto”, começa com:

“Palavra por palavra / Remendei o seu discurso / Alinhavado de silêncios / Teci com os retalhos / As pontas / As sobras / Das suas palavras ausentes / Uma paciente coberta / Dessas de fazer inveja / À espera de Penélope... “.



Por fim, um romance: “Alétheia”, de Clara Dawn. Saboreio, suas crônicas semanais em que o peso poético faz a diferença.  Dela conheci poucos poemas, o bastante para sentir que a autora transcenderá os tempos. Ao ofertar-me o livro, ornamentou o gesto com uma frase ao modo de quem quer crescer mais, muito mais: “Acho que este livro está ainda muito imaturo; tenho muito o que aprender”. Com isso, ela demonstra a vontade enorme de progredir. É o êmulo de todo artista: o melhor a cada obra... Ou a cada dia, como sabem os jornalistas e escritores e músicos e artistas plásticos... E os que sabem que Deus não nos faz completos.


* * *




Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeauqino@gmail.com.

8 comentários:

Mara Narciso disse...

Alinhavou assuntos e homenageou com graça a poesia.
Destaco: " os poemas recebem nomes primorosos, denunciando o zelo da artesã no arremate das peças". Esse recorte mostra como não há de fato nenhum ciúme entre os colegas.

Klaudiane Rodovalho disse...

Sou suspeita, mas está tocante. Você deu um presente a todos que mencionou com suas observações positivas.
Ler... é .... sentir, viver, curar-se.

Sônia Marise Teixeira Silva de Souza Campos disse...

Oi,poeta! Que bacana minha estréia no seu tão bem frequentado blog!
Gostei. Obrigada pela deferência. É sempre bom andar em boas
companhias..rs.rs Também me agradaram os cutucões nesse povo
insensível, que sempre adia as soluções a favor do povo, das letras,
das artes.Você continua o mesmo: alerta, bem acordado como cidadão.
Um abração de Ano Novo.

Cida Almeida disse...

Luiz, agrade_cida pelas boas referências. Importante um blog como este Pena & Poesia, abrindo generoso espaço para a discussão dos acontecimentos da cultura e divulgação artística. Parabéns e um 2011 de muitas realizações e sucesso.

Grande abraço.

Cida Almeida disse...

Luiz, agrade_cida pelas boas referências. Importante um blog como este Pena & Poesia, abrindo generoso espaço para a discussão dos acontecimentos da cultura e divulgação artística. Parabéns e um 2011 de muitas realizações e sucesso.

Grande abraço.

Cida Almeida disse...

Luiz, agrade_cida pelas boas referências. Importante um espaço como este Pena & Poesia, abrindo generoso espaço para discussão dos acontecimentos da cultura e divulgação artística, em especial da poesia. Parabéns e um 2011 de muitas realiações e sucesso.

Grande abraço.

Cida Almeida disse...

Luiz, agrade_cida pelas boas referências. Importante um espaço como este Pena & Poesia, abrindo generoso espaço para discussão dos acontecimentos da cultura e divulgação artística, em especial da poesia. Parabéns e um 2011 de muitas realiações e sucesso.

Grande abraço.

Luiz de Aquino disse...

Cida e Sônia Marise,

Este espaço sempre será seu, como quiserem! Fiquei muito feliz em poder comentar seus lindos livro, relíquias da nossa literatura!

Luiz