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Vinícius de Morais (Foto:Internet) |
Vinícius de Morais, ano 100
No
dia 19 deste outubro de 1913, nasceu, no Rio de Janeiro, o poeta e compositor
Vinícius de Morais, uma das maiores e principais referências da bossa nova.
Bacharel em Direito, jamais
exerceu profissões do ramo; jornalista, crítico de cinema, diplomata,
poliglota, apaixonado por música e poesia, veio a ser, segundo o contemporâneo
Carlos Drummond de Andrade, o poeta brasileiro que efetivamente viveu como
poeta.
Em
1980, três meses antes de completar 67 anos, faleceu. Deixou, como sabemos,
vasta obra em poesia, prosa e música. Neste segmento, ele compôs sozinho, mas
notabilizou-se pela enorme variedade de parceiros, com ênfase para Tom Jobim,
Baden Powell e Toquinho. A tais parcerias duradouras, Vinícius se referia como
casamentos de arte.
E
se variou tanto nos casamentos musicais, o mesmo se deu quanto aos casamentos
como os definem os dicionários. Foram nove as mulheres com quem esteve casado –
pelas leis brasileiras da época, casou-se com a primeira; as demais foram
esposas de fé e paixão.
No
começo de sua carreira musical, precisava equilibrar-se entre o Ministério das
Relações Exteriores, simbolicamente chamado pelo nome do palácio da Avenida
Marechal Floriano, no centro da antiga capital da República, palácio esse que
sediou os dois primeiros governos da República – Itamarati. Num dado momento,
sei lá por qual razão exibicionista, alguém trocou o I final por Y. As
autoridades diplomáticas não viam com bons olhos um diplomata de carreira
subindo em palcos de bares e boates, cantando e contando piadas. Vinícius fazia
isso, sim. Até que o segundo dos ditadores de plantão do chamado regime militar
determinou, ao seu modo cavalar: “Demitam esse vagabundo”.
Essa
“demissão” se deu com um processo demorado e se deu de modo ajeitado – uma
aposentadoria proporcional. Quase 30 anos após a morte do poeta, o governo
federal redimiu-o nas hostes do Itamarati (insisto com a grafia original e
correta), atribuindo-lhe, post mortem,
o cargo de Embaixador.
Desde
quando ouvi, pela primeira vez, lá pelos meus dez anos de idade “Tristeza não
tem fim / felicidade, sim”, versos esses seguidos de uma série de conceitos
lindos para felicidade. Ouvi por sem-números de vezes as incontáveis canções
de Vinícius com seus parceiros e
também as que ele compôs sozinho. Li algumas biografias e muitas, muitas
referências – numa delas, descobri que a música que me encantara tinha duas
letras, mas só conheci essa, a mais famosa. Encantei-me, logo em seguida, de
uma canção muito alegre, feliz, chamada Rancho das Flores. No disco, estava
escrito que o parceiro do poeta, o compositor da música, era um tal Johann
Sebastian Bach, e que este dera outro nome à sua obra – Jesus Alegria dos Homens. Sentia-me muito feliz com
aquele recital de flores:
Olhem bem para a rosa
Não há mais formosa
É flor dos amantes
É rosa-mulher... – cantou ele.
Olhem bem para a rosa
Não há mais formosa
É flor dos amantes
É rosa-mulher... – cantou ele.
Quantos
casais, quantos amantes, quantas pessoas felizes – e infelizes, também – não se
deleitaram de seus versos. Tom Jobim dizia que ele era ubíquo, ou seja, capaz
de estar em vários lugares ao mesmo tempo; e Millor Fernandes ratificava,
indo um pouco além “Ele é plural, por isso se chama Vinícius de Morais; se
fosse um só, seria Vinício de Moral”. Por ou pelo outro, havemos de convir:
viveu tão intensamente que é complicado entendermos que em apenas 66 anos tenha
vivido tanto, produzido tanto, trabalhado tanto e se casado tanto. Chico
Buarque e Toquinho, homenageando-o, compuseram Samba pra Vinícius:
Poeta, poetinha vagabundo
Virado, viramundo,
Vira e mexe, paga e vê
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer
A vida é pra levar
Vinícius, velho, saravá.
Uma alusão debochada à pecha que a ele atribuiu o presidente que legou ao Brasil o famigerado AI-5.
Poeta, poetinha vagabundo
Virado, viramundo,
Vira e mexe, paga e vê
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer
A vida é pra levar
Vinícius, velho, saravá.
Uma alusão debochada à pecha que a ele atribuiu o presidente que legou ao Brasil o famigerado AI-5.
Poeta,
Poetinha? Ah, o Poetinha... O apelido teria sido coisa de um de seus amigos –
fala-se em Pedro Nava, em Antônio Maria e Tom Jobim como um dos possíveis
autores. O fato é que a coisa pegou. E, pouco antes de seu desenlace, um
jornalista quis saber a razão do diminutivo – Vinícius era, ele próprio o maior
usuário de diminutivos no Brasil – e o poeta, pilheriando, resumiu mais ou
menos assim: “Não sei, deve ter sido coisa de algum marido enciumado”.
Pois
é! É tempo de disparar o Centenário de Vinícius de Morais!
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