Mensagem a dois amigos(*)
(*) São eles:
1)Ivair Lima, psicólogo e jornalista, repórter refinado e redator primoroso. Contista
lidimo e poeta sensível e responsável. Passa de hora de lhe reconhecermos
os méritos de lhe enfeitarmos os dias com as glórias em vida.
2) Ulisses Aesse é editor do DM, mas conheci-o poeta, estudante de História (antes do
Jornalismo) e revela-se cronista de escol, colunista amplo,
merecedor de honras medalhas.
Ulisses, amigo meu de décadas e parceria, companheiro de prosa e verso desde os tempos em que a salinha do quarto andar do Edifício Vila Boa, sede da pomposa União Brasileira de Escritores, era acolhedora e aconchegante! Queria, e quero, que você descubra a alegria que me invade nos encontros com os que sabem pensar e dizer! Como os poucos minutos na manhã de quinta-feira, a Redação vazia porque os repórteres, em geral, estão nas ruas…
Remonta aos anos finais da década de 1960 o meu conceito sobre a dinâmica das relações humanas! Tudo com base na premissa aristotélica – O homem é um animal social. Ao evocar máximas dos antigos filósofos, buscamos aprender com a partida estabelecida por Sócrates em “só sei que nada sei”, ou ninguém buscaria aprender. E o Lima, meu caro Ulisses, poeta e psicólogo, e por isso melhor repórter, é um apanhado de bem ensinar, ele que se veste de humildade e se disfarça de silêncio que, com o tempo, aprendi a remover. Por isso esta alegria em mim, esse bem-estar por conversar, por ouvir e dizer porque só me resta aprender. E aprender mais.
Neste encontro matinal, regozijei-me das surpresas ante as falas de cada um de nós. Ficou claro que alguns dias de ausência estimula a saudade e permite que mostremos novidades, ainda que estas sejam informes de há muito concebidos, mas aprimorados no fermentar dos anos, o que enseja o amadurecimento dos conceitos e o aprimoramento das analogias; é que as ideias, como os homens, não vivem sós. As ideias pedem associações e correlações, depuram-se nos encontros e embelezam-se com os acasalamentos. Como os seres bípedes da raça que diz racional.
Aconselha-me o Ulisses: discorra sobre “isso ou aquilo, em lugar de brigar com os outros”. Repreendo-o: não gosto das polêmicas, prefiro beijo na boca; mas entre o meu querer e o acontecer, sempre há um espúrio, seja ele um falso amigo, um escriba de meio alfabeto ou um colega de má catadura a fomentar suspeitas sobre mim, em lugar de mostrar-se a si próprio com qualidades indispensáveis ao seu perfil pessoal ou profissional. Com o tempo, meu caro Ulisses e meu querido Lima, aprendi que cresço a cada vez que um ex-amigo ou um declarado desafeto injuria-me ante outrem. Já não mais revido as pedradas, aprendi que elas não me atingem porque, feito bumerangue, voltam ao rosto de quem as lançou.
O tempo de tentar desfazer os perjúrios, gasto-o no refazer um verso, no retocar uma frase de prosa. Ou no enfeitar as falas nos encontros amorosos como este de hoje (quinta-feira, 3 de fevereiro, 2011). Prefiro muito, em lugar de revidar a maledicência, exaltar o prestígio que veste a escrita de Lima ante leitores famintos do bom contar ou de bem versejar. Como gosto de saber da qualidade de colecionar que faz de Ulisses o pesquisador meticuloso que ora quer relógios de bolso, antigos e de referência, ora pensa em comprar suspensórios e chapéus, e busca saber quem os faz melhores, que marcas os delineiam no tempo, quem os gosta ou gostou de usar – ou seja, busca a história de surgimento, criação e existência dos objetos.
Sabemos, os três, que não são somente o jornalismo, a narração em crônicas e contos nem mesmo os versos os fatores únicos a nos unir. Somos amantes da vida, em sua ampla dimensão, no convívio social e urbano, nas relações intercomunitárias, na troca permanente de informes orais e escritos. A rigor, somos amigos.
E assim, nossos encontros raros e rápidos acontecem e se renovam. Assim é que melhor nos conhecemos – e nos reconhecemos.
Nesse ponto, em meio aos devaneios, Luiz Antônio Fu Manchu, programador visual do DMRevista, olha-me como quem me repreende e recomenda: “Vá para casa e mande-me sua crônica de domingo; a página seis depende só disso...”.
* * *
5 comentários:
Lula,
para com essa rasgação de seda! tenho observado: quando um sujeito começa a receber elogios públicos é porque está com o pé na cova.
Abraços!
Pior acontece comigo... Desde setembro de 2009, ando recebendo títulos, comendas, troféus... O que você acha?
Olhaqui, Lima, eu rasgo seda procê, sim. Para nos xingar, existe essa humanidade inteira, cínica e hipócrita; mas falar bem de nós, só mesmo os nossos amigos. E eu não lhe faço favor algum, tudo o que eu escrevi aí é verdadeiro.
Meu caro Luiz, não poupe homenagens ao amigo que, você sabe, é maior que o reconhecimento. Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito produziram na década de 50 esta joia a propósito da necessidade da homenagem em vida:
"Sei que amanhã
Quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora"...
Ficou muito bacana, usando um termo fora de moda, a descrição do encontro com seus amigos. Valorizar o momento e depois por escrito quem queremos e nos quer bem, é uma prerrogativa dos escritores. Quanto aos seus cuidados e preocupação com os desafetos, ficou ácido o seu insulto aos "escribas de meia-colher", mas muito bem merecido o insulto. Ler a sua página hoje foi como deslizar num pista de dança, quando se sabe dançar: flutuei.
Luiz,muito boa a crônica,sobre um assunto bastante esgrimido,a
amizade e a inveja.Abs.-liberatocaboclo.
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