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sábado, fevereiro 19, 2011

Limpando as fardas

Limpando as fardas


Nós, jornalistas, como trabalhadores da comunicação vemo-nos, muitas vezes, na iminência de  invadir privacidades; é preciso discernimento. E muitas vezes arriscamo-nos a erros de apreciação e a causar danos. Então, esbarramos na ética, o que é muito ruim. Ou na lei, o que é ruim, também. E a têmpera dos valores morais conduzem-nos a sempre consultar a ética, o que acaba, muitas vezes, percorrendo a linha do subjetivo.


Sempre tomei, nestes quarenta e poucos anos de prática jornalística, cuidados no sentido de conversar muito com os colegas. Especialmente com os mais antigos, no sentido de aprender e apreender conceitos e valores. E jamais me neguei a ouvir e responder quando procurado pelos mais jovens. Os efeitos são excelentes! Tanto se ensina quanto se aprende, porque nenhuma geração domina verdades.

Houve um tempo em que a palavra “corporativismo” tornou-se freqüente nas páginas escritas e nos blocos noticiosos da mídia eletrônica. E, como acontece quase sempre, com um sentido pejorativo. Não entrei na onda, pois sempre me entendi corporativista sem adotar o protecionismo cego e burro dos membros da “minha” comunidade sem um juízo de valor. Acreditei, sempre, que uma fruta podre apodrece o cento, por isso entendo que corporativismo implica, sempre, na depuração do grupo.


Mj. Araújo, deputado
Acho que foi isso que quis dizer o deputado Major Araújo, que espera os resultados das investigações e, caso se confirmem, as punições sejam exemplares. O que salva a corporação é o expurgo dos que lhe são nocivos, óbvio! É este, para mim, o objetivo principal do corporativismo: manter a corporação limpa e apta e cumprir seu papel ante a sociedade. O contrário é a definição que atemoriza a sociedade – o corporativismo deletério, aquele que defende o “irmão de farda” ante qualquer circunstância. Espero que a Policia Militar de Goiás esteja mobilizada no conceito que defendo, depurando-se dos que a sociedade tem por indesejáveis.

E falamos, sob as investigações dessa Operação Sexto Mandamento da Polícia Federal, de uma corporação que conta mais de 150 anos de existência. O que entendi da fala do deputado Major Araújo foi isso, mas preocupa-me a postura das entidades que representam os policiais militares, sobretudo quando reagem ao fato de os militares presos serem conduzidos a uma prisão federal, em lugar de serem acolhidos (a palavra é esta, se as associações forem atendidas) nos quartéis. Este é o corporativismo que me preocupa, o da proteção em lugar da punição.




Curiosamente, duas operações da Polícia Federal atingiram corporações policias, esta semana: a Operação Guilhotina prendeu 37 (sim: trinta e sete) policiais civis no Rio, incluindo-se aí o subchefe da Polícia Civil; e a Operação Sexto Mandamento, atingiu de imediato dezenove policiais militares, tendo como estrela maior o subcomandante Geral da PM.



Desde a segunda-feira, tenho em mira escrever algo para situar os abusos cometidos por alguns agentes de trânsito de Goiânia. A corporação é nova e tem poucos membros: pouco mais de duzentos, quando a própria lei pede, para a cidade, aproximadamente um mil agentes. Mas esse pequeno grupo já dá mostras de desvios, com agentes cometendo atos de arbítrio, causando elogios aos soldados da PM, mais hábeis no trato com o público – esta habilidade, sim, é o que a sociedade espera dos agentes públicos, e não  a truculência dos que tentam impor-se pelo grito ou, quando armados, pelas balas.


Cabe ao prefeito, aos vereadores e aos executivos da área promover ações que resultem na depuração dos quadros da AMT, em lugar de permitir que cresça com os vícios que macularam as forças de repressão nas décadas de chumbo e sangue. A sanha autoritária emite multas a bel-prazer e o contato entre o funcionário e o cidadão resulta em humilhações para o pagador de impostos. Os agentes valem-se do acesso a dados cartoriais, a partir da placa dos veículos, e alguns abusam desse privilégio – exemplo maior fica com o jornalista Rosenwal Ferreira, a quem alguns agentes (certamente, são aqueles ligados ao corporativismo negativo) ameaçaram via de mensagens por e-mail e telefone. Entendem eles que o articulista, tanto quanto eu e certamente outros colegas da imprensa, semeia ódio aos agentes entre a população, quando essa culpa é justamente dos maus funcionários da AMT. E, como disse Rosenwal, há, sim, uma maioria de bons e corretos profissionais naquela corporação; o que se deve fazer é melhorar a qualidade de toda a instituição.

A eles, policiais civis e militares, bem como bombeiros e agentes de saúde, de trânsito, de fiscalização etc., cabe agir no sentido de preservar a ordem social, seja assegurando o direito de ir e vir, o de não ser molestado em sua individualidade etc. etc., e a nós, os da imprensa, cabe noticiar os fatos. E as notícias, infelizmente, têm o gosto amargo dos erros. Triste é noticiarmos que algum agente, de qualquer segmento do serviço público, merece ser notícia  porque cumpre o seu dever; é sinal de que o todo está podre.


* * *







Luiz de Aquino – poetaluizdeaquino@gmail.com

2 comentários:

Mara Narciso disse...

Nas primeiras aulas de iniciação ao jornalismo a professora disse: "um cão morder uma pessoa não é notícia, mas uma pessoa morder um cão, é". Vejo aqui o mesmo princípio: alguém da corporação ser notícia por que está cumprindo o seu dever. É injustificável. No todo, a ideia de purificar a corporação expurgando os ruins é o que a maioria deseja.
Destaco: "Tanto se ensina quanto se aprende, porque nenhuma geração domina verdades." Foi o clímax do texto e da sua boa vontade. Todos têm o que ensinar e muito a aprender. E que os desviados leiam e cumpram o que você sugere, Luiz.

Mônica Aquino disse...

Oi primo..gostei das sua falas sobre a ética no blog...E
quanto aos agentes de trânsito é que geralmente funcionário público não
entende o real significado da palavra SERVIDOR PÚBLICO.Eles se "adonam"
da função/cargo como se eles sim é que nos prestassem um favor.
Mas ainda bem que em todo cesto há frutas que não se contaminam...rsrs