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domingo, julho 10, 2011

Jindungo no mutungo do gajo é sumo


Jindungo no mutungo
 do gajo é sumo (*)




Amanheço mais tarde que o sol. Afinal, não tenho compromissos com a aurora. Amo a madrugada, mas somente em sua primeira metade, pois que a segunda se reserva aos da lida dos campos, especialmente os da ordenha, ou dos trabalhadores padeiros, motoristas de transporte coletivo e de carga, pilotos de aviões conforme a escala de trabalho, os da saúde e tantos mais. Meu ofício de escriba induz-me, ultimamente, a um estar solitário e a alegria do convívio elejo-a em encontros marcados em grupos pequenos.

Em matéria antecipada sobre a Copa da Alemanha, fico sabendo que dentre os males do nazismo os alemães vivem, há sessenta anos, uma espécie de recalque: não se demonstram patriotas nem nacionalistas senão quando “os nacionais” entram em campo. “Os nacionais” é como eles lá se referem à sua seleção de futebol. Aí, pintam-se nas cores da bandeira, embora o uniforme dos “nacionais” seja branco; cantam o hino; gritam “Dóite! Dóite” (DeutschDeutsch!), ou seja, “Alemanha! Alemanha!”.

A diferença? A cor da pele, a língua e as cores das flâmulas tremulantes. Entre nós, o verde-e-amarelo brilha mais belo, mas “Brasil, Brasil!” soa tão emocionante quando “Dóite, Dóite!”. E, entre nós, as discussões infindáveis sobre as mazelas que nos chegam pelos canais de notícias implicam, sim, um patriotismo renascente. Graças a Deus!

E é aí que entra a Bolívia de Evo Morales. Evo... Será que a primeira-dama de lá se chama Adã, hem? Deve ser... Bem, Evo Morales é filho político híbrido (tomara!) de Lula com Chávez e, parece, afilhado de Fidel. Lula tenta uma reeleição e, nisso, segue mais uma vez o passo trocado de “Fernando II, o Henrique,” infelizmente. Aliás, Lula tenta reviver JK (coitados... de Lula porque jamais atingirá a condição do último estadista brasileiro; de JK, porque Lula pensa mesmo que o repete), mas consegue reproduzir o neoliberalismo que tanto condenou em seu antecessor, omite-se como Sarney diante de denúncias do óbvio e, ainda que não se tenha dado conta, faz-se clone do marechal Castelo Branco na questão da Varig: Castelo mandou fechar, arbitrariamente, a Panair do Brasil. Se depender do governo, fecha-se a Varig.

E lá vem o Evo... Culpamos Lula? Sim, pelo desfecho. Mas a cagada vem de FHC, que pôs aquele francês de nome impronunciável na presidência da Petrobrás (não estou errado, não; em respeito à língua portuguesa, evoco a primeira marca, que conheci criança e insisto no acento). Um investimento bilionário na Bolívia, sem garantias? Que história é essa? E não venha a esquerda descendente do muro de Berlim alegar “princípios ideológicos” para acatar o prejuízo, não. Alguns mal-formados dizem que há cinqüenta anos gritamos “o petróleo é nosso” e, por coerência, temos de entregar a rapadura aos bolivianos. Não, senhor! Nossos presentes à Bolívia já são o bastante: a presença da Petrobrás na Bolívia eleva substancialmente a qualidade de vida local; Lula já perdoou dívida deles; e, por fim, embora absolutamente ilegal, ponho o dedo na ferida e digo que nosso imenso território tem servido de escoamento para a cocaína produzida ali.

Então, tolerantes leitores meus, não tenho receio em dizer, mais uma vez, que sou patriota, sim. Sou nacionalista, sim. E não engulo passivamente esse golpe do marido da “Adã”. O populista da coca que se enrede no chá e no pó que lhe rende divisas escusas, mas que respeite a Petrobrás.

No mais, atentem para o título: notem que é uma frase de língua portuguesa, mas com palavras de linguagem angolana (não sei de que tribo, mas foi o Oto quem me ensinou), que se traduz, em bom “brasileiro”: pimenta no cu do outro é refresco.



* * *


(*) Crônica publicada em maio de 2006; integra meu livro "Ah, língua brasileira!", a sair brevemente. L.deA.
Ilustraçao: Equipe do DMRevista.

4 comentários:

OsLeCsEaRoM disse...

Saudações, meu poeta!
Vejo que nossas conversas facebookianas a respeito de regimes totalitários e arbitrariedades cometidas pelos maus governantes deu origem, pelo menos em parte, à sua mais recente crônica. Por sinal, muito boa e tremendamente lúcida. A frase-título, usá-la-ei sempre que se fizer necessário! Concordo com a sua posição quanto ao acento roubado à Petrobras (que, para mim, virou paroxítona agora).
Se puder e quiser, divulgue o meu http://abominabilehomodomini.blogspot.com/ , blog em que despejo algumas de minhas criações em prosa e verso, quando elas não cabem mais em mim.
Grande abraço, e tenha uma semana produtiva!

pires disse...

É isso aí poeta!! Fale, não engula nada! Abraço!

disse...

Adorei o título e adorei a postagem. Vejo que você é um excelente escritor e que não mede palavras para alcançar seu objetivo literário. Parabéns pela matéria. Um beijo da Lô.

Na janela disse...

Luiz,
Gosto de como evolui os seus textos que integram o livro "Ah, língua brasileira!" e que agora compartilha conosco no teu blog.
Digamos que a degustação foi muito aprazível, instigou-me a ficar atenta para o lançamento do livro. Avisa?
Um grande abraço e parabéns!
Marlene