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terça-feira, junho 29, 2010

A briga entre a verdade e o mito

A briga entre a verdade e o mito


Mara Narciso*


Uma moça brasileira esteve nos Estados Unidos participando de um intercâmbio. Na casa onde se hospedou, havia quatro moradores, e não tinha chuveiro, apenas uma banheira. As pessoas usavam toalhinhas para fazer a higiene corporal. Ao final do dia molhavam as tais e as passavam nas axilas e nas partes íntimas. A moça, mal chegou, recebeu o codinome de Miss Clean, em alusão aos dois banhos de imersão que tomava diariamente.
Um ginecologista reclamava da falta de banho de algumas mulheres, e ainda, que nem todos os humanos se utilizavam de papel higiênico, assim, durante o exame local, exalavam um odor (para usar uma palavra suave), tão asqueroso, que desencadeava ânsia de vômito no examinador. A cena dantesca vista e sentida parece ter saído de um pesadelo. No século XXI é difícil imaginar que isso ainda possa existir.
Os índios brasileiros, no seu ambiente natural, pulam na água diversas vezes, tomando uma série de banhos diários, e desse hábito resultou um povo limpo. Dizem vir deles o costume de os brasileiros tomarem banho todos os dias.
Um homem foi expulso da cama do casal devido ao rastro de gordura deixado sobre os lençóis no lado onde dormia. A mulher não suportou a crescente falta de banhos, deixando os cabelos fedendo e pregados de gordura. O quarto exalava um mau-cheiro nauseabundo. Melhor nem mencionar as cuecas que ela lavava.
Alguém gasta duas horas ao dia em dois banhos, no começo e no fim do dia, se utilizando de um sabonete inteiro de cada vez. O resultado de tanta limpeza é alguém inodoro, insípido e colorido, pois a cor da pele não sai na água. Apenas que o planeta reclama de tamanho desperdício de água.
O rapaz bonito, não trabalhava. No começo de um dia frio, já recendia um horrível cheiro de corpo. Pelo fedor que exalava, não via água há muitos dias. Não há odor humano que não desapareça com água e sabão.
Algumas compulsões podem escravizar o corpo e a alma das pessoas. Uma mulher tomava banho, trocava de roupa, descia as escadas do prédio e, chegando à rua, voltava para outro banho e outra troca de roupa, até a total exaustão física.
Uma reportagem gravada na porta do banheiro dos aviões mostrou que boa parte daqueles que viajam voando não lavam as mãos após usar o sanitário. Nessa linha, olhar dentro dos sapatos de algumas pessoas expõe uma cena inesperada: muita terra molhada pelo suor e seca ao vento, pelo fato de pisar no chão e depois calçar os sapatos sem lavar os pés. Inacreditável!
Os japoneses, que têm fama de ser o povo mais limpo do planeta, desenvolveram a arte do banho, e quando podem, mergulham no ofurô. Por outro lado, a fama de pouco afeitos ao banho persegue os franceses. Estrangeiros reclamam do cheiro desagradável nos locais públicos, como o metrô, por exemplo, e dizem vir da falta de banho a inspiração para a imbatível indústria de perfumes.
Nas localidades de clima quente, o problema da fuga ao banho cresce quando chega o inverno. O gasto com água se reduz pelo abandono desse saudável hábito. Há quem fique um mês sem lavar a cabeça. Troca de roupa, mas não toma banho.
Ninguém em sã consciência vem a público falar desse tema. Melhor fazer de conta que todos seguem os ditames da civilização, que esconde o nosso lado animal com exigência de limpeza total. Vamos abraçando com tal vitalidade essas regras, que os americanos chegaram ao cúmulo de produzir a “pílula de perfume”. Devem ser tomadas duas vezes ao dia, e após duas semanas, a mulher - sim, é para o sexo feminino-, exalaria odor de rosas em sua genitália.
Boa parte da população toma dois banhos ao dia, lava os cabelos quase todos os dias, lava as mãos dezenas de vezes, escova os dentes quando come, usa fio dental, lava as partes pudendas após usar o banheiro, utiliza desodorante, xampu, sabonete íntimo, e perfume, pois a indústria precisa faturar. Então se assusta ao imaginar os reis e rainhas, de outrora. Pessoas muito chiques, vestidas com toda aquela pompa, no meio de ouros e preciosidades, sendo abanadas por plumas, não devido ao calor, mas para disfarçar o mau-cheiro corporal, pois não se utilizavam desses recursos.
A saúde humana melhorou com a higiene dos corpos, das casas e dos alimentos. E antes de colocarmos o corpo de molho, vem a pergunta: afinal, nossa fama de brasileiros asseados é real ou imaginária?



*Mara Narciso é médica e faz jornalismo – 27 de junho 2010

sexta-feira, junho 25, 2010

Bola redonda, letras tortas


Bola redonda, letras tortas



Há quarenta anos, João Saldanha convocou o que muitos ainda têm na conta de o mais bem selecionado de todos os escretes (ninguém se lembra?) dentre os que envergaram a famosa camisa amarela. A vocação para o arbítrio consolidara-se um ano e meio antes, quando se editou o Ato Institucional nº 5, e deu o ar da mais pura “graça” quando, em dezembro de 1969, a junta trina militar convocou o general Médici para o terceiro plantão da primeira ditadura por revezamento da História (não me lembro de outra).
O regime endureceu: se antes era de violência e perseguição, desde o tal de AI-5 a coisa ficou turva, escura feito os momentos seguintes ao crepúsculo em noite de Lua Nova. Prisões, sequestros, torturas, humilhações, assassinatos nos porões dos quartéis e delegacias, perseguições nos ambientes de trabalho e um procedimento maluco, que era a “cassação dos direitos civis”, tornou-se ferramenta de morte-em-vida para centenas de brasileiros. Bastava que alguém (geralmente, algum medíocre louco por aparecer) acusasse um desafeto de “esquerdista” ou “comunista”. Assim, o delator era premiado com o cargo do denunciado, em grande parte das vezes. Outros deduravam por mero prazer e a oferta de comendas multiplicou-se.
João Saldanha teve a petulância de responder a uma insinuação do “césar” de Bagé (atentem: dos cinco generais que se revezaram no posto de “presidente” do tal regime militar, três eram gaúchos de nascimento; os outros dois, cearense e carioca por nascimento, foram forjados em escolas e quartéis do Rio Grande do Sul. Coincidência?). O “presidente” Médici mandou dizer que gostaria de ver Dadá Maravilha no Escrete de Ouro, e Saldanha respondeu que jamais dera palpites na formação do ministério... Saldanha também era gaúcho.
Foi o bastante! João perdeu o emprego e Zagalo foi chamado às pressas para ser o técnico do tricampeonato.
Agora, outro gaúcho está no comando da Seleção Canarinho. Saldanha era jornalista esportivo; Dunga, o zangado, foi jogador do nosso Esquadrão e vem se destacando como um bom treinador (como Saldanha). Lula não tentou se impor no trabalho de Dunga. E Dunga já lhe negou a mão em cumprimento, justo na recepção em Palácio, no dia em que a delegação brasileira rumou à África do Sul. Agora, o que se vê é uma queda-de-braços entre Dunga e a Rede Globo.
Não gosto de ver tratamento grosseiro dispensado por entrevistados a jornalista. “Esprit de corp”? Talvez. Também não gosto de ver policiais e guardas civis agredindo professores que lutam pelo direito de ganhar duas vezes e meio o salário mínimo. Que país é este? Sim, que país é este? (Notem que grafei “este”, e não “esse”, como teimam em dizer nossos coleguinhas televisivos.
Mas é triste vermos o Dunga xingar jornalistas. Só mesmo três dias depois recebi a versão contrária, a que fortalece Dunga: a presença invasiva de equipes jornalísticas, escudada no poder da Organização monopolista na Copa da África, vêm buscando minar o trabalho do treinador Dunga. Os repórteres e técnicos que se tornaram alvos diretos são, em suma, a ponte entre ele e os que impõem o jeito de sacar notícias e imagens da Seleção Brasileira.
Para nós, humildes e felizes torcedores, cheios da esperança do Hexa, fica o “macro”, ou seja, as imagens, falas, comentários, entrevistas, os jogos e a chatura de meia dúzia de falantes a atropelar a língua de Saramago: já criaram uma regência maluca para se referirem a derrotas: um time perde “do” outro; há cerca de uma semana, criaram a segunda: um time  venceu “do”, “de” e “da”... Estou de ouvidos atentos, a qualquer momento alguma equipe vai empatar “da” outra.
Aonde anda o Professor Nogueira? Os atuais comunicadores esportivos da mídia eletrônica violam a memória de outro Nogueira, o Armando, excelente jornalista, exímio poeta! Ele era do tempo em que, para se falar em rádio e tevê, o profissional precisava, antes, ser alfabetizado...
Enfim, dói-me escrever antes do jogo Brasil e Portugal. Espero ver uma das melhores pelejas (hoje estou gastando vocabulário antigo, hem?) desta Copa! E, é claro, espero que o nosso time (enfim, um vocábulo em voga) vença a equipe de Cristiano Ronaldo. E que o México dê muito trabalho a Don Diego Maradona, o lado hilário deste certame.


Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com. 

quinta-feira, junho 24, 2010

Artigo do Prof. Altair Sales Barbosa (*)


O RELINCHAR DA QUAGGA


Altair Sales Barbosa
Prof. Titular da PUC Goiás
Doutor em Antropologia pela
Smithsonian Institution – Washington - DC


Quagga era uma espécie de zebra garbosa e imponente de pelagem marrom clara, pernas esbranquiçadas com tonalidades amarronzadas, listras pretas e brancas, da cabeça até a parte superior do dorso. Nativa dos prados da África do Sul foi violentamente caçada tanto por sua carne, quanto por sua pele. Desapareceu totalmente em 1872.
Por outro lado, o mar de Aral situado na região desértica da Ásia Central, é outro exemplo clássico de contínuo desastre humano e ambiental. O mar é alimentado por dois importantes rios, o Amu Dar’ya e o Syr Dar’ya. Até o início do século XX, havia um equilíbrio entre a água fornecida por esses rios e o índice de evaporação do mar de Aral, que não tem escoadouro. A partir de então, a antiga União Soviética, buscando tornar-se auto-suficiente na produção de algodão, desviou as águas dos dois rios para irrigar as grandes áreas para plantação. Esta iniciativa provocou drasticamente, num ritmo crescente, a diminuição do volume de água do mar de Aral, que se tornou um pesadelo ecológico e ambiental, para mais de 35 milhões de pessoas.
A medida que o mar de Aral vai encolhendo, vastas áreas do seu leito, ficam expostas. O material em exposição contem grande quantidade de cloreto e sulfato de sódio, elementos nocivos para as plantações. Além disso, o vento que sopra essas terras, levanta o sal e a poeira que são carregadas para toda região do Aral, causando imensos prejuízos à safra de algodão e à vegetação nativa restante. A seca e a poeira salgada tem sido a causa de inúmeras doenças, incluindo o câncer de garganta. A água potável tornou-se tão contaminada que muitas pessoas sofrem de distúrbios intestinais.
Estes exemplos demonstram que a extinção de comunidades, animais e vegetais, bem como o desaparecimento de rios, desertificação, mudanças climáticas oriundas de desmatamentos, chuvas ácidas, desabamento de casas construídas sobre lixões, contaminação por lixo tóxico, vazamentos de óleos etc, são fenômenos que o homem pode causar e que o afeta diretamente. Entretanto, se ampliarmos o horizonte para além do tempo histórico ou para além do tempo de aparecimento do gênero “Homo”, constataremos que estes fenômenos são insignificantes para afetar  a existência do planeta Terra. Porque a Terra, não necessita do homem para continuar existindo, pode ser ferida aqui, ou ali, dentro do conceito humano. Porém, no parâmetro do tempo geológico, sempre arranjará meios de se recompor, recriar novas paisagens, até quem sabe, melhores para seu equilíbrio planetário.
O ser humano deveria descer do seu pedestal de onipotência e achar que é capaz de salvar o planeta.
Esta é uma visão ridícula, que só interessa aqueles que querem ridicularizar as massas para que estas permaneçam na escuridão da ignorância. E assim, aceitem passivamente, ensinamentos medíocres, covardes, com roupagem farisaica e economicista.
A Terra é um planeta dinâmico, cujas forças vão muitíssimo além da capacidade humana. Com a idade de 4 bilhões e 600 milhões de anos, a Terra é um planeta em constante mutação. Essas mudanças evolvem tamanho, formato, inversão da polaridade magnética, distribuição geográfica dos continentes e das bacias oceânicas, formação de cadeias rochosas, geleiras, maremotos, etc.
A composição da atmosfera e as formas de vida que hoje existem, diferem daquelas do passado. Podemos visualizar os desgastes das montanhas pela erosão de geleiras, das águas, dos ventos, etc. Da mesma maneira que observamos como se formaram cânions, desertos, e outras paisagens ao longo do tempo.  Erupções vulcânicas, terremotos, deslocamento de placas tectônicas só demonstram o interior ativo do planeta e rochas fraturadas e dobradas revelam o enorme poder das forças internas da Terra.
Portanto, vulcões, terremotos deslocamentos e acomodações de placas tectônicas, fenômenos como El Niño e La Niña, orogenismo, subsidência,  glaciação, até o efeito estufa,  dentro de um tempo pretérito, etc, não são fenômenos decorrentes das atividades humanas na biosfera. Estes fenômenos sempre existiram no planeta, muito antes do homem evoluir de um ramo especial de primatas e criar as tecnologias que impulsionam o mundo moderno.
As forças que hoje atuam na Terra são as mesmas que sempre atuaram desde as origens do planeta.
Certamente as condições do futuro serão diferentes das atuais.
Se o modelo de vida atual continuar sem revoluções significativas, não teremos certeza se os seres humanos continuarão evoluindo. Da mesma forma, caso haja esta possibilidade, paira dúvidas, sobre quais parcelas da humanidade alcançariam um futuro distante e como seriam as formas dos nossos descendentes. O que não paira dúvidas é que por mais de 4 bilhões de anos, várias transformações aconteceram na Terra. Vulcões e terremotos ocorreram e deverão prosseguir ainda por muitos milhões de anos.
A ciência tem conhecimento suficiente para afirmar que os elementos radioativos existentes no interior da Terra e que representam importantes fontes de calor, um dia, num futuro, irão desaparecer. Desse modo, a energia geotérmica que movimenta o interior da Terra irá extinguir-se. Como conseqüência, o campo magnético do planeta deixará de existir, expondo a Terra à ação dos ventos solares, com suas radiações mortíferas, e que podem nos alcançar com velocidades de 900 km por segundo, varrendo do planeta toda forma de vida conhecida.
Com o término do campo magnético, associado às atividades de vulcanismo e ao aumento do calor oriundo do sol, a água da Terra irá evaporar, originando um planeta deserto. Se estendermos nosso horizonte para um futuro mais longínquo, 5 bilhões de anos, como estimam os astrônomos, poderemos entender que o Sol transformar-se-á numa estrela gigante avermelhada que engolirá a Terra e o próprio Sistema Solar desaparecerá.
O que se pretende demonstrar com esses exemplos é que nós humanos deveríamos compreender que muitos desastres naturais, estão muito além do nosso alcance.
É comum imaginarmos que a extinção dos dinossauros, há 70 milhões de anos, foi uma imensa tragédia.  Na realidade foi uma tragédia. Entretanto, se comparada às tragédias ocorridas no final do Paleozóico, se torna um evento pequeno. No final do Paleozóico há 250 milhões de anos, as catástrofes levaram à extinção mais de 90% da vida até então existentes no planeta.
Lembramos com freqüência da última glaciação, que iniciou há 2 milhões de anos, e que teve seu ultimo avanço situado há 11 mil anos. Este fenômeno redesenhou a face moderna do planeta Terra. Todavia, inúmeros fenômenos glaciais já aconteceram no planeta ao longo de sua turbulenta história.
O ser humano deveria parar de mentir para si mesmo. Isto faria um bem para toda humanidade. 
Porque é tão difícil admitirmos a evolução? Será que admitir que somos produtos da evolução nos obriga a confrontar vários fatores que preferiríamos ignorar?
Paisagens complexas compostas de flora e fauna tão improváveis hoje em dia, já apareceram e desapareceram da Terra. O homem é apenas um elemento na história do planeta, o qual se desenvolveu muito bem sem sua presença, por centenas de milhões de anos.
Se nós humanos perdermos a flexibilidade para adaptarmos, também seremos extintos. Neste caso outras espécies tomarão nosso lugar. Preencherão nossos nichos e seguirão com o processo evolutivo.
Por fim, é preciso termos consciência que nossas habilidades para controlar o curso dos eventos humanos é uma ilusão. A confiança é adaptativa e muitas práticas culturais têm como uma de suas funções a manutenção da confiança.
Os mitos dizem que fomos criados para dominar a Terra, os rituais reforçam esta idéia, porém a confiança como outros atributos pode também chegar a ser uma má adaptação. Isto parece ser o caso da nossa confiança no crescimento explosivo da população humana. Confiamos que problemas como modificação substancial da atmosfera; que a redução significativa da biota natural, que a exploração desenfreada dos recursos não renováveis; que a injeção massiva de materiais tóxicos no ar, no solo, no mar; que o desmatamento descabido para expandir as fronteiras econômicas; que a transposição de rios frágeis; que o represamento inescrupuloso das águas correntes, etc, confiamos que tudo isso, traz ambientalmente problemas simples, que podem ser resolvidos bem e quando quisermos.
Se esta ideologia continuar guiando os políticos que pensam no efêmero e iluminar os apóstolos de religiões que manobram com ar de onipotência, em nome de Deus, grandes massas populacionais para construção de impérios dourados, a ignorância, filha desse processo, será responsável por conduzir cada vez mais o povo para os subterrâneos da incompetência, podando-lhe a consciência e a criatividade.
Aí então, será apenas uma questão de tempo para ouvirmos o último relinchar das zebras, primas da Quagga, que às duras penas, ainda sobrevivem nas savanas africanas. 


(*) Altair Sales Barbosa é uma das mentes mais brilhantes que tive o prazer de conhecer. Dividimos espaço no curso de Geografia da UCG (hoje, PUC de Goiás) e aprendei muito com ele. É meu ídolo!

domingo, junho 20, 2010

Uma crônica de Leda(ê) Selma


A COPA DO SONHO, ISTO É, DO SOM



Lêda Selma (*)



Não fui convocada, desta vez, para fazer a “cobertura” dos jogos do Brasil. Após três copas (a última, aquela do vexame não só ronaldiano), minha carreira de “cronista esportiva” não deslanchou. Foi tão próspera como a Seleção Brasileira de 2006. “Poeta da crônica esportiva”, então, só em minha fantasia. Mesmo assim, resolvi abordar o assunto. E por que não?! Sou amante do futebol, torcedora passional, portanto... Tudo bem, só entendo, cá pra nós, a parte poética que envolve o apaixonante esporte. Não é o bastante?

A Copa do mundo é a África do Sul, também, a capital do mundo, pelo menos, até 11 de julho. Todos os olhares e falares direcionam-se para lá, o país da jabulani e da vuvuzela. Deus me livre!, que coisa mais estridente e enfadonha, nenhum ouvido merece! Realmente, um acinte auditivo! Cultura africana...?! Tudo bem, desde que não fira certos princípios de urbanidade. Não é básico que os donos da casa devem, sempre, pensar no bem-estar de seus hóspedes? E as outras expressões culturais representativas, por certo, mais agradáveis e apreciáveis? Como alguém pode sentir-se bem-vindo a um lugar onde o desconforto e a irritabilidade estão à flor do estresse? Perde-se até o prazer de assistir aos jogos nos belos e modernos estádios sul-africanos. E fica a pergunta: tapar os ouvidos para que o som não lhes agrida os tímpanos é uma manifestação de agrado?

E a tal jabulani? Parece, ganhou mais asas que suas antecessoras. Asas turbinadas que lhe dão a velocidade de um falcão-peregrino. Ah! também ganhou patas! Feito um guepardo, a gordota, em trajes estampados, corre desembestada, deixando atônitos seus súditos. E eles, para domá-la, fazem de tudo: beijam a amada, acarinham-lhe o corpo, aconchegam-na em seus braços até que, impacientes, chutam a pobre como se quisessem se livrar dela. Então, seus olhos e mãos estendem-se aos céus, em súplicas. E, como a vuvuzela já deve também ter atazanado os ouvidos divinos, coitado do Pai, com tanto incômodo!

O menor número de gols da história das copas está na de 2010, pelo menos, na primeira rodada, apontam as estatísticas. Que ridiqueza de gols, credo! Uma Copa desalmada, afinal, o gol é a alma do futebol! Será por causa da vuvuzela e da jabulani? Alguns culpam também a baixa grama dos bonitos estádios, e desconfiam que ela se mancomunou com a bola, tornando-a mais veloz a qualquer contato com seu verdume. É, mas Alemanha, Argentina e Uruguai não lhes deram trela.

Com tantos “vilões” em ação, o Brasil estreou. No primeiro tempo,  desentendida e confusa, perguntei: os jogadores estão brincando de estátua?! E meu grito não se fez de rogado: ei, Kaká, o passe é para seu companheiro, acorda, bonitinho! Bonitinho... Hum, heurequei: no futebol, beleza não é fundamental, então, cadê o Grafite, ó Zangado, isto é, Dunga?!

O segundo tempo, um pouco melhor, e, apesar dos muitos erros de passe, de lançamento, de chutes, goooooool! Só dois?! Santo Deus, é pouco! Não me importa se de trivela, de canela, de bico, de letra, de placa, quero gols! Antes que meu pedido chegasse a seu destino, a Coreia corou a desatenta defesa brasileira: gol! Socorro! Espere aí: estou reclamando de quê?! O Brasil não ganhou os três pontos, não é líder do seu grupo? Que venha a Costa do Marfim, de preferência, sem costas largas!

Uma Copa de surpresas, sem dúvida. A começar pela ausência da Zebra, reparei, em alto som. Ih! o anjinho caduco, aquele que só diz amém, amém, amém... ouviu-me (juro, foi sem querer!). Azar da Espanha, que recebeu a maldita visita listrada. Mais uma vez, com panca de favorita, a seleção espanhola não deu o seu “olé!”. Ao contrário, tomou uma limonada suíça daquelas! E a Zebra soltou-se de vez, já na segunda rodada: deu à França, dose cavalar de tequila. Quem mandou a espertinha arrombar a porta dos fundos e assaltar a Irlanda?! Alemanha, serva da Sérvia, quem diria?! Mas, vaiada mesmo, só a da Inglaterra, que saiu no lombo da desmancha-prazeres.

Até agora, não vi poesia nos pés ou na cabeça dos jogadores. Ou melhor, Robinho fez uns versos. Maicon e Elano, os gols. E eu, esta crônica que, prevejo, incitará os entendidos a resmungarem: ela não entende nada de futebol! E eu, ó, nem tchum pra eles!



Lêda Selma (*) é escritora, membro da Academia Goiana de Letras.

sábado, junho 19, 2010

Bate que é mestre!

Ilusração do DM em 20/06/2010


Bate que é mestre!








Que dias, hem? A coluna de mercúrio mostra graus mais baixos, há pessoas ostentando um odor de naftalina pelas ruas, há peles e mucosas ressecadas porque o higrômetro acusa percentuais muito baixos de umidade no ar. Velhos e crianças com problemas respiratórios, enquanto a campanha eleitoral ganha ares mais baixos que as temperaturas e os índices de vapor d’água na atmosfera.


Denúncias, dossiês e falas antipáticas. Noticiários ocupados com notas das fofocas de campanha e da indispensável revelação de obras perfeitas pelos governos em geral, enquanto o povão se espreme em ônibus e filas e a vida de cachorro tornar-se aristocrática e nobre: invejável!

A Copa do Mundo chegou para aliviar a pressão dos torcedores sobre os times goianienses: o Goiás Esporte  mostrou reação positiva, o Atlético Goianiense continua perdido e o Vila Nova... Ah! Este parece disposto a sepultar um passado de glórias e dividir com o Goiânia Esporte Clube as divisões inferiores do campeonato goiano.


Leio que Andréa Teixeira, musicista de primeira linha, viaja à Itália e certamente repetirá os feitos de sempre, fazendo bonito para europeu ver e ouvir, mas apenas o seu círculo de amizades sabe disso: a mídia local não tem tempo nem espaço para artista da terra, prefere a gravidez de Galisteu ou as câimbras de algum astro do futebol internacional.


Haja vista o desinteresse dos meios de comunicação para com o Goiânia Canto de Ouro, que é, sem dúvida, um dos maiores ou o maior festival de MPB do país. Deixo uma sugestão ao amigo Valterli Guedes: a Associação Goiana de Imprensa pode, muito bem, instituir prêmios, ainda que simbólicos, com diplomas, troféus e medalhas, para os artistas locais que se destacam, ano a ano. Minha intuição diz que o Carlos Brandão e o fluminense-goiano Luiz Chafim seriam dos primeiros a receber a honraria.

Enquanto nada disso acontece, esbarramos em pessoas de valor sem lhes reconhecer os méritos. Como daquele vez em que um vigia deu uma bronca no dono de respeitável cabeleira branca, escriba de nome e respeito por sua obra, só porque o homem acendeu um cigarro sem se dar conta de que havia, naquela varanda, um adesivo (tímido, é bom que eu diga) indicando “proibido fumar”. No mesmo tom com que o vigilante admoestou o poeta, chamei-o às falas, recomendando um modo educado de se dirigir às pessoas (ou seja, fui tão grosso quanto o guarda, destoando do meu saudoso amigo).


Recordo tudo isso para registrar minha tristeza pela repressão da Polícia Militar aos  professores de Aparecida de Goiânia. As cenas foram revoltantes... O professorado, correndo atrás de salários menos humilhantes, valiam-se da presença do governador Alcides Rodrigues (com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão). Um contingente da PM, em número bastante para prover a segurança das autoridades, partiu para cima dos mestres e foi preciso uma cobertura física, literalmente falando, do deputado Mauro Rubem para que o Professor Antônio tivesse a integridade física poupada (um oficial insistia em algemar o professor, nivelando-o aos bandidos do tráfico que assolam Aparecida).




Não vou esticar mais. Apenas repetir o que já dizia Aristóteles: “Educai as crianças e não será preciso punir os homens”. Era o pensamento que prenunciava escolas em lugar de prisões. Num telejornal matutino, vejo o colega pregar a prisão sistemática e irreversível de todo suspeito, mas nunca o ouvi falar em abrir ou melhorar escolas, sem valorizar e dar condições dignas de trabalho e estudo para professores e estudantes.



Bem: José Ramos Temporão foi aluno do Colégio Pedro II (certamente, uns vinte anos depois de mim, na mesma Unidade Tijuca). Imagino que ele tenha os professores em conceito elevado, porque isso nos era passado ao meu tempo e pude ver, nos últimos anos, que continua assim no CPII. Feio ficou para a PM, que mobilizou algumas dezenas de policiais para conter um professor cujo propósito era reivindicar melhores salários.



 
L.deA, entre professoras e alunos do Liceu, maio de 2010

Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com 

sexta-feira, junho 11, 2010

Pérsio Forzani, o de Pirenópolis

Pérsio, o de Pirenópolis






Imagino que quase todos os jornalistas tiveram, ao escolher o ofício, o mesmo estímulo que eu: a curiosidade ante o fato e o desejo de contá-lo. Mas isso, feito sem a o efeito da boa escrita, é coisa de fofoqueiros. A diferença está justamente no amor ao texto.
Desculpem-me os leitores por essas costumeiras divagações quando me ponho a escrever. Produzir uma crônica é um dos meus grandes prazeres e não posso simplesmente imaginar que um gol é apenas um pênalti, sempre o concebo como uma articulação demorada, ziguezague que começa lá na área de defesa, evolui-se no meio do campo e se conclui na área adversária, no excitante desafio a zagueiros e goleiro, no balé de corpos e pernas, no malabarismo improvisado em frações de segundo para ver balançar a rede e erguer-se a torcida... (Poxa! Até para pedir desculpas eu divago; tudo bem, a culpa é da Copa do Mundo!).


O que me motiva, hoje, é Pérsio Forzani, artista plástico com documentos que nos mostram um homem de 79 anos. Na sexta-feira, dia 4 deste junho de 2010,  Pérsio foi homenageado em Pirenópolis, sua cidade de nascer e viver sempre. Não se tratou, porém, de uma festa antecipada das oito décadas, mas dos setenta anos em que Pérsio se dedica à arte de desenhar e pintar. Luiz Antônio Godinho, ao telefone, passa-me um recado:
– Você também está escalado para saudar Pérsio...

Quem exigia? José Nominato Veiga, idealizador da festa que envolveu desde este poetinha até o prefeito Nivaldo Melo, passando por pessoas de destaque na cidade, como o artista Elder Rocha Lima e o desembargador Joaquim Henrique de Sá.



Pois é! Pérsio, de tanta vivência, tem no olhar um brilho instigante: é a luz da juventude. As pernas, imobilizadas e contidas pela pólio na tenra infância, não o impediram de jogar futebol quando menino, como contaram o ex-prefeito Altamir Mendonça e o vice-prefeito Tassiano Brandão. Falou-se lá em outros números: são mais de três mil telas espalhadas pelo mundo, a maior parte mostrando Pirenópolis. Num só projeto, há cerca de vinte anos, Pérsio reproduziu quatrocentas casas históricas da cidade. A encomenda foi do saudoso professor José Sizenando Jaime para sua obra em dois volumes sobre as vetustas construções da antiga Meia-Ponte do Rosário.


E eu, movido pela emoção ao ser convocado, juntei camisa, calça e outras peças numa maleta, convidei a cantora Regina Jardim a acompanhar-me à terra de seu tataravô Veiga Vale e, antes de sair, concebi um poema em homenagem ao amigo e ídolo, assim: 






Pérsio Forzani (o homem que pinta poesia)


Espalho-me ao tempo 
ao sol que define os dias, 
à Lua que benze as noites.


Nos anos mais verdes, 
colhi serenatas plantadas nas ruas
de pedras, sem régua ou compasso.


Ouvi versos cantantes 
e acordes dolentes; vi moças bonitas
nas janelas, silentes...


Era um tempo de estrelas 
e risos sem censura. A gente vivia
vertigens, e era feliz.


Sol, luar, orvalho! 
No verde, mais luz; mais vida
sob os astros.


Meus olhos desenham os morros, 
perfis sob azul infinito, moldados 
aos traços das línguas dos rios.


A ponte, o amor clandestino. 
Carmo, Bonfim, Matriz do Rosário, 
Lembranças de eu-menino...


Meus olhos colheram paisagens, 
Memória transforma em saudade, 
Pincel faz arte e riqueza.


Terra e gente meia-pontense:
Hino e presépio, história em imagem:
Obras de Pérsio, jóias da terra.

* * *






Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras, escreve aos domingos neste espaço. Blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.

















terça-feira, junho 08, 2010

O fazedor de potes que virou artista



Antônio Poteiro (1925-2010)





A vida levou de nós, na madrugada de hoje, o primitivista, ou naif, ou "o fazedor de potes", como ele se dizia, bem humorado. Antônio Poteiro nasceu em Portugal, mas era brasileiríssimo, goianíssimo, irreverente e feliz ao seu modo, irônico e imprevisível. Sua ausência deixa em nós um vazio, e a culpa é dele, que tão bem preencheu nossos olhos de imagens e cores, em cerâmica e em tintas. Enquanto viveu, ele enriqueceu Goiás e o Brasil, levou nossos nomes a terras distantes. Agora, enfeita a galeria de Deus.

A ele e aos que lhe são caros, o meu afeto.


Luiz de Aquino






Dados:
Antônio Batista de Sousa, 84 anos, conhecido como Antônio Poteiro, morreu na madrugada desta 
terça-feira, 8. Ele foi vítima de parada cardiorespiratória. Escultor, pintor e ceramista nascido em
Portugal e radicado no Brasil. É considerado um 

dos mestres da pintura primitiva no Brasil. O velório 
acontece a partir das 10h no Cemitério Jardim das Palmeiras. 


Poteiro deixa três filhos.
Iniciou-se na vida artística como artesão, produzindo cerâmicas para o uso doméstico, máscaras
e bonecos, de onde adveio o "Poteiro" de seu nome artístico.

Incentivado por Siron Franco e Cléber Gouvea, começou a pintar em 1972. Em 1976, participou
do documentário Artistas de Goiás, produzido pela Goiastur. Em 1978 lecionou cerâmica no
Centro de Atividades do Sesc, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, lecionou cerâmica nas Feiras
Internacionais de Hannover e Düsseldorf.

Em 1983 foi produzido o documentário Antônio Poteiro: o Profeta do barro e das cores, dirigido
por Antônio Eustáquio. Em 1985 recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte
(APCA 1984) na categoria escultura.

Em 1987 recebeu a Comenda Ofiacialato da Ordem do Mérito, concedida por Portugal. Um novo
documentário sobre o artista foi produzido por Ronaldo Duque em 1991.

Em 1999 recebeu a Medalha Henning Gustav Ritter, do Conselho Estadual de Cultura de Goiás. 


(Fonte: site do Diário da Manhã, Goiânia, hoje).

domingo, junho 06, 2010

Quitandas de Minas

O blog das quintandas




Amigos,


Rosaly Senra, autora do livro "Quitandas de Minas" gostou dos comentários postados sobre a rosa de abóbora ou moranga. E convida-os, com o meu aval, a visitarem seu blog, que tem o mesmo título:


http://quitandasdeminas.blogspot.com/




Visitem, pesquisem, testem, experimentem e agradem os amigos!


Luiz de Aquino

sábado, junho 05, 2010

Números do aborto


Educação, aborto e economia



Dados de uma pesquisa da Universidade de Brasília, a UnB, e do Instituto de Bioética, Direitos Humanos  e Gênero, o Anis, revelam números novos e surpreendentes sobre a prática de aborto no Brasil. Claro, a pesquisa abrangeu também o aborto clandestino (se é que incluiu o aborto legal, nas condições preconizadas em lei).
Vamos ver: foram ouvidas duas mil e duas mulheres, entre 18 e 39 anos, todas alfabetizadas e 81% têm filhos. As pessoas ouvidas moram em capitais brasileiras e ficou claro, dentre outras coisas, que o Nordeste é líder na prática; no Sul, registra-se índice menor. Revelação: o aborto é praticado por mulheres de idades mais elevadas, embora se acreditasse que o hábito era dominante entre as mais jovens.  Outra surpresa é que não são as mulheres sozinhas as que mais abortam: 60% têm companheiros.
Dado impactante: entre cada 100 brasileiras, pelo menos 15 já fizeram aborto, na média. E o percentual passa para 20% na faixa entre 35 e 39 anos. Revelou ainda, a pesquisa, que 48% das mulheres consultadas usaram remédios para interromper a gravidez e, destas, 55% precisaram ser internadas em seguida.
Números de pesquisas são sempre interessantes. Não consigo entender a razão de se estabelecer um número “quebrado”, como 2.002. E isso não é “cabalístico” (aleatório), mas eleito dentre de critérios técnicos, disse-me um profissional de pesquisas. A revelação desses números desperta o imaginário quando acompanhada de informações sobre a escolaridade (quanto maior a escolaridade, menor a incidência da prática) e a faixa econômica (não localizei o percentual na mídia escrita, mas ouvi no rádio que a incidência diminui também quanto mais elevado seja o nível de instrução).
Uma profissional nitidamente simpatizante da liberação argumenta com trunfos de economista: melhor seria o Estado liberar e mesmo patrocinar o procedimento, em lugar de gastar recursos dos fundos de saúde, pois, no geral, todo aborto implica uma internação posterior. Outro argumento: “São cinco milhões de mulheres”, informou, como dado complementar, a profissional que detalhava a pesquisa, analisando-a. “Sendo o aborto um crime, segundo a Lei, o Brasil não dispõe de cadeia para tanta gente”. Em suma: se o Estado tem que gastar com quem pratica o aborto e também com presídios – desde a construção até a assistência total aos presos -, melhor mesmo é liberar, disse ela. Estranhamente, não a ouvi valer-se do referencial de que a escolaridade maior implica menor incidência de aborto.
Óbvio: mulher esclarecida sabe proteger-se. E proteger-se implica também evitar doenças transmitidas pelo sexo. Para mim, se a escolaridade significa menos abortos, vamos investir em educação e orientação sexual, tanto nas escolas como em família e na mídia (campanhas educativas e esclarecedoras).
Tem mais: os analistas não trouxeram aos veículos de imprensa uma apreciação que me pareceu muito importante: o fato de a maioria das que já interromperam intencionalmente a gravidez sejam mulheres casadas. Entendi que os motivos mais imediatos são as dificuldades materiais e financeiras, mas também não se pode ignorar que o emocional tenha uma influência direta: casais em desajustes (a mulher prefere estancar o tamanho da família) e ainda a tal de infidelidade (não concordo com essa definição, mas é a corriqueira): se o bebê não se parecer com o companheiro de convívio, um drama se anuncia no horizonte.
Diante disso, ocorre-me o que dizem inúmeras mulheres ante a ocorrência de gravidez em condições não previstas. Segundo elas, isso é muito raro, porque cabe à mulher prevenir. No geral, a mulher sabe de seus períodos e as que não os tem bem definidos aprendem a organizar-se, prevenir-se. Claro, a gente sabe, existem moças liberadas por aí que fazem do aborto uma prática de sobrevivência.  Por outro lado, o parceiro precisa, ele próprio, conversar com a parceira sobre os riscos imediatos. Nos casos de relações sem compromissos maiores, é importante ater-se às doenças sexualmente transmissíveis e é importantíssimo, também, que se fale sobre uma possível gravidez.
Ou o sujeito é menos sensível, como pai, que um cão de rua.




Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras.